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Regina Duarte deixa secretaria após processo de 'fritura' e muda de cargo

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

20/05/2020 10h03Atualizada em 20/05/2020 12h21

A atriz Regina Duarte não é mais secretária especial da Cultura do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Um dia depois de almoçar com um dos nomes cotados para assumir o cargo, o ator Mário Frias, o presidente confirmou hoje o remanejamento da artista de 73 anos. Ela será designada para comandar a Cinemateca Brasileira, com sede em São Paulo.

Bolsonaro afirmou nesta manhã que Regina estava com saudade da família e que a mudança seria para o "bem" dela, em respeito ao "passado" da atriz —que encerrou um contrato de mais de 50 anos com a TV Globo para virar secretária— e "por tudo o que representa para todos nós".

Nos bastidores, no entanto, auxiliares dizem que ambos estavam insatisfeitos um com o outro e se dedicaram a encontrar uma saída honrosa para a artista. O desembarque de Regina do governo foi selado hoje em um café da manhã no Palácio da Alvorada.

Bolsonaro já havia reclamado publicamente que Regina não dava expediente em Brasília e observou que ela trabalhava de São Paulo, pela internet, o que prejudicava a gestão da pasta. A ausência da atriz abriria espaço, de acordo com o presidente, a conflitos ideológicos dentro da secretaria —tema caro ao mandatário.

"Tem muita gente de esquerda [na secretaria de Cultura] pregando ideologia de gênero, essas coisas todas que a sociedade, a massa da população não admite. E ela tem dificuldade nesse sentido", afirmou ele em 28 de abril.

Regina, por sua vez, se via como um alvo do núcleo olavista atuante em larga escala dentro do Executivo. O grupo, formado por seguidores do ideólogo de direita e guru bolsonarista Olavo de Carvalho, exerceu pressão interna e também nas redes sociais para que a atriz fosse destituída do cargo.

Na esteira desse processo de fritura, Bolsonaro decidiu reconduzir ao comando da Funarte o maestro Dante Mantovani, que havia sido demitido por Regina dois meses antes.

Esvaziada, a artista pediu para conversar com o presidente e expôs a sua insatisfação. Ela esperava ter carta branca —algo que foi prometido pelo presidente— para poder nomear os subordinados. Desde então, e também motivada pela vontade de trabalhar em São Paulo, começou a vislumbrar a sua saída da secretaria.

Cinemateca

Bolsonaro disse hoje que a transferência para a Cinemateca Brasileira agrada Regina porque a instituição fica perto de sua casa.

"Pode ter certeza de uma coisa, acho que você quer ajudar o Brasil e o que eu mais é o seu bem pelo pelo seu passado e por tudo o que representa para todos nós. Ir para cinemateca do lado do apartamento, saber que você vai ser feliz e produzir muito mais. Fico feliz por isso. Mas chateado porque sai um pouco do convívio com a gente."

Bolsonaro postou um vídeo no Twitter ao lado da atriz para justificar a decisão. Regina definiu a mudança como um "presente".

"Acabo de ganhar um presente, que é o sonho de qualquer profissional de comunicação, de audiovisual, de cinema e de teatro, um convite para fazer cinemateca que é um braço da cultura em São Paulo. Ficar secretariando o governo na cultura dentro da cinemateca. Pode ter presente maior do que isso?"

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.