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Governo Bolsonaro não trata da pandemia com outros países, diz Renan Filho

Nathan Lopes e Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

21/05/2020 15h01

Embora o novo coronavírus seja um problema global, o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não conversa com outros países sobre a pandemia de covid-19. A opinião é do governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), que hoje concedeu entrevista ao UOL.

De acordo com o governador, a crise ainda está longe da acabar no Brasil, mas o governo federal não se mexe internacionalmente para se preparar para o pior.

"A disputa por equipamentos é planetária", disse Renan Filho sobre a necessidade de insumos e respiradores para os doentes brasileiros. "É uma tarefa para o [presidente do] país porque a relação internacional se dá entre chefes de Estado", disse o governador ao jornalista Carlos Madeiro.

Segundo Renan, "O Ministério [das Relações Exteriores] está com dificuldade". "Os respiradores que vamos receber são nacionais, o que sugere que não conseguimos fazer compras internacionais de grande monta."

Era muito importante o presidente pessoalmente, e também o ministro das Relações Internacionais [Ernesto Araújo], conversar com países vizinhos, fazer ligações para saber as dificuldades
Renan Filho, governador de Alagoas

"Ligar ao presidente da Argentina, para a primeira-ministra da Alemanha, ao primeiro ministro do Reino Unido, fazer essa relação e se colocar à disposição porque é um problema mundial, os mesmos dilemas", disse.

"Menos ideologia"

Sem citar nomes, Renan Filho tratou de outras polêmicas federais durante a pandemia. Disse, por exemplo, que o Nordeste criou um comitê científico para assessorar os governos.

"Todas as decisões que tomamos têm sido recomendadas pela ciência, pela OMS [Organização Mundial de Saúde]."

Ele também criticou a segunda troca do ministro da Saúde nos últimos meses. "Nunca é bom trocar muito porque [a pasta] tem de funcionar no curto prazo. Eu falei com o atual ministro, pedi uma coordenação nacional. Ele está respondendo interinamente, mas recebi dele uma mensagem de que vai intensificar os trabalhos."

O governador pediu ainda "menos política" durante a crise de saúde. "É preciso menos discussão ideológica e mais pragmatismo para salvar vidas e encontrar o caminho mais curto para vencer a pandemia."

Mais casos

Para o governador, os números de infectados e mortos em Alagoas devem ser maiores dos que os divulgados. De acordo com os dados de ontem do Ministério da Saúde, Alagoas tem 4.437 casos e 251 óbtos.

Renan Filho estima que o número de doentes seja de dez a quinze vezes maior. "Há, obviamente, no planeta inteiro uma grande subnotificação de casos." Atualmente, segundo ele, o estado tem feito 400 testes por dia.

Ele disse que Alagoas ainda possui leitos disponíveis para atender pacientes com covid-19. O governador, porém, ressalta que ele não terá a possibilidade de contratar leitos da rede privada para atender doentes, como pode acontecer a São Paulo. "Aqui, a rede privada é menor do que a pública", disse. "Nós não temos leitos para contratar na rede privada. Só tem o SUS (Sistema Único de Saúde)."