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Gilmar Mendes: 'milícias do Rio podem emprestar um soldado e um cabo'

Ministro do STF não vê risco de intervenção das Forças Armadas, mas sim das milícias cariocas - ADRIANO MACHADO
Ministro do STF não vê risco de intervenção das Forças Armadas, mas sim das milícias cariocas Imagem: ADRIANO MACHADO

Do UOL, em São Paulo

25/06/2020 10h58Atualizada em 25/06/2020 12h49

O ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), demonstrou hoje mais preocupação com uma possível ação das milícias do Rio de Janeiro contra a corte do que das Forças Armadas, que foram invocadas em manifestações antidemocráticas a intervir no poder Judiciário. O magistrado comentava sobre os resultados do inquérito das fake news quando lembrou uma fala do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

"Já disse, as Forças Armadas não emprestarão nem um jipe, nem soldado e nem um cabo, mas as milícias do Rio podem emprestar um soldado e um cabo", afirmou Gilmar em entrevista à CNN Brasil. Milícias são grupos paramilitares, normalmente formados por policiais e ex-policiais.

"No princípio, as pessoas pensavam que eram coisas leves, a sua opinião. Quando (o ministro Alexandre) Moraes fez o relatório houve um grande impacto na imprensa porque eram militantes que ameaçavam estuprar filhas de ministro, matar ministros, fazer atentados, fazer referência a essa (fala) de fechar o STF com um soldado e um cabo, que já virou um pouco uma gozação", disse.

A fala de Eduardo Bolsonaro foi feita em julho de 2018, mesmo mês do lançamento da candidatura de Jair Bolsonaro (então no PSL, hoje sem partido) à Presidência da República. O comentário veio à tona na semana do segundo turno das eleições.

"Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo, não", disse o filho do presidente ao ser questionado sobre a possibilidade de o Exército agir caso o STF tentasse impedir a posse do pai.

Para Gilmar Mendes, as milícias têm que ser combatidas e isso deveria se tornar uma prioridade do Ministério da Justiça, assim como da PF (Polícia Federal).

"Eu reputo e tenho dito, acho que foi uma falta no programa do ex-ministro Sergio Moro, que a milícia tem que ser colocada para que haja combate ao crime organizado. Não é razoável que em Rio das Pedras (bairro do Rio de Janeiro) e acolá venham notícias de um grupo que domina determinada região. É preciso que isso entre na agenda do Ministério da Justiça. Espero que o André Mendonça cuide disso, talvez seja um desafio para a que a PF entre no tema", opinou o magistrado.

STF "poupou vidas"

O ministro também comentou sobre a decisão que a corte tomou ainda no início da pandemia do coronavírus no Brasil, quando determinou que a última palavra sobre as medidas de isolamento social teria que ser de estados e municípios, e não do governo federal. Para Gilmar, com isso o STF "poupou vidas", ainda que a decisão não tenha sido bem recebida por Bolsonaro.

"O que o presidente não entendeu, ou não tenha querido entender, era que era necessário um trabalho interfederativo. E ficou naquela coisa de que estão esvaziando minha caneta, nada disso", afirmou.

"Por isso é necessário que o Ministério (da Saúde) entre nesse tema, porque todos vamos ter responsabilidade e vamos ser cobrados por isso", acrescentou o magistrado, pedindo mais empenho da pasta na condução da pandemia.

"Fuga cinematográfica" de Weintraub

Sobre a viagem do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub para os Estados Unidos, Gilmar classificou como o "final de um triste episódio" e uma "fuga cinematográfica", mas elogiou o governo pela demissão.

"Acho que foi um ato elogiável do governo ter demitido um ministro por inépcia, por incapacidade, quanto a isto não resta nenhuma dúvida", comentou, criticando a forma como se deu a saída do ex-ministro, com direito a retificação da sua exoneração no Diário Oficial da União (DOU).

"O governo tem que melhorar muito todos os seus sistemas internos de controle para não se expor a essas situações. Isso fala muito mal de nós no mundo, ele que vai ser um agente representando o Brasil no Banco Mundial chegando nessas condições", afirmou.