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Bolsonaro critica 'opiniões distorcidas sobre Brasil' na Cúpula do Mercosul

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília*

02/07/2020 11h07Atualizada em 02/07/2020 14h01

Quase um ano depois de ameaçar sair do Mercosul, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) discursou hoje em tom afável e tentou transmitir mensagem de união entre os membros do bloco durante reunião da Cúpula do Mercosul, realizada pela primeira vez por videoconferência devido à pandemia do coronavírus.

O mandatário brasileiro reclamou de "visões" no exterior que, segundo o seu entendimento, são "distorcidas" e não refletem o real esforço do governo, sobretudo em temas como a defesa da região amazônica e o relacionamento com povos indígenas.

Para Bolsonaro, a fim de melhorar a imagem do país, a estratégia é continuar dialogando com "diferentes interlocutores" e levar adiante as negociações com a União Europeia na formulação de acordos comerciais.

As conversas com o bloco europeu foram impactadas negativamente pelas críticas de países como a França em relação às políticas brasileiras de enfrentamento ao desmatamento na região amazônica.

"Nosso governo dará prosseguimento ao diálogo com diferentes interlocutores para desfazer opiniões distorcidas do Brasil e expor ações que temos tomado a favor da floresta amazônica e das comunidades indígenas", disse ele durante a cúpula, que é presidida pelo Paraguai.

Bolsonaro fez ainda um apelo para que o Mercosul acelere a resolução de pendências que atrasam acordos já engatilhados com a União Europeia e a Associação Europeia de Livre Comércio.

"Os acordos com a União Europeia e a Associação Europeia de Livre Comércio evidenciam que estamos no caminho certo. Aplaudimos a dedicação da presidência paraguaia à conclusão dos detalhes pendentes nesses acordos."

"Apelo a todos os presidentes que instruam seus negociadores a fecharem os textos. Atuemos com o firme propósito de deixa-los prontos para assinatura neste semestre. Nosso governo dará prosseguimento a diálogo com diferentes interlocutores para desfazer opiniões distorcidas sobre o Brasil e expor as ações que temos tomada em favor da proteção da floresta amazônica e do bem-estar das populações indígenas."

Ameaças ao Mercosul em 2019

No ano passado, Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, insinuaram que o Brasil poderia deixar o Mercosul em razão da vitória de Alberto Fernández na eleição presidencial da Argentina. A vice dele é a ex-presidente Cristina Kirchner, expoente do bloco peronista (visto por Bolsonaro como a esquerda do país vizinho).

"O atual candidato que está na frente na Argentina, que tem vice a Cristina Kirchner, ele já esteve visitando o Lula, já falou que é uma injustiça o Lula estar preso, já falou que quer rever o Mercosul. Então o Paulo Guedes, perfeitamente afinado comigo, por telepatia, já falou: se criar problema, o Brasil sai do Mercosul. E está avalizado, não tem problema nenhum", declarou Bolsonaro, em agosto de 2019.

Hoje, o presidente brasileiro afirmou acreditar que o Mercosul é importante para que os países superem os próximos meses, com crises de saúde e na economia.

"Os próximos meses serão de grandes desafios para todos nós. O maior deles, que se apresenta desde logo, é conciliar a proteção da saúde das pessoas, com o imperativo de recuperar a economia, Tenho certeza que o Mercosul é parte das soluções que estamos construindo".

Como de praxe, o presidente ainda criticou a Venezuela. "Não poderia encerrar sem fazer menção à Venezuela. Na tentativa que retome o quanto antes o caminho da liberdade. Continuemos todos a defender de modo incansável, o compromisso do Mercosul com a democracia, que é um dos pilares do nosso bloco e de nossa região."

Ainda em relação a acordos internacionais, Bolsonaro disse querer levar "adiante as negociações abertas com Canadá, Coreia, Singapura e Líbano, expandir os acordos vigentes com Israel e a Índia e abrir novas frentes com a Ásia. E temos todo o interesse de buscar tratativas com os países da América Central".

Foco em acordo com UE

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, disse antes da reunião que a blindagem legal de um documento que delineia o acordo está quase concluída, graças à "cooperação e flexibilidade" para se superar as diferenças finais.

O chanceler disse esperar que os coordenadores do bloco sul-americano possam concluir os textos e anexos com os negociadores europeus após o verão no hemisfério norte, para que então o acordo esteja pronto para ser assinado.

Na segunda-feira, falando em Paris a um grupo de cidadãos franceses que propunham maneiras de diminuir as emissões de gases de efeito estufa, Macron disse que concorda que a França não deveria assinar nenhum acordo com países que não cumprem o Acordo de Paris contra a mudança climática.

"Compartilho sua proposta, e é por isso que, quanto ao Mercosul, interrompi totalmente as negociações", disse.

No ano passado, Macron disse que não assinaria nenhum acordo comercial com o Brasil se o presidente Jair Bolsonaro retirar seu país do pacto de Paris, ameaçando uma reviravolta nas tratativas entre UE e Mercosul.

Bolsonaro recuou, mas ambientalistas da Europa pressionaram pela rejeição do acordo comercial mesmo assim, citando a incapacidade do governo brasileiro de deter o desmatamento da Amazônia.

*Com informações da Reuters