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Evangélicos querem chefe do MEC com "princípios" da campanha de Bolsonaro

O presidente da República, Jair Bolsonaro, participa da Marcha para Jesus, principal encontro evangélico do país, no palco montado na Praça Heróis da Força Expedicionária Brasileira (FEB), na zona norte de São Paulo. Esta é a primeira aparição de um presidente da República na Marcha para Jesus, que ocorre em São Paulo há 27 anos - Jales Valquer/Framephoto/Framephoto/Estadão Conteúdo
O presidente da República, Jair Bolsonaro, participa da Marcha para Jesus, principal encontro evangélico do país, no palco montado na Praça Heróis da Força Expedicionária Brasileira (FEB), na zona norte de São Paulo. Esta é a primeira aparição de um presidente da República na Marcha para Jesus, que ocorre em São Paulo há 27 anos Imagem: Jales Valquer/Framephoto/Framephoto/Estadão Conteúdo

Guilherme Mazieiro e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

09/07/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Nome desalinhado aos costumes conservadores desagradaria bancada evangélica
  • Presidente do grupo, Silas Câmara (Republicanos-AM), nega que frente quer indicar titular ao MEC
  • Bolsonaro sonda evangélicos para não desagradar base de apoio
  • Posto está vago desde 18 de junho
  • Líder do governo, Vitor Hugo (PSL-GO) é bem cotado por Bolsonaro, mas sofre resistência de militares e está na "reserva"

A bancada evangélica, base de apoio de Jair Bolsonaro (sem partido), espera que o novo titular do MEC (Ministério da Educação) seja fiel aos costumes conservadores e bandeiras carregadas pelo presidente durante a eleição.

Ao UOL, o presidente da bancada, Silas Câmara (Republicanos-AM), disse que um nome com pensamento contrário ao do grupo desagradaria a bancada. Considerando o apoio de um dos seus grupos mais fiéis, Bolsonaro sonda nomes evangélicos.

Na campanha, Bolsonaro defendeu os seguintes pontos:

  • Mudança no conteúdo e método de ensino. Mais matemática, ciências e português, sem doutrinação e sexualização precoce
  • Expurgar a ideologia de Paulo Freire, mudar a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), impedir a aprovação automática e impor disciplina dentro das escolas
  • Educação à distância: deveria ser vista como um importante instrumento
  • As universidades, em todos os cursos, devem estimular e ensinar o empreendedorismo

"Um nome desalinhado com os princípios que o presidente Bolsonaro pregou na campanha e que são os nossos princípios, sim, incomodaria", disse Câmara.

A vaga está aberta desde 18 de junho, quando Weintraub deixou o posto. Desde então, o presidente recorre a nomes que agradem as alas militares e ideológicas do governo, as quais estão em conflito sobre um nome. Sem ministro, ontem foi definida a alteração das datas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

Publicamente, a bancada evangélica não se manifesta sobre nomes que concorrem ao posto, mas apresentam insatisfação nos bastidores com nomes fora dos costumes conservadores. Movimento semelhante aconteceu quando Bolsonaro sondou Mozart Ramos para o posto, após ser eleito, em 2018, mas teve rejeição dos evangélicos.

O deputado que está à frente do grupo com 195 deputados disse que a bancada não pleiteia uma vaga no MEC.

"Presidente da República não tem obrigação de consultar ninguém para nomear um ministro. Nós, como Frente Parlamentar Evangélica, estabelecemos o princípio que não temos como bandeira brigar para nomear ninguém. Portanto não fomos consultados", declarou Câmara.

"Nós queremos uma pessoa competente e que una o Brasil", diz.

Nome consensual

Durante a entrevista em que revelou ter tido resultado positivo no teste do novo coronavírus, Bolsonaro disse que vai ouvir um candidato de São Paulo ao posto e o deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO) é "reserva" da vaga.

Dos ministros miliares, Bolsonaro ouve conselhos para não nomear alguém tão pragmático quanto Weintraub. A razão disso é evitar uma resistência de grupos ideológicos, caso seja necessário trocar o ministro.

Um nome que foi ventilado é o de Vitor Hugo. O líder do governo na Câmara é visto pelo presidente como homem fiel ao bolsonarismo e disciplinado com estudos, mas perde pontos junto aos militares do governo, com quem há divergências e uma questão hierárquica. Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Braga Netto (Casa Civil) e Augusto Heleno (GSI), são generais; enquanto o deputado, major, é de patente inferior.

No Planalto, o movimento que ventilou o nome de Vitor Hugo foi visto como uma articulação de aliados do deputado para alçá-lo ao cargo e dar mais representatividade ao seu grupo, em sua maioria ligados à vice-liderança na Câmara.

Vitor Hugo já foi cotado para assumir o posto de Marcelo Alvaro Antonio (Turismo), quando o caso das candidaturas laranjas, que envolvem o ministro, ganhou repercussão. A intenção era valorizar seu trabalho e colocar um novo nome na articulação na Câmara.

O último convidado foi Renato Feder. Ele é secretário de Educação no Paraná e recusou o convite feito por Bolsonaro, após ser reprovado pela bancada evangélica. O professor Carlos Decotelli chegou a ser nomeado, mas não assumiu o posto devido a inconsistências e informações falsas em seu currículo acadêmico.

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