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Governo do Rio atrasa pagamentos, e hospital anuncia suspensão de serviços

25.jan.2019 - O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, após reunião com a bancada de deputados federais eleitos pelo estado - Tânia Rêgo/Agência Brasil
25.jan.2019 - O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, após reunião com a bancada de deputados federais eleitos pelo estado Imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Igor Mello

Do UOL, no Rio

15/07/2020 15h10

A OS (Organização Social) Iabas anunciou hoje a paralisação parcial dos serviços do Hospital Adão Pereira Nunes por falta de pagamentos do governo do Rio. Localizado em Duque de Caxias, o hospital é uma das principais referências de atendimento de urgência e emergência para a Baixada Fluminense, região com quase 3,9 milhões de habitantes.

A Iabas é a mesma OS que foi contratada pelo governo Wilson Witzel para construir e operar sete hospitais de campanha para atender vítimas da pandemia do novo coronavírus. O contrato, de R$ 770 milhões, foi firmado sem licitação e sem o recebimento de outras propostas. Após atrasos na entrega das unidades, Witzel decretou intervenção nos hospitais de campanha em junho, suspendendo o contrato —dos 1.300 leitos em sete hospitais previstos, a OS só entregou 129 na unidade no Maracanã, que tinha previsão de 400 vagas. A Iabas é investigada pela Lava Jato do Rio.

De acordo com a OS, o governo do Rio deixou de repassar R$ 37 milhões referentes a parte dos serviços prestados nos meses de maio, junho e julho. O atraso nos pagamentos citados foi iniciado justamente depois que as denúncias de corrupção na saúde do Rio foram iniciadas.

Em ofício enviado à SES (Secretaria estadual de Saúde) nesta terça (14), a Iabas comunicou a suspensão do recebimento de novos pacientes na unidade. Os únicos atendimentos que serão feitos são de emergências, segundo a OS.

"Infelizmente, como comunicamos anteriormente, a partir de amanhã, 15/07/2020, o HEAPN, estará em condições de resolver somente casos de emergência, em decorrência do atraso dos repasses dessa Secretaria, que provocou um quadro gravíssimo de desabastecimento de insumos, medicamentos, OPME e de precariedade de serviços essenciais, como fornecimento de enxovais, alimentação, nutrição parenteral, gases medicinais, coleta de resíduo, higiene e limpeza", diz trecho do documento.

Em nota, a SES afirmou que tenta solucionar a questão em uma reunião na tarde desta quarta.

"A Secretaria de Estado de Saúde informa que o secretário Alex Bousquet está reunido neste momento para solucionar o problema no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes. A SES segue empenhada em encontrar uma solução emergencial para garantir a continuidade do atendimento à população e o pagamento dos funcionários da unidade".

Escândalos na saúde

Desde maio, o governo de Wilson Witzel (PSC) vem sendo atingido por uma série de denúncias de corrupção na área de saúde, especialmente nas contratações de equipamentos, insumos e serviços ligados à pandemia de covid-19.

No começo de maio, o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) prendeu na Operação Mercadores do Caos o advogado Gabriell Neves, ex-subsecretário executivo da SES e responsável pelas contratações emergenciais durante a pandemia. Além dos hospitais de campanha, há suspeita de desvios na compra de respiradores, oxímetros e testes rápidos de coronavírus, entre outros insumos.

Poucos dias depois, a Lava Jato do Rio deflagrou a Operação Favorito, que prendeu o empresário Mario Peixoto, um dos principais fornecedores do governo fluminense desde a gestão de Sérgio Cabral. Na investigação, os procuradores encontraram fortes indícios de que o suposto esquema de corrupção comandado por Peixoto teria continuado durante a gestão Witzel. No escopo dessa investigação foi encontrado um contrato de serviços advocatícios entre Helena Witzel, mulher do governador, e uma das empresas ligadas a Peixoto.

No fim de maio, o STJ autorizou a PGR (Procuradoria-Geral da República) a realizar a Operação Placebo, que mirou diretamente Witzel e a primeira-dama. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador, no Palácio Guanabara, sede do governo fluminense, e em endereços ligados ao casal.

O mais recente capítulo das investigações foi uma nova etapa da Operação Mercadores do Caos, realizada na semana passada, na qual Edmar Santos, ex-secretário de Saúde de Witzel, acabou preso por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção. Durante a ação, um investigado entregou voluntariamente R$ 8,5 milhões às autoridades.