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Bolsonaro aproveita sintonia com Maia para defender mudança no Renda Brasil

O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), durante encontro com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no Palácio do Planalto - Isac Nóbrega/PR
O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), durante encontro com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no Palácio do Planalto Imagem: Isac Nóbrega/PR

Guilherme Mazieiro e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

27/08/2020 04h00Atualizada em 27/08/2020 14h34

O projeto do Renda Brasil apresentado pelo ministro Paulo Guedes (Economia) não agradou o presidente Jair Bolsonaro, que, no entanto, não desistiu de ter uma agenda com apelo social forte. O recado público dado a Guedes ontem serviu para reforçar que o programa que substituirá o Bolsa Família deverá sair neste ano, por mais difícil que seja achar dinheiro no Orçamento.

O programa segue em discussão, segundo interlocutores do presidente, e a pressão agora recai sobre o Ministério da Economia para a entrega de um novo modelo de financiamento. O objetivo é distribuir renda a partir de janeiro de 2021 e pavimentar a disputa à reeleição presidencial.

As discordâncias entre Bolsonaro e Guedes foram explicitadas ontem horas depois de uma reunião de Bolsonaro com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O deputado e o chefe do Executivo se reuniram a sós no Palácio da Alvorada e, posteriormente, criticaram os moldes do projeto proposto por Guedes.

O clima no Congresso é o de que há ambiente para avançar um projeto social aos moldes do Renda Brasil, visto como uma alternativa à crise econômica e retomada do crescimento.

Auxílio emergencial

Uma das discussões que podem afetar o auxílio e também o Renda Brasil é sobre o público que será atendido pelas medidas.

O consenso no Congresso é de um valor entorno de R$ 300, como quer o presidente Bolsonaro, para os dois casos e há discussão se o programa que substituirá o Bolsa Família beneficiará 25 milhões ou 35 milhões de pessoas. Em todo país, atualmente, são atendidos 13,9 milhões de pessoas pelo programa criado no governo petista.

Apesar de pedir para que a equipe de Guedes aprofunde e acelere os trabalhos do Renda Brasil, Bolsonaro quer o quanto antes a definição sobre a prorrogação do auxílio emergencial, que acaba neste mês.

"Quando for a decisão [sobre o Renda Brasil], o presidente vai comunicar. Bolsonaro já falou que está discutindo as propostas, ele não abandonou o programa. Está muito claro", disse ao UOL o líder do governo Eduardo Gomes (MDB-TO).

Preocupação com a reeleição

Apesar de já ter criticado o projeto petista, Bolsonaro vê no programa uma alternativa para economia do país e para sua reeleição. Na avaliação de parlamentares ouvidos pelo UOL, mesmo com as dificuldades fiscais e o acordo para não furar o teto (gastar mais do que o permitido), uma solução deve ser dada pelo Ministério da Economia.

Ontem, Bolsonaro cobrou publicamente Guedes para que haja uma alternativa de financiamento que não seja o fim do abono salarial e outros programas de renda.

Segundo o presidente, o modelo apresentado pela Economia "tira do pobre para dar ao paupérrimo", o que disse não aceitar. (veja vídeo abaixo). As falas de Bolsonaro provocaram estresse no mercado financeiro e especulação sobre a saída de Guedes, a qual foi negada pelo Ministério.