Guardiões de Crivella: 'Não é para sair', diz suspeito em meio a debandada
O "Guardiões do Crivella", grupo suspeito de monitorar e impedir reportagens sobre a crise da saúde pública do Rio na porta de hospitais, tem sofrido debandada de integrantes desde a noite de ontem, quando a TV Globo revelou a sua existência. Prints de integrantes do grupo de WhatsApp obtidos pelo UOL mostram a saída de vários dos servidores comissionados da prefeitura em sequência, entre a noite de ontem e a madrugada de hoje.
As imagens mostram que Marcos Paulo de Oliveira Luciano, conhecido como ML e suposto coordenador do esquema, alerta as pessoas para que não saiam. "Gente, não é para sair do grupo, nunca houve nada errado aqui", diz em uma mensagem (veja imagem abaixo). A polícia cumpriu hoje mandado de busca e apreensão contra ML. Na tarde de hoje, ele prestava depoimento à polícia.
Lotado no gabinete de Crivella com "cargo especial", ML tem salário bruto de R$ 10.513,00.
A suposta ilegalidade fez com que o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) iniciasse hoje uma investigação contra o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos). Pelo mesmo motivo, a deputada estadual Renata Souza (PSOL) ingressou com um pedido de impeachment contra Crivella na Câmara Municipal.
De acordo com a reportagem da TV Globo, funcionários da prefeitura eram distribuídos em unidades de saúde da capital fluminense para cercear reportagens críticas à administração municipal. O grupo tinha escalas rígidas de horários e cobranças por intimidações a jornalistas.
Alguns dos funcionários desses grupos chegavam a ganhar salários líquidos, pagos pelos contribuintes, que superam R$ 10 mil. O próprio Marcelo Crivella fazia parte do grupo.
MP inicia investigação
Por causa da denúncia, o MP-RJ respondeu ao UOL que instaurou hoje um "procedimento preparatório criminal para investigar a possível prática de crimes que teriam sido cometidos pelo prefeito Marcelo Crivella". Segundo o órgão, Crivella será avaliado pelos possíveis crimes de associação criminosa e prática de conduta criminosa, este último com relação às suas responsabilidades como prefeito.
A vereadora Teresa Bergher (Cidadania) também confirmou nas redes sociais que vai apresentar um pedido para instaurar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre o esquema na Câmara.
Teresa se disse "perplexa" pela revelação do esquema. "Contratar pessoas com dinheiro público para impedir que o cidadão tenha acesso à informação? É revoltante", afirmou a vereadora carioca.
Prefeitura fala em 'manipulação'
Em nota divulgada hoje, a Prefeitura do Rio afirmou que a notícia é uma "manipulação". Ontem, no entanto, o governo municipal não negou a existência do grupo de Whatsapp.
"Essas mentiras colocaram a saúde das pessoas em risco, porque muitas poderiam deixar de procurar a unidade por acreditar nas notícias falsas", diz um trecho da nota.
A defesa do assessor Marcos Paulo de Oliveira Luciano não foi localizada pela reportagem.
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