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Dependente do Congresso, Guedes perde espaço para Ramos e líderes

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em 5 de fevereiro de 2019 - Pedro Ladeira/Folhapress
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em 5 de fevereiro de 2019 Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Luciana Amaral e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

04/09/2020 13h46Atualizada em 04/09/2020 15h11

Dependente do Congresso Nacional para aprovar sua agenda liberal, o ministro da Economia, Paulo Guedes, perde espaço para o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e líderes governistas na interlocução com o Parlamento.

A situação foi exposta publicamente ontem pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao afirmar que Guedes proibiu os secretários da equipe econômica de falar com ele. A alternativa é tratar das pautas econômicas do governo com Ramos, segundo Maia.

Ramos chefia a pasta responsável por fazer a articulação entre Planalto e Congresso, e substituiu o colega de caserna Carlos Alberto dos Santos Cruz no ano passado para melhorar o processo, entre outros motivos. Aos poucos, ganhou a confiança dos parlamentares, em especial do alto clero e do centrão da Câmara e do Senado, por cumprir acordos.

Esse afastamento de Guedes acontece também após uma renovação na equipe de parlamentares responsável pela articulação do governo dentro das Casas Legislativas.

A avaliação de políticos ouvidos pela reportagem é que as negociações passaram a outro nível, mais ágil e concreto, com a chegada do deputado Ricardo Barros (PP-PR) na liderança do governo na Câmara, no lugar do Major Vitor Hugo (PSL-GO).

Ele próprio integrante de um partido do centrão, que tem ampliado a base aliada em troca de verbas e cargos na administração pública, Barros tem tomado a frente das conversas de pautas de interesse do governo no Congresso.

Ao seu lado, tem a força de outros políticos experientes, os líderes do governo no Senado, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), e no Congresso, senador Eduardo Barros (MDB-TO), além de líderes do centrão, como o deputado Arthur Lira (PP-AL).

Para um líder envolvido nas conversas, a expectativa é que, com Guedes mais por fora da jogada, e novos interlocutores, as matérias de interesse do governo no Parlamento devam acelerar.

Há de se considerar ainda o trabalho dos ministros da Casa Civil, Braga Netto, e da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, hoje muito alinhados com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), tanto nas ideias quanto na execução delas.

Na entrega ontem da reforma administrativa ao Parlamento, Oliveira representou Bolsonaro com discurso ancorado nem um bom relacionamento com parlamentares, por exemplo.

Pela própria dinâmica da tramitação de projetos, o Executivo e o Legislativo têm uma relação de interdependência, o que continua. Mas, esse panorama torna o Planalto e o Congresso menos dependentes do Paulo Guedes.

Guedes também acumula uma relação instável com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Chegou a tal ponto que Alcolumbre apresentou convite para que Guedes se explicasse após fala de que transformar dinheiro da saúde em aumento de salário do funcionalismo é um "crime contra o país" em crítica à decisão da Casa em derrubar um veto de Bolsonaro sobre o tema.

O convite foi aprovado pelo plenário do Senado por unanimidade e, apesar de o ministro poder rejeitá-lo, o ato foi visto com uma resposta institucional por ter sido apresentado por Alcolumbre.

Gota d'água entre Maia e Guedes

A avaliação de interlocutores do presidente Bolsonaro é que tanto Guedes quanto Maia erraram ao abrir um caminho direto de diálogo — feito via secretários da Economia — e que ambos estavam mal acostumados.

A chegada de Ricardo Barros à liderança foi mais um ponto que ajudou a afastar Guedes de Maia, já que ele e o ministro Ramos fizeram um canal mais consistente com o presidente da Câmara.

A gota d'água de uma relação estremecida foi a proibição de Guedes de que secretários participassem de almoço com Maia.

"A gente tinha um almoço com o Esteves [Colnago, chefe da assessoria especial de relações institucionais do Ministério da Economia] e com o secretário do Tesouro [Bruno Funchal] para tratar do Plano Mansueto, e os secretários foram proibidos de ir à reunião", disse o presidente da Câmara.

A proibição foi confirmada por integrantes da equipe econômica que tentaram minimizar a atitude afirmando justamente que era preciso organizar a articulação. O ministro da economia tem dito que na sua pasta as decisões são técnicas e que não cabe à sua equipe fazer política.

O UOL apurou que o clima é considerado ainda "muito ruim", mas o que Maia fez ao explicitar seu desconforto com Guedes foi "falar o óbvio", na avaliação do Planalto. "A articulação conforme manual e protocolo não é feita pelos outros ministros e sim pela Secretaria de Governo", disse um integrante do governo.

Crédito do vídeo: SBT News