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Witzel acusa deputados de omissão e desafia: "Renunciamos todos"

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

23/09/2020 22h00

O governador afastado do Rio, Wilson Witzel (PSC), desafiou os deputados das Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) dizendo não ser o único responsável caso seja comprovado que organizações criminosas operaram esquemas de corrupção em seu governo. Para ele, os deputados foram "omissos".

"Se as máfias continuaram atuando no estado do Rio de Janeiro, não é só a minha omissão que deve ser considerada, mas de todos nós. Por aí dizem: 'Governador, renuncie'. Então vamos fazer o seguinte: renunciamos todos e fazemos eleição para deputado e para governador", sugeriu Witzel. Durante uma hora, ele fez um discurso inflamado antes da votação que aprovou por unanimidade o relatório do impeachment que pode levar a seu afastamento definitivo do cargo.

Witzel se defendeu de acusações de supostas irregularidades praticadas na Secretaria da Saúde no combate à pandemia. A revogação por Witzel da desqualificação do contrato do Instituto Unir Saúde —que teria como sócio oculto o empresário Mário Peixoto, preso em maio— e supostos superfaturamentos em compras para combate à pandemia são mencionados no relatório aprovado.

"Todos somos omissos, todos aqui temos responsabilidade. Não queiram colocar só nos meus ombros a responsabilidade porque os senhores a as senhoras também foram omissos. Infelizmente, até o presente momento, só eu estou sofrendo linchamento moral", declarou.

Após o discurso de Witzel, deputados de diferentes partidos reagiram à acusação de omissão em discursos no plenário.

'Raposa no galinheiro'

Witzel argumentou que não tinha conhecimento de qualquer possível esquema de corrupção e tentou combater desvios em OSs (organizações sociais) que gerem unidades de saúde no estado, mas colocou "uma raposa para tomar conta do galinheiro". Ele se referia ao ex-secretário de Saúde Edmar Santos, que foi preso e depois se tornou colaborar da investigação da PGR (Procuradoria-Geral da República) que mira Witzel.

Ele questionou o papel de fiscalização dos deputados a quem se referiu como "engenheiros de obra pronta."

"Só eu não vi isso? Os senhores, as senhoras [deputados] foram a algum hospital? Foram lá contar quantos médicos estavam de serviço? Foram checar os contratos? O senhor foi lá, seu Renan Ferreirinha? Pegou o contrato das OSs? O senhor, como deputado, era seu papel", afirmou o governador.

O deputado Renan Ferreirinha (PSB) disse ter ido a hospitais de campanha e encontrado apenas obras inacabadas.

Witzel argumentou ainda que não foi encontrado "nenhum centavo" na sua conta e em nenhuma das duas buscas e apreensões "midiáticas e políticas" em sua casa.

"Nada, absolutamente nada foi encontrado. E não encontrarão porque não tenho milhões. Eu tenho minha casa no Grajaú [bairro da zona norte carioca], que é meu único patrimônio", afirmou Witzel.

O processo de impeachment

O plenário da Alerj aprovou hoje o encaminhamento do processo de impeachment do governador afastado do Rio ao TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro). Depois que o TJ acolher o documento, Witzel passará a ficar "duplamente afastado" — isso porque ele já havia sido afastado do cargo por 180 dias pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) no final de agosto. Ele terá até seis meses para fornecer suas alegações a um tribunal misto —composto por cinco deputados e cinco desembargadores— que poderá decidir ou não pelo impeachment.

Os parlamentares aprovaram o relatório produzido pela Comissão de Impeachment da Alerj, que aponta supostas irregularidades cometidas por Witzel em compras e renovações de contratos para a área da saúde durante a pandemia do coronavírus. Em 77 páginas, o relator do processo de impeachment, Rodrigo Bacelar (Solidariedade), recomendou na semana passada que o plenário da Alerj opinasse em relação a supostas irregularidades praticadas pelo governo afastado.

A revogação por Witzel da desqualificação do contrato do Instituto Unir Saúde —que teria como sócio oculto o empresário Mário Peixoto, preso em maio— e supostos superfaturamentos em compras para combate à pandemia são mencionados. Em um trecho, Bacelar afirma não encontrar motivos para repasses de "vultuosos valores a uma empresa que foi punida por comprovadamente não prestar o serviço em sua plenitude" e diz que há "fortes indícios de dano ao erário".