Corrupção, política de morte e briga com Bolsonaro: os votos contra Witzel
O discurso contra a corrupção inspirou grande parte das declarações de apoio ao relatório de impeachment contra o governador afastado do Rio, Wilson Witzel (PSC), na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), mas essa não foi a única justificativa dos deputados. O plenário da Casa votou hoje o documento que concluiu que Witzel cometeu crime de responsabilidade. A aprovação, por 69 votos a 0, autorizou a admissão do processo de impeachment e acarretou nova ordem de afastamento contra ele com duração de 180 dias.
À direita, ex-aliados chamaram Witzel de "infiltrado" que enganou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com quem rompeu no ano passado. À esquerda, partidos criticavam ainda a política de segurança pública do governador. De todos os lados, parlamentares atribuíram as mortes por covid-19 no estado à suposta corrupção do governo.
As declarações precederam a votação que aprovou o relatório que aponta supostas irregularidades cometidas por Witzel, que inclui supostos superfaturamentos em compras para combate à pandemia, e dá parecer favorável ao prosseguimento do rito do impeachment. Agora, há uma nova ordem de afastamento do governador de 180 dias.
Veja como representantes dos partidos indicaram seu posicionamento:
"Pandemia de corrupção"
Nós estamos constatando que a consequência pelo altíssimo número de mortes de cidadãos do estado não se deu em decorrência do corona, mas de uma pandemia de corrupção, por causa de uma organização criminosa que tomou o poder de assalto e que usou a máquina pública para roubar mais uma vez
Márcio Gualberto (PSL), deputado estadual
Inaugurar um novo tempo no Rio
[O processo se deu] para que a gente pudesse virar a página do Rio de Janeiro que há muitos anos vem sendo vilipendiado por subsequentes governos. Minha fala é sobre a necessidade de que tenhamos a mesma unidade [do voto contra o governador] para reconstruir esse estado, virar a página, para que a gente não viva mais escândalos de corrupção
Jorge Felippe Neto (PSD), deputado estadual
Witzel tem "política de mortes"
Falamos o quanto que a política de segurança do Wilson Witzel apostava na lógica de mortes, de sangue, de guerra. Falamos que essa política de morte chegaria a outras gestões do governo Witzel. Esse que usou o medo, o ódio, a barbárie, como método da sua política, hoje tem um dia muito simbólico dentro dessa Casa, que se compromete com cada cidadão e cada cidadã do Rio de Janeiro quando faz o seu trabalho
Renata Souza (PSOL), deputada estadual e pré-candidata à Prefeitura do Rio
Perseguição a deputados bolsonaristas
Diante da traição do governador ao nosso presidente Bolsonaro, nós apontamos inúmeros atos que indicavam que estávamos diante de uma tirania. Houve a perseguição a cada um dos deputados bolsonaristas. Já víamos que realmente tínhamos um infiltrado na direita. Eu vi aqui vários colegas da esquerda batendo no nosso presidente, num discurso de conveniência, quero dizer que, daqui, não haverá nenhum discurso de conveniência. Vocês não verão nenhum deputado bolsonarista gritando 'Witzel livre' ou contra o impeachment daquele que, sobretudo, traiu um povo de bem, um povo que tem o anseio de uma mudança
Dr. Serginho (Republicanos), deputado estadual
'Governador sabia o que acontecia em secretaria'
Não há nenhuma dúvida de que o governador do estado tinha plena ciência do que acontecia nos porões da Secretaria de Saúde e de que ali se praticava um crime que pode ser classificado como hediondo. Hoje é um dia de luto, para lembrar aqui as 17.798 pessoas que vieram a óbito nesse estado porque não tiveram, da área da saúde, aquilo que precisavam ter nas ações de proteção e enfrentamento à covid-19
Martha Rocha (PDT), deputada estadual e pré-candidata à Prefeitura do Rio
'Eleito como novidade, representa velhos interesses'
O governador foi eleito tendo por base uma disputa moralista e da negação da política. Ele surpreendeu como grande novidade, mas sabíamos que era apenas uma retórica. Na verdade, o governador se elegeu como uma fachada para representar os velhos interesses de grupos que sugam o estado do RJ há décadas. Longe de romper com tais esquemas, os dados do processo mostram que são fortes os indícios de que ele seria mais um elo dessa corrente
Zeidan (PT), deputado estadual
'Pessoas morriam por falta de atendimento do estado'
Enquanto o povo da zona oeste morria por falta de respirador, morria por falta de UTI, o próprio governo do estado, através do seu secretário de Saúde, da quadrilha que se implantou dentro da Secretaria de Saúde, assinou um contrato de R$ 1 bilhão. E cadê o respirador? As pessoas morriam em casa, porque não tinha leito de UTI, não tinha como atender à população. Morreram porque não tiveram atendimento por parte do estado. Um estado combalido, no regime de recuperação fiscal, mas, mesmo assim, a roubalheira se implantou —ou melhor, deu continuidade— no governo de Wilson Witzel, um juiz sem juízo
Lucinha (PSDB), deputada estadual
'Quem rouba na pandemia é genocida'
Triste capítulo porque estamos nos debruçando sobre o pedido de impedimento de um governador que se elegeu sobre o discurso da nova política e de integridade. Triste capítulo pelas mortes em meio a uma pandemia e à destruição total da pandemia do estado. Certa vez no plenário, eu disse: 'Quem rouba de obra é ladrão, quem rouba da saúde é assassino, mas quem rouba na pandemia é genocida'
Alexandre Freitas (Novo), deputado estadual
'Temos que ficar de olho nos falsos moralistas'
A gente tem que ficar de olho nos falsos profetas, nos falsos moralistas. A gente vê em Santa Catarina um processo de impeachment parecido com o nosso, um governador [Carlos Moisés, PSL] que chegou também falando as mesmas coisas que o Witzel. Eu acho que a população deve ficar vacinada. Teve corrupção em todas as áreas, mas especialmente há setores que se elegeram com um discurso contra isso tudo que está aí, os chamados falsos moralistas de plantão
Carlos Minc (PSB), deputado estadual
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