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Mandetta: "Governo jamais deveria ter fechado em uma única vacina"

Do UOL, em São Paulo

18/12/2020 04h00

Na opinião do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, chama a atenção no Plano Nacional de Imunização elaborado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde a opção por uma única vacina. "Jamais o governo brasileiro deveria ter fechado em apenas uma", afirmou durante o podcast Baixo Clero #70 (ouça no episódio a partir de 3:43:18).

"Quando você apresenta um plano, igual eles apresentaram, isso é fruto de decisões de seis, oito meses atrás. Se você tinha a percepção de que a vacina é a melhor arma que a humanidade e a ciência tem em relação ao vírus, se esse vírus é um vírus respiratório e a gente já tem muita tecnologia de vacinas para vírus respiratórios, se a gente tinha um bom caminho para ter uma solução de curto prazo, jamais o governo brasileiro deveria ter fechado em apenas uma vacina", disse Mandetta durante o episódio especial, com apresentação de Carla Bigatto, Maria Carolina Trevisan e Kennedy Alencar.

Vamos passar 2021 com vacinas a conta gotas."
Luiz Henrique Mandetta

Mandetta falou ainda sobre a previsão do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que prometeu 93,4 milhões de doses nos três primeiros meses de 2021. Segundo ele, o governo federal e o de São Paulo começaram a "a apostar uma corrida" na qual, mesmo com os dois chegando à reta final, não teriam o suficiente para imunizar toda a população. "Ele [governo federal] fechou na AstraZeneca, Fiocruz, o Estado de São Paulo fez um acordo com a SinoVac e eles começaram a apostar corrida: quem chegar primeiro, estreia."

Mesmo se os dois chegassem, eles não conseguem fornecer a quantidade de vacinas que a gente precisa. Ele [governo federal] tinha que ter aberto negociação lá atrás, com promessa de compras de todas [vacinas], uma constelação. Tinha que ter tido 6 ou 7 acordos de compra de vacinas."
Luiz Henrique Mandetta

O governo brasileiro optou pela menor cobertura possível na aliança mundial de vacinas, a Covax. A iniciativa dava a possibilidade para que governos fizessem uma solicitação de vacinas que poderia atender de 10% a 50% da população dos países. Mas o Brasil optou por solicitar a menor taxa de cobertura permitida, de 10% dos brasileiros.

Para vacinar 150 milhões de brasileiros, você precisa de 300 milhões de doses. Com a perda, 330 milhões de doses. Soma o que a CoronaVac, São Paulo, pode fazer: 40. Quantas a Fiocruz no máximo pode fazer? 100. Quantas a Pfizer pode entregar? No máximo 70. Soma as três e dá 210, ainda assim faltam 150 [milhões de doses]."
Luiz Henrique Mandetta

O ex-ministro, que ocupou o cargo da posse de Bolsonaro até abril deste ano, acusou veladamente o governo federal de divulgar agora planos feitos durante sua gestão.

"Não adianta ele [governo federal] agora mostrar um plano de decisão errada de seis meses atrás. O Ministério da Saúde nesta semana abriu compra de seringa e agulhas, 300 milhões de seringas e agulhas. Corre o risco de termos o frasco da vacina e não ter a seringa para aplicar", disse.

Podcasts especiais

O UOL promoveu nesta semana uma transmissão ao vivo com sete episódios extras de seus podcasts. Além de Mandetta, a apresentadora Astrid Fontenelle (no podcast UOL Vê TV), o músico Rincon Sapiência (no podcasts Conversa de Portão e Papo Preto), o publicitário Eco Moliterno (no podcast Mídia e Marketing), a psicanalista Vera Iaconelli (no podcast Sexoterapia), o jornalista e escritor José Trajano (no podcast Posse de Bola) e o jornalista e escritor Chico Felitti (no podcast Caoscast) foram convidados.

Baixo Clero está disponível no Spotify, na Apple Podcasts, no Google Podcasts, no Orelo, no Castbox, no Deezer e em outros distribuidores. Você também pode ouvir o programa no YouTube. Outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts.