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Ministro da CGU defende Bolsonaro sobre gastos: 'um homem só apanhando'

Wagner Rosário tentou justificar a reação exaltada do presidente, que atacou a imprensa com xingamentos - Lúcio Távora/UOL
Wagner Rosário tentou justificar a reação exaltada do presidente, que atacou a imprensa com xingamentos Imagem: Lúcio Távora/UOL

Do UOL, em São Paulo

28/01/2021 14h43

O ministro da CGU (Controladoria-Geral da União), Wagner Rosário, saiu hoje em defesa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre os gastos do Executivo com leite condensado. A notícia repercutiu nos últimos dias e irritou Bolsonaro, que fez ofensas ontem à imprensa durante almoço com ministros e apoiadores em uma churrascaria de Brasília.

Rosário minimizou os valores apontados por uma reportagem do portal Metrópoles e que foram revisados pelo UOL hoje, mostrando dados diferentes. A apuração mostrou que os gastos do governo federal com alimentação caíram cerca de 25% em 2020 na comparação com 2019, incluindo nesse cálculo os valores gastos com leite condensado.

O ministro também tentou justificar a reação exaltada de Bolsonaro ontem, repleta de xingamentos à mídia brasileira.

"O presidente é um homem só apanhando de um milhão de pessoas. Uma hora extravasa. Tem que ser cordial das duas partes, ele não recebe essa contrapartida. É um ataque muito grande 24 horas por dia. Ninguém recebe o nível de pressão que ele recebe. Uma hora extravasa", afirmou Rosário em entrevista ao programa "Opinião no Ar", da RedeTV.

O ministro da CGU acusou a reportagem que trouxe primeiramente os números de tentar vincular um gasto de R$ 15,6 milhões com leite condensado em 2020 ao consumo do próprio presidente.

"Acho que a reportagem, por mais que tenha ouvido os lados, quando você lê com calma e não só a chamada da reportagem, quando você lê no interior, ela faz diversos comentários meio que tendenciosos, a tentar jogar na conta do presidente. Quando você vê na reportagem isso que eu falei está bastante claro, sendo com 'carrinho do governo', 'também não faltou isso'. Então, vincula o leite condensado ao leite condensado que o presidente comeu, e isso é muito ruim", disse Rosário.

A matéria, entretanto, afirma logo no início que os gastos são referentes aos "órgãos sob comando" de Bolsonaro, que incluem todos os ministérios, por exemplo. Já a expressão "'carrinho' do governo federal" abre a matéria, aparecendo no título.

"Quando um único recebe tudo isso e extravasa, é normal, parte normal que qualquer um poderia chegar", acrescentou o ministro da CGU sobre a reação do presidente.

Problema nos números

Mesmo afirmando que os gastos com leite condensado apontados pelo portal Metrópoles representariam um "valor muito pequeno", ainda que fossem destinados apenas a militares, Rosário procurou esmiuçar o controle de compras do governo federal e trouxe uma nova informação. Segundo o ministro, os números apresentados pelo Painel de Compras, ferramenta de transparência do Ministério da Economia, não refletem a realidade do volume de compras de cada produto ou serviço.

A informação vem quatro dias após a matéria do Metrópoles e um dia após a checagem da reportagem do UOL.

"A repórter [do Metrópoles] buscou os valores pagos em todos os itens. Se eu tinha R$ 100 [sic] de leite condensado, R$ 1.000 de arroz e R$ 1.000 de feijão, daria R$ 2.200. Ela buscava, vinha R$ 2.200 de feijão, R$ 2.200 de leite condensado e R$ 2.200 de arroz. Os itens não estão especificados", afirmou Rosário.

No exemplo dado pelo ministro, o valor do leite condensado teria de ser de R$ 200 para que, com os R$ 1.000 de arroz e outros R$ 1.000 de feijão, o total desse R$ 2.200.

Essa informação não constava até ontem à noite, pelo menos, no Portal de Compras. Hoje isso mudou. Acima do número aparece um asterisco, dizendo: "O valor apresentado refere-se ao somatório do valor total pago dos contratos que contém o item selecionado".

O ministro da CGU disse que nem o governo sabe, na verdade, quanto é gasto com cada item.

"Hoje não conseguimos fazer quanto pagamos, só quanto empenhamos. Pelo cruzamento que fizemos, ainda não está fechado, ao invés de R$ 15 milhões, estamos perto de R$ 2,54 milhões que foram empenhados. Esse valor pode cair em termos de pagamento. Mas para se ter certeza teria que contar nota fiscal por nota fiscal, o que se torna quase impossível", explicou.

Defesa do cartão corporativo

Rosário ainda fez uma defesa de um modelo diferente para os gastos com o Executivo, no qual o cartão corporativo deveria ser mais usado. O recurso, porém, é frequentemente criticado por facilitar as compras e poder contribuir para o aumento dos gastos do governo.

Para o ministro, porém, a gestão federal gasta hoje um volume alto em processos de dispensas de licitação, que poderiam ser evitados com o uso do cartão.

"Eu sou a favor que as dispensas de licitação deviam ser feitas com cartão corporativo. O processo de dispensa de licitação é caro, a maioria das licitações do governo são de dispensa, elas gastam cerca de R$ 4.500 de custo de servidor, fazendo pesquisa de preço", afirmou.

"Quando a gente vai fazer os cálculos, no ano de 2018 nós adquirimos R$ 327 milhões por dispensa de licitação e o custo de servidor trabalhando nessa despesa foi de R$ 380 milhões. Ou seja, se tivesse roubado tudo, era mais barato do que os controles que nós criamos numa dispensa de licitação", completou Rosário.