Suplicy diz que Ratinho merece prisão por defender intervenção militar
O vereador de São Paulo Eduardo Suplicy (PT) comentou ontem as declarações do apresentador Ratinho, que defendeu uma intervenção militar e fez referências ao período da ditadura brasileira, em vigor de 1964 a 1985. Suplicy afirmou que a fala de Ratinho merece "punição semelhante" à do deputado federal Daniel Silveira (PSL-SP), preso anteontem por pregar a substituição dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e defender o AI-5, que intensificou a repressão da ditadura militar no Brasil em 1968.
"Por suas declarações em favor da ditadura militar, Ratinho está a merecer punição semelhante à do deputado Daniel Silveira. Por 11 a 0 o STF decidiu que ele deve estar preso", publicou o ex-senador e ex-deputado federal nas redes sociais, lembrando que os ministros do STF decidiram por unanimidade manter a prisão de Silveira.
O apresentador do SBT usou o seu espaço na rádio Massa FM, que pertence ao grupo empresarial de sua propriedade, para repetir uma expressão que já usou em outras oportunidades. Ratinho defendeu que "os homens do botão dourado" tinham que voltar ao poder para "botar ordem na casa", em referência aos uniformes dos militares.
O pai do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), também defendeu ações contra moradores de rua, citando como exemplo a atuação do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani. Em resposta, Suplicy o desafiou a um debate sobre os temas.
"Desafio o apresentador Carlos Massa, o Ratinho, a realizar um debate em que ele venha a defender a volta dos militares ao poder no Brasil, como aconteceu de 1964 em diante, na ditadura militar, e a extinção por expulsão da população de rua, por meio da força e das armas", afirmou o vereador paulistano.
Suplicy sugeriu que defenderia "a democracia e as instituições que signifiquem a realização da justiça, como a implantação da renda básica de cidadania, universal e incondicional, como a defende o Papa Francisco".
O vereador ainda disse acreditar que, se a população brasileira fosse consultada depois sobre uma intervenção militar, votaria contra, ao contrário do que afirmou Ratinho na sua rádio.
"Se eu abrir uma votação perguntando se o povo é a favor da volta dos militares, dá 70%. Nossa democracia é muito frágil, estranha", disse o apresentador.
Exemplos questionáveis
Como exemplo para defender uma intervenção militar no Brasil, Ratinho usou a história de Singapura, que virou modelo de desenvolvimento econômico sob a influência política de Lee Kuan Yew. O ex-primeiro-ministro manteve o controle do país asiático por 31 anos, até 2011.
Yew sempre foi criticado pelo duro controle de liberdades individuais, como punição para a homossexualidade, pena de morte para alguns crimes e a chibatada como forma de punição em outros. O país chegou a receber a alcunha de "Disney com pena de morte" pela sua controvérsia expansão econômica, mas não democrática.
Já Giuliani, que depois se tornou advogado pessoal do ex-presidente americano Donald Trump, aplicou em Nova York uma política com leis de tolerância zero, tendo punições automáticas para qualquer tipo de infração nos anos 90.
No entanto, o modelo citado por Ratinho para ações contra moradores de rua teve consequências negativas. O método é questionado até hoje por ter contribuído para o aumento significativo da população carcerária dos Estados Unidos, formada em sua maioria por pessoas negras, apesar de o grupo racial representar cerca de 13% dos americanos.
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