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Maia: Eleição na Câmara prova que impeachment de Bolsonaro não tinha chance

Leonardo Martins, Lucas Borges Teixeira e Stella Borges

Colaboração para o UOL, em São Paulo, e do UOL, em São Paulo

23/02/2021 11h22Atualizada em 25/02/2021 12h13

O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara, avaliou hoje que a eleição de Arthur Lira (PP-AL), apoiado pelo governo para comandar a Casa, mostra que não havia "perna política" para levar adiante um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que a "força do governo prevaleceu".

Em entrevista ao colunista do UOL Kennedy Alencar, Maia defendeu sua gestão à da Câmara, criticou a atuação do governo na vacinação e voltou a cutucar o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ao comentar sobre futuro, disse ainda que deverá se formar uma frente contra Bolsonaro em 2022.

O impeachment ia gerar uma polarização, que é tudo o que o Bolsonaro precisa e tenta fazer todos os dias. [Eu] ia tirar da pauta a pandemia e ia colocar na pauta o impeachment que ele iria sair vitorioso nesse primeiro momento.
Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara

Ao avaliar o processo, o deputado sugeriu ainda repensar o mecanismo de início a um pedido de impeachment. "A situação fica muito política. Diferente da PGR [Procuradoria-Geral da República], que, quando vai denunciar, pode fazer a investigação preliminar, o presidente da Câmara não pode. Talvez a gente possa criar um instrumento no futuro para [o presidente da Casa] ter um embasamento jurídico melhor do que esse inicial", declarou.

Para o deputado, o melhor caminho seria a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para avaliar a atuação do governo na pandemia. Ele classificou como um "crime grave" o fato de o governo não ter respondido aos contatos do presidente da Pfizer para compra de vacinas contra covid-19.

Acho que a CPI que o Senado e senadores já conseguiram assinaturas deveria ser a prioridade de todos nós políticos. Compreender em que condições o governo vem se omitindo, principalmente na área da saúde.
Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara

Em defesa da sua atuação à frente da Câmara, mesmo sem a abertura do processo de impeachment, Maia afirmou que Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal) "colocaram limites" ao governo Bolsonaro.

Acho que o Congresso e o Supremo colocaram limites desde o início ao governo. Não acho que uma frase do presidente da Câmara, do Senado, dos principais líderes contestando o governo seja uma coisa pequena. Todo mundo critica, mas não acho que é uma coisa pequena você impor limites: dentro desse limite aqui não vai passar --e não passou.
Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara

Para ele, Bolsonaro tem de assumir a responsabilidade como presidente em relação à pandemia e classificou a administração do mandatário como "um desastre". Segundo ele, caso não fosse presidente da Câmara, sua atitude com o presidente no ano passado teria sido diferente.

"Uma coisa é eu ser deputado de oposição, outra é eu ser presidente da Câmara. Se eu não fosse presidente da Câmara, minha atitude no ano passado contra Bolsonaro teria sido muito mais dura do que foi, porque meu papel é institucional também, mas não apenas. Eu continuo sendo deputado, por isso que muitos momentos fui muito crítico ao governo", afirmou.

União contra Bolsonaro

Maia defendeu ainda que há "grandes nomes no centro social democrático e liberal" para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. É preciso, no entanto, definir um candidato "até o final do ano".

"O projeto para presidente não é projeto pessoal nem de A, B ou C, é um projeto que represente um país diferente daquilo que foi construído, que melhorou muito ao longo dos últimos 30 anos, mas que, olhando a estrutura do Estado, favoreceu demais as corporações do setor público e do setor privado", afirmou Maia.

Entre os elogiados, o deputado citou os governadores João Doria (PSDB-SP) e Eduardo Leite (PSDB-RS), o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Ciro Gomes (PDT)

"Podemos ter uma candidatura de centro-esquerda ou centro-direita e tentar juntar todo mundo. O nosso problema, acho, nesse momento, no campo da centro-esquerda, é a questão econômica. Se conseguir pactuar isso, você pode dizer que o Ciro está aqui, PSB está aqui, parte do PT está aqui.
Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara

Cutucadas em Guedes

Maia também usou o espaço para criticar a atuação de Paulo Guedes, com quem já trocou farpas públicas. Para o deputado, a Câmara foi responsável pelas conquistas econômicas do governo, não o ministro.

Se o Brasil não está numa situação fiscal pior hoje, é porque nós comandamos primeiro na Câmara a Reforma da Previdência, apesar desse governo e apesar das ameaças nas redes sociais.
Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara

Segundo ele, Guedes tenta ainda estender o auxílio emergencial "para se manter ministro", mas, ao mesmo tempo, quer congelar despesas para "garantir o discurso para o mercado".