Ernesto demoliu a política externa, diz ex-embaixador do Brasil nos EUA
Após o pedido de demissão do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Roberto Abdenur afirma que o chanceler demoliu a política externa brasileira.
Em entrevista à GloboNews, Abdenur destacou que as posições e atitudes de Araújo, endossadas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), tornaram o país em um pária internacional.
"Ele [Ernesto] rejeita as Nações Unidas, o multilateralismo. Não há nada pior para política externa do que a ideologia. Ela distorce, simplifica. Não à toa o Brasil está no cenário de pária internacional. Mas queria destacar que o Brasil se encontra assim por causa do presidente Bolsonaro. Veja as dificuldades que nós temos com nossos principais interlocutores se dá por coisas feitas por Bolsonaro. Em dois anos, eles nunca se cansaram de fazer desfeitas à China. Espero que o sucessor não seja um outro fanático da extrema-direita", disse.
Hoje, Ernesto Araújo comunicou a membros de sua equipe que vai entregar o pedido de demissão ao presidente Jair Bolsonaro. A solicitação foi confirmada pelo UOL, mas ainda não oficializada pelo Planalto. Auxiliares do governo disseram que a gota d'água para selar a saída de Ernesto foi sua decisão "equivocada" de fazer novos ataques ao Senado no fim de semana.
Para Abdanur, a gestão de Araújo à frente do Itamaraty foi o que de pior aconteceu nos últimos 70 anos.
"Nós fomos longe demais na ideologia de extrema-direita. Acho que o governo Bolsonaro com a gestão Araújo foi muito desastrosa para país... A ideologia praticada por ele é antidemocrática. No exterior existe grande preocupação com os riscos que corre a democracia do Brasil", criticou.
Sobre os desafios a serem enfrentados pelo futuro chanceler brasileiro, Abdanur ressalta que é preciso seguir em várias direções.
"Nós temos um problema estrutural muito sério que não está com o Itamaraty. A comunidade internacional está indignada com a devastação da Amazônia, com as políticas reacionárias. Eu diria que depois do Ernesto o outro ministro que tem que sair é o do Meio Ambiente [Ricardo Salles]. Precisamos de um reajuste nas nossas políticas externas que vá além do Itamaraty", aponta.
Ele completa que não acredita numa "guinada de 180º" na política externa praticada pelo país.
"Não acredito que no governo Bolsonaro possa haver uma guinada de 180º, mas pode haver mudanças que mudem um pouco nossa imagem no exterior. O presidente está numa posição de maior retração, por isso ele tenderá a ser flexível em conceder ao novo titular do Itamaraty mais espaço de atuação pragmática", encerrou.
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