Governo anuncia novos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica
O novo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, anunciou os novos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica: general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, Almirante Almir Garnier Santos e Tenente-Brigadeiro do Ar Baptista Júnior. Eles foram apresentados em cerimônia nesta quarta-feira (31), aniversário dos 57 anos do golpe militar que colocou o Brasil numa ditadura entre 1964 e 1985.
A troca dos comandantes foi uma decisão tomada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). No discurso de troca, Braga Netto fez questão de destacar que a missão das Forças Armadas é preservar a democracia, um recado em meio às mudanças que foram interpretadas como mais um flerte do presidente com medidas autoritárias.
"A Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira se mantêm fiéis às suas missões constitucionais de defender a Pátria, garantir os Poderes constitucionais e as liberdades democráticas", disse o ministro em seu discurso. "Neste dia histórico, reforço que o maior patrimônio de uma Nação é a garantia da democracia e da liberdade do seu povo."
Como foi feita a escolha pelo Governo
Mais cedo, Braga Netto fez "entrevistas" com possíveis escolhidos para ocupar os postos.
O Exército enviou ao ministro da Defesa uma lista com o nome dos cinco generais, que seriam os candidatos naturais, por ordem de antiguidade. São eles: Décio Luís Schons, César Augusto Nardi de Souza, José Luiz Freitas, Marcos Antônio Amaro e o escolhido Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.
O presidente e o ministro não eram obrigados a seguir a lista, mas o gesto poderia ser considerado uma quebra de tradição militar.
A escolha dos nomes se deveu ao bom relacionamento que esses militares têm com a cúpula militar e o fato de o presidente não ter se posicionado contra. Um dos indicados havia trabalhado com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o que, para Bolsonaro, seria uma barreira insuperável.
Mesmo Paulo Nogueira, que havia dito que a taxa de contaminação por covid-19 no Exército era menor do que no resto do país, foi aceito por Bolsonaro. Fontes ouvidas pelo UOL asseguram que o presidente pode até ser incomodado com as declarações, mas depois foi convencido por causa da boa relação que o agora novo comandante do Exército tem na caserna — é um homem "muito querido pela tropa", disse uma fonte.
Os mais antigos não são escolhidos obrigatoriamente. E Bolsonaro não inovou nisso. O ex-comandante do Exército Eduardo Villas Boas não era o primeiro nome da relação analisada pela então presidente Dilma em 2015. No entanto, assim como Nogueira, tinha bom trânsito e respeito pelos colegas.
Se Villas Boas é um amigo do presidente apesar de ter sido indicado por Dilma, o mesmo não se dá com todos os militares. Marco Antônio Amaro estava na lista de antiguidade enviada ao presidente. Mas foi barrado para comandar o Exército. Motivo: foi chefe da segurança de Dilma.
Na Marinha, os integrantes da lista de mais antigos eram: Alípio Jorge Rodrigues da Silva, Almir Garnier Santos (o escolhido) e Marcos Silva Rodrigues.
Na FAB (Força Aérea Brasileira), os três cotados para o comando, por conta da antiguidade na carreira, eram Jeferson Domingues de Freitas e Marcelo Kanitz Damasceno, além do escolhido Baptista Júnior.
Novos comandantes têm tempos de carreira similares
Novo comandante do Exército, Nogueira tem 59 anos e está nas Forças Armadas desde 1974, quando iniciou como cadete do Exército. Cearense, ele era chefe do departamento de Pessoal do Exército.
Seus outros colegas têm idades e tempos de carreira parecidos. O Brigadeiro do Ar Carlos Batista Júnior tem 45 anos de atuação na Força Aérea Brasileira (FAB). Ele pilota aviões de caça e reconhecimento. Possui 4 mil horas de voo, mais da metade em aeronaves de caça.
O almirante Almir Ganier, 60 anos, tem 40 anos de carreira na Marinha. No governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Garnier trabalhava no Ministério da Defesa, comandando à época por um civil — Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele foi chefe de gabinete do chefe de Estado-Maior da Defesa em 2009 e 2010.
Na gestão de Dilma Rousseff e Michel Temer (MDB), seguiu no ministério como assessor especial dos ministros Celso Amorim, Jacques Wagner, Aldo Rebelo e Raul Jungmann. No governo de Bolsonaro, Garnier foi secretário geral até hoje, quando assumiu o comando da Marinha.
Sem risco de golpe
Apesar de o novo ministro ter assinado a Ordem do Dia por conta do 31 de março, data do golpe militar, pedindo celebração da data, generais ouvidos pelo UOL tentam minimizar qualquer risco de apoio a rompantes antidemocráticos por parte de Bolsonaro.
"O movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março", escreveu o ministro da Defesa.
Segundo um general da ativa, qualquer integrante do Alto Comando que assumir o comando do Exército a ordem será a mesma: reforçar que as Forças Armadas são instituições de estado e não de governo.
"Não passa na cabeça de ninguém nenhum tipo de ruptura", afirmou.
Comandantes foram demitidos
O Ministério da Defesa anunciou ontem a saída dos comandantes do Exército, Edson Pujol, da Marinha, Ilques Barbosa Junior, e o da Aeronáutica, Antonio Carlos Moretti Bermudez.
Segundo militares ouvidos pelo UOL, a saída dos comandantes foi uma decisão tomada por Bolsonaro, que avisou que Braga Netto poderia demiti-los.
Depois de pedir o cargo do general Fernando Azevedo e Silva, Bolsonaro causou mal-estar entre os comandantes, que sabiam do desejo do presidente em tirar Pujol do comando do Exército. Eles chegaram a ensaiar uma renúncia coletiva, mas ontem foram surpreendidos com o fato de que a decisão do presidente já estava tomada e ele queria novos nomes no comando das Forças.
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