Ex-porta-voz diz que falta "amadurecimento intelectual" a Bolsonaro
O ex-porta-voz de Jair Bolsonaro, o general Otávio Rêgo Barros, disse hoje que "estamos diante de uma crise política" e que falta "amadurecimento intelectual" ao presidente, ao comentar a demissão dos três comandantes das Forças Armadas, em artigo publicado pela revista "Veja".
"O mandatário não é mais um militar. Ele detém, tão somente, uma carta patente que indica ter estabelecido, em um determinado momento da vida, os requisitos para exercer as funções intermediárias na hierarquia da oficialidade das Forças Armadas. O amadurecimento intelectual —característica marcante na formação dos chefes atuais— não esteve presente em sua trajetória", escreveu Rêgo Barros, sem citar o presidente Bolsonaro nominalmente.
Rêgo Barros chefiava o Centro de Comunicação do Exército e chegou ao governo de Bolsonaro por sugestão do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.
Como porta-voz, o general passou a fazer declarações diárias e organizar cafés de Bolsonaro com jornalistas. O bom relacionamento do porta-voz com a imprensa irritou o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-SP), filho do presidente. O general deixou o governo sem uma conversa de despedida com Bolsonaro.
No artigo, Rêgo Barros também critica o desejo de Bolsonaro de transformar as Forças Armadas naquilo que ele define como "estrutura de apoio político".
"Seu aparente desejo de transformar essa instituição centenária, detentora dos mais altos índices de confiança, em uma estrutura de apoio político, afronta tudo o que se defende como Forças Armadas em sua atitude profissional", ressalta.
Forças Armadas estão "vacinadas"
O general, no entanto, alerta que as Forças Armadas já "estão vacinadas contra esse vírus".
"Buscar adentrar as cantinas dos quartéis com a política partidária é o caminho impensado para as Forças Armadas. Elas já estão vacinadas contra esse vírus (...) É preciso deixar claro, entretanto, que não há nenhum sinal de alerta pulsando. A profissionalização castrense ultrapassa amadorismos atemporais que prejudicá-la-á. As lideranças estão atentas: as de ontem, as de hoje e as de sempre. As ideias de legalidade, legitimidade e estabilidade permanecem o caminho. E as Forças Armadas diariamente reforçam a sua imunidade."
A saída de Rêgo Barros foi definida no fim de agosto, após a criação do Ministério das Comunicações, mas oficializada somente em outubro de 2020. Sem função e isolado, ele passou a ser subordinado à Secretaria de Governo.
Com perfil comunicativo, Rêgo Barros já serviu no Haiti e tem facilidade para tratar com a imprensa. Ele foi um dos principais responsáveis pela ampliação do uso das redes sociais para divulgar informações do Exército e pontos de vista do comandante. O general se formou na Academia Militar das Agulhas Negras em 1981.
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