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Um concorrente apavora mais Bolsonaro do que o vírus, diz Otto Alencar

Gabriel Toueg

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/05/2021 04h00

Na quinta-feira (29), o senador Otto Alencar (PSD-BA) falou sobre o andamento da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid, que convocou o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta já na terça-feira (4). Segundo o parlamentar, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem mais medo de adversários do que da crise sanitária.

"O que mais apavora o presidente, até mais do que o vírus, é um concorrente para tirá-lo do Palácio do Planalto", disse (assista a partir do minuto 26:36 no vídeo acima). Para Alencar, em certo ponto, Bolsonaro passou a considerar Mandetta como um concorrente. Ele já foi cotado como um candidato mais ao centro, para escapar da eventual polarização entre o presidente e Lula (PT), que retomou seus direitos a disputar a eleição em 2022.

Alencar, que é médico e titular da CPI da Covid, disse em entrevista ao Baixo Clero, o podcast de política do UOL, que "não tem precedentes no mundo de alguém que não seja médico receitar para milhões de brasileiros uma medicação [que não tem eficácia comprovada].

"Como é que o presidente pega uma caixa de hidroxicloroquina e diz: 'Eu sou doutor Jair Messias Bolsonaro, Ph.D. em doenças infectocontagiosas e você pode tomar a hidroxicloroquina'?"

"Até hoje não tem uma medicação para o tratamento da doença [covid-19], só tem medicações para diminuir os efeitos letais", afirmou (assista a partir de 25:42).

"O presidente, qualquer pessoa que [...] possa ameaçar o cargo dele, ele quer liquidar, quer brigar, e aí fala coisas que não têm nenhum sentido, consistência", disse (assista a partir de 39:26). Para ele, a questão das vacinas virou palco de disputa política.

Vamos ter que perguntar [na CPI]: por que, no final do ano passado, o ministro da Saúde [Eduardo Pazuello, à época], ao lado do presidente, disse que o vírus estava indo embora?; por que não comprou a vacina no ano passado?; por que não fez contrato com a Pfizer?; por que desestimulou tanto o Butantan e chegou ao ponto de dizer para o governador [de São Paulo, João] Doria: 'Não vou comprar a sua vacina da China porque ela não tem credibilidade nenhuma', [sendo que] é a que está sendo mais utilizada [agora pelo programa de imunização].
Senador Otto Alencar

Para o parlamentar, Bolsonaro errou em todas as opiniões que deu a respeito da pandemia. "Desde a 'gripezinha', aglomerações, estimulou aglomerações, as pessoas nos hospitais e ele de jet-ski na praia, tirando férias, montando a cavalo", disse (assista a partir de 32:19).

"Como é que um presidente da República [...] não tem a caridade de visitar um hospital, de ver um paciente, de perceber de perto o que se passa num ambiente de UTI, [de ver um profissional da saúde] trabalhando oito horas seguidas sem poder ir ao banheiro, pessoas morrendo com dificuldade de respirar?", indagou Alencar.

Ao falar sobre o cenário para as eleições presidenciais de 2022, o parlamentar disse que, mesmo entre governistas, se diz que "o maior adversário do presidente [Bolsonaro] é o próprio presidente". Ele citou como exemplo uma ocasião em que uma repórter questionou Bolsonaro na Bahia e o presidente a chamou de "idiota", agredindo a jornalista "sem necessidade nenhuma".

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