Barra Torres vai ter de explicar retardamento em vacinas, diz Otto Alencar
Em entrevista no programa de ontem do podcast Baixo Clero, o senador Otto Alencar (PSD-BA) disse que o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, vai precisar explicar na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid o atraso na compra das vacinas. Barra Tores deve ser ouvido na próxima quinta-feira (6).
"A Anvisa demorou demais, [...] tem mais de quatro meses que o consórcio do Nordeste está atrás dela, me parece que houve um retardamento muito grande para análise dessa vacina [russa Sputnik V], em detrimento de outras que chegaram para análise por último. Já está convocado o diretor da Anvisa, o almirante Barra Torres, para explicar esses fatos todos" (assista a partir do minuto 44:22 no vídeo acima).
"Não posso ser simplório nessa análise", disse Alencar sobre a dúvida de ter havido ou não dolo na decisão de adiar a compra das vacinas.
O senador, titular da CPI da Covid, lembrou que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi questionado no ano passado no Senado sobre a decisão de adiar a compra da vacina da Pfizer.
"O ministro Pazuello disse textualmente: 'Só vou comprar a vacina se houver demanda', em agosto do ano passado. Ele foi questionado no Senado e não soube responder" (assista a partir de 39:27). "Já pedimos todas as informações, de compras, de pagamentos, de contratos feitos e não realizados", informou Alencar, sobre como vai funcionar a investigação.
O parlamentar revelou na entrevista que, na próxima terça-feira (4), a CPI deve convocar o ex-secretário de Comunicação do governo, Fabio Wajngarten. "Terça-feira vamos aprovar o requerimento de convocação dele [Wajngarten], isso está certo, já tem acordo para isso", disse Alencar (assista a partir de 21:58).
"É crível que um secretário de Comunicação se envolva na compra de vacinas, que vá se aconselhar com o ministro Gilmar Mendes [do STF] para se aconselhar como compra a vacina?", indagou Alencar (assista a partir de 22:29)
Segundo o senador, o procedimento de convocação de Wajngarten deve ocorrer antes do início do depoimento do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, agendado para a terça-feira. O depoimento do ex-ministro será o primeiro da CPI da Covid. Alencar disse acreditar que Mandetta deve apresentar o avanço da covid-19 no período em que esteve na pasta, desde o início da pandemia.
"Ele vai apresentar uma curva epidemiológica certamente semanal de como evoluiu a doença por semana, até a última semana em que ele foi ministro da Saúde", disse o parlamentar.
"E dizer o que ele tentou fazer e o que foi impedido de fazer pelo presidente da República, levando inclusive à sua demissão" (assista a partir de 23:29). "Quero saber se ele [Mandetta] fez barreira sanitária para conter esse pessoal que trouxe a doença, não deixar disseminar."
Para ele, a lista de 23 itens preparada pela Casa Civil é "praticamente uma confissão" (assista a partir de 21:08). "É a preocupação do governo em buscar se defender, de dizer que não errou", disse o senador.
Uma tabela revelada pelo colunista do UOL Rubens Valente aponta 23 acusações contra o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) no combate à covid-19, numa tentativa de orientar a defesa do presidente na CPI.
Alencar ressaltou o fato de que a CPI da Covid terá andamento ao lado do fato investigado. "É uma CPI que vai caminhar paralela à crise sanitária, talvez seja a única no Brasil em todos os tempos em que vai se apurar os fatos com a crise em andamento, com a morte na porta das pessoas, com a contaminação das pessoas e com a possibilidade de um recrudescimento agora no mês de junho", disse (assista a partir de 29:21). O Brasil superou 400 mil mortes pela covid-19 ontem.
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