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CPI da Covid: Wajngarten nega interferência de Bolsonaro na Secom

Rayanne Albuquerque e Hanrrikson de Andrade*

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

12/05/2021 10h48Atualizada em 12/05/2021 11h17

O ex-chefe da Secretaria de Comunicação de Jair Bolsonaro (sem partido), o publicitário Fábio Wajngarten, negou que o presidente tenha interferido na gestão da pasta. As declarações foram feitas hoje, em depoimento à CPI da Covid, no Senado.

Eu sempre tive toda a liberdade possível para comandar a Secretaria Especial de Comunicação, sem a interferência de ninguém. Eu vim da iniciativa privada, larguei família, larguei três filhas, uma delas com necessidades especiais, peço perdão a minha esposa por publicar isso, para morar em um hotel, em Brasília. Acordar 3h50, para sair de São Paulo. Ao menor sinal de interferência, eu teria ido embora
Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro

O publicitário afirmou que o governo federal estava alinhado com a ciência e que foram executadas campanhas informativas, em parceria com o Ministério da Saúde, para levar esclarecimentos sobre a prevenção contra o coronavírus.

Wajngarten elencou as ações publicitárias que foram realizadas desde o período entre fevereiro e março de 2020, quando o vírus começou a se alastrar pelo país.

De acordo com o ex-agente público, foram duas campanhas (em agosto e novembro do ano passado) relacionadas ao chamado "tratamento precoce" —termo que Bolsonaro passou a utilizar para se referir ao incentivo a medicamentos sem eficácia científica comprovada (como a hidroxicloroquina).

Ao ser questionado pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL) sobre as orientações gerais para as campanhas do governo, Wajngarten negou que tenha recebido orientações para desestimular as medidas de prevenção à covid-19, como o uso de máscaras e o distanciamento social.

A Secom fez campanha desde fevereiro de 2020, aos primeiros sinais de pandemia. Eu fui contaminado na volta de uma viagem dos EUA com o presidente, em março de 2020. A secom com o Ministério da Saúde publicizou 11 campanhas
Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro

O ex-secretário alegou durante a oitiva que "sempre foi a favor da vacina", mas colocou em questão a efetividade da CoronaVac, imunizante desenvolvido pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.

Wajngarten também negou saber os impactos de alcance da fala de Bolsonaro contra as medidas de enfrentamento à covid-19. O presidente se mostrou, desde o início da pandemia, contrário ao uso de máscaras e de medidas de restrição nos estados e municípios.

Redes sociais de Bolsonaro

Calheiros perguntou ao depoente se a Secom teria alguma ingerência sobre as redes sociais do presidente Bolsonaro. A indagação repercutiu entre os senadores governistas. Um dos bolsonaristas, Marcos Rogério (DEM-RO), reclamou que isso seria uma forma indireta de quebra de sigilo.

Depois de um rápido bate-boca, Wajngarten negou qualquer atuação institucional dentro das páginas pessoais do chefe do Executivo federal.

Expectativa de depoimento

A expectativa era que Wajngarten fosse questionado fosse críticas feitas ao Ministério da Saúde e ao ex-ministro Eduardo Pazuello. Em abril, o ex-chefe de Comunicação do governo Bolsonaro afirmou que houve "incompetência" e "ineficiência" no processo de negociação com a farmacêutica Pfizer.

O depoimento de Wajngarten é fundamental para o futuro da CPI, por ele ser um personagem com relação direta e próxima ao presidente Jair Bolsonaro. O colegiado da Comissão deve questioná-lo sobre o incentivo ao uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no combate ao coronavírus.

A Comissão Parlamentar de Inquérito ouviu ontem o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) , Antonio Barra Torres. Também foram ouvidos os ex-ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, além do atual gestor da pasta, Marcelo Queiroga, que poderá prestar um segundo depoimento.

* Com a colaboração de Ana Carla Bermúdez

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.