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Renan diz que vai pedir prisão de Wajngarten por mentir à CPI da Covid

Rayanne Albuquerque e Hanrrikson de Andrade*

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

12/05/2021 12h42Atualizada em 12/05/2021 22h20

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid, disse na tarde de hoje que vai pedir a prisão de Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência da República, por supostamente ter mentido durante seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito.

À CPI, Wajngarten disse não se lembrar da autoria de um vídeo com o slogan "O Brasil não pode parar", divulgado pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido) em março de 2020, e afirmou se tratar de uma peça em fase de testes. Segundo ele, o vídeo teria sido disparado por engano em grupos de WhatsApp.

Calheiros, no entanto, mostrou que o vídeo foi publicado em uma página oficial da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) e em um site do governo. "Vossa Excelência mais uma vez mente", disse o senador.

O presidente pode até decidir diferentemente, mas vou, diante do flagrante evidente, pedir a prisão de Vossa Senhoria. Ele pode decidir diferentemente, mas vou pedir porque o espetáculo de mentira que vimos aqui hoje é algo que não vai se repetir e não pode servir de precedente
Renan Calheiros, relator da CPI da Covid

Presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM) pediu "cautela" e afirmou que, apesar do pedido de Calheiros, não irá determinar a prisão de Wajngarten.

De acordo com a Constituição, em oitivas realizadas por uma CPI, os intimados são obrigados a falar a verdade, sob risco de receberem voz de prisão caso seja confirmado, em flagrante, algo que não corresponda à realidade dos fatos.

Calheiros tem reclamado desde o início da audiência do comportamento de Wajngarten. Na versão do relator, o publicitário e ex-membro do governo tem dado respostas escorregadias ou em contradição ao teor da entrevista que ele havia dado à Veja.

Na entrevista à Veja, o ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social revelou ter participado de negociações para a compra de vacinas e chamou a equipe do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello de "incompetente" e "ineficiente".

Eu queria, presidente, sugerir a vossa excelência, requisitar o áudio da revista Veja para nós verificarmos se o secretário mentiu ou não mentiu. Se ele não mentiu, a revista veja vai ter que pedir desculpas a ele. Se ele mentir, ele terá desprestigiado e mentido ao congresso nacional, o que é um péssimo exemplo. Queria dizer que vou cobrar a revista Veja. Se ele mentiu a revista veja e a esta comissão eu vou requerer a vossa excelência na forma da legislação processual, a prisão do depoente
Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid

Aziz apresentou um requerimento que pede o envio da gravação da entrevista de Wajngarten concedida à revista pelo diretor de redação da Veja, Maurício Lima.

Vou pedir para requerer à revista Veja, que possa nos dar o áudio da gravação, sem cortes
Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid

Após o pedido, uma segunda briga se instaurou no colegiado, após o presidente da comissão sugerir que ela fosse interrompida. Na perspectiva de Aziz, o depoimento de Wajngarten está "prejudicado".

No entanto, senadores que estavam acompanhando a sessão de forma presencial pediram para que a sessão não fosse suspensa. O parlamentar gestor da CPI acatou aos pedidos e deu continuidade aos questionamentos.

A entrevista à Veja foi justamente a razão pela qual Wajngarten foi chamado a depor na CPI da Covid. Por esse motivo, segundo contestações do relator, endossadas por Omar Aziz, Wajngarten deveria confirmar ou não os fatos narrados à revista em vez de tentar sair pela tangente.

Diante da insistência de Calheiros em uma das perguntas endereçadas ao depoente, Wajngarten chegou a responder que o senador deveria "perguntar para o presidente da República", e não para ele. A indagação era a respeito de uma possível orientação de Bolsonaro no sentido contrário à necessidade de vacinação em massa no país. A colocação do publicitário irritou o comando da CPI.

Críticas a Pazuello

Na entrevista à Veja, Wajngarten isentou Bolsonaro de responsabilidades pela lentidão no processo de compra de vacinas contra a covid e atribuiu a culpa ao Ministério da Saúde, então comandado pelo general Pazuello, que também será ouvido pela CPI, na semana que vem.

"O presidente está totalmente eximido de qualquer responsabilidade nesse sentido. Se as coisas não aconteceram, não foi por culpa do Planalto. Ele era abastecido com informações erradas, não sei se por dolo, incompetência ou as duas coisas."

Para o publicitário, o ministério só não efetivou a compra de imunizantes de milhões de doses da vacina da Pfizer —uma das críticas que levaram à queda de Pazuello— por "incompetência e ineficiência".

Wajngarten evitou, no entanto, fazer uma menção direta ao general: "Estou me referindo à equipe que gerenciava o Ministério da Saúde nesse período".

"Quando você tem um laboratório americano com cinco escritórios de advocacia apoiando uma negociação que envolve cifras milionárias e do outro lado um time pequeno, tímido sem experiência, é isso que acontece."

Em nota divulgada à imprensa após a audiência, a defesa de Wajngarten afirma que ele "jamais faltou com a verdade e nem teve a intenção de fazê-lo". A tal incompetência, citada por ele à Veja, diz a defesa, "se referia à morosidade da equipe do Ministério da Saúde, mas não ao ministro Eduardo Pazuello".

* Com a colaboração de Ana Carla Bermúdez

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.