Heinze: Depoimento de Pazuello na CPI da Covid é importante para oposição
O senador Luís Carlos Heinze (PP-RS), membro suplente da CPI da Covid-19, acredita que o depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello na comissão parlamentar de inquérito trará informações importantes tanto para opositores como aliados do governo.
Em participação no UOL Debate, Heinze ainda disse que é um direito de Pazuello permanecer em silêncio, isto é, de não responder a perguntas que possam, de alguma forma, incriminá-lo. Ele conseguiu no STF (Supremo Tribunal Federal) esse direito para o depoimento previsto para quarta-feira (19).
"Essa solicitação é um direito que ele tem. Não tem nada a ver com corrupção. Ele tem muitas informações que pode passar, e deve passar, porque ele ficou bastante tempo à frente do ministério e comandando essa pandemia. Ele vai explicar tudo aquilo que aconteceu no período que ele foi ministro da Saúde", disse o senador, que tem se apresentado como um defensor do conduta do governo federal na pandemia.
Ele vai passar informações que serão bem-vindas para a CPI, tanto para oposição como para a situação. Tem informações importantes e nós estamos tranquilos em relação a sua fala.
Já o senador Rogério Carvalho (PT-SE), também presente no UOL Debate mediado pela apresentadora Fabíola Cidral e pela repórter Luciana Amaral, disse que um possível silêncio em algumas perguntas pode comprometer Pazuello. Ele lembrou de uma frase dita em conversa com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) — de que um mandava e outro obedecia — no episódio em que o ex-ministro foi desautorizado em um acordo de compra pela vacina CoronaVac.
"Tudo que o Pazuello não responder ele só vai reforçar a tese clara de que o governo agiu para promover a expansão da pandemia. Ele se declarou, um manda e outro obedecia. Ele na verdade obedecia o principal pelo Ministério da Saúde que era o presidente da República. Ele é corresponsável. Mas tem um responsável maior, que é o presidente da República. Ele agiu e dirigiu o combate da pandemia de expor a população à imunização natural", disse.
Renan é criticado por Heinze e defendido por Carvalho
A atuação de Renan Calheiros (MDB-AL) na relatoria da CPI da Covid foi alvo de críticas de Heinze, para quem o "relatório já está feito" diante da sua postura nas primeiras semanas de comissão.
"Já na primeira fala do Renan Calheiros e outros colegas já disseram que o relatório está feito. Para mim já está feito o relatório dele, pode ouvir 10, 15, 20 pessoas. Nós somos minoria na comissão, somos 4 senadores titulares que votam. Já tem o resultado da CPI. Para mim não tem problema nenhum", disse.
Rogério Carvalho, por sua vez, acredita que Renan está desempenhando de forma adequada seu papel. "Acho que o senador Renan tem sido bastante preciso nos questionamento que tem feito. Acho que ele está indo bem, está colhendo bastante informação, bem robusto e consistente. Qual vai ser o relatório, como vai ser, nós vamos ter a oportunidade de apreciar no momento que ele apresentar na votação", disse.
Responsabilidade do governo
Para Carvalho, os depoimentos prestados à CPI até o momento deixam "evidente" a responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro sobre a situação da pandemia no país. "Ele agiu para que a população conseguisse imunidade naturalmente, a chamada imunidade de rebanho", disse o senador, pontuando que Bolsonaro "sabia dos riscos e da gravidade da doença".
O parlamentar citou ainda medidas como tentativas do presidente de inibir governadores e prefeitos de adotarem o isolamento social e a falta de ações em busca de vacinas por parte do governo.
Já temos elementos suficientes para comprovar crime contra a saúde pública do povo brasileiro.
Rogério Carvalho (PT-SE) em participação no UOL Debate
Heinze, por outro lado, negou que haja tal comprovação, e citou a responsabilidade de governadores e prefeitos no atendimento à população com recursos distribuídos pelo governo federal. O senador relacionou a situação da pandemia no país ao que ele classificou como um "debate ideológico" em torno da cloroquina, um dos medicamentos defendidos por Bolsonaro e seus apoiadores como parte de um suposto tratamento precoce contra a covid-19.
"[Precisamos] Tirar a ideologia de lado, tirar a big pharma de lado e ver o tratamento eficaz", disse ele. Remédios como a cloroquina e a hidroxicloroquina, no entanto, são comprovadamente ineficazes no tratamento da doença. Estudos apontam que, além de não terem eficácia contra a covid, esses medicamentos estão associados a mais mortes.
Quebra de sigilo
A CPI da Covid pode votar, nesta semana, se pede ou não a quebra do sigilo telefônico e telemático de um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), e de ex-integrantes do governo, como o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten.
Em depoimento à CPI, o gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, confirmou que, apesar de não ter cargo no governo, Carlos Bolsonaro esteve presente em uma reunião no Palácio do Planalto com membros da farmacêutica. O mesmo não foi dito por Wajngarten em seu depoimento.
O senador Heinze afirmou não ser contrário à quebra dos sigilos, caso ela seja aprovada. Já Carvalho declarou que a quebra dos sigilos pode "esclarecer se houve ou não algum beneficiado" nas tratativas realizadas com a Pfizer.
Falta de vacinas e 3ª onda no Brasil
O senador do PT afirmou ainda que a falta de vacinas no Brasil pode levar a uma terceira onda da pandemia do coronavírus no país. "Só agora o Brasil está tentando comprar vacinas, que vão chegar no fim do ano. Podemos ter uma terceira onda de covid", declarou.
Criticando atitudes do presidente, como a promoção de aglomerações em meio à pandemia, o parlamentar afirmou que "o que salva vidas é a vacina, é não deixar as pessoas se infectarem".
Heinze, por outro lado, disse ser equivocada a afirmação de que o governo federal não tinha interesse na compra de vacinas. "Foi prioridade [do governo]", afirmou, citando que "até duas semanas atrás, a Inglaterra estava à frente do Brasil em número de pessoas vacinadas, e já passamos à frente".
Dados da plataforma Our World in Data, no entanto, apontam que o Reino Unido ainda tem um número absoluto de vacinados com pelo menos uma dose maior que o Brasil. No dia 15 de maio, o Reino Unido tinha 36,57 milhões de imunizados, enquanto o Brasil tinha 35,73 milhões.
Considerando o número em relação à população dos países, a diferença é ainda maior. Enquanto o Reino Unido tinha 53,87% da sua população vacinada com ao menos uma dose no dia 15 de maio, no Brasil o índice era de 16,81% na mesma data.
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