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CPI: Pazuello se contradiz e nega ordem do Planalto para recusar CoronaVac

Rayanne Albuquerque e Hanrrikson de Andrade*

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

19/05/2021 12h10Atualizada em 19/05/2021 13h43

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nunca mandou o Ministério da Saúde desfazer qualquer contrato com o Instituto Butantan para aquisição de doses da CoronaVac, segundo afirmou hoje (19) o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à CPI da Covid.

A declaração evidencia uma contradição do ex-membro do governo em relação a um vídeo publicado em outubro de 2020, período em que ele se recuperava de contaminação por covid-19. Na ocasião, logo depois de a pasta federal recuar na compra de 46 milhões de doses do imunizante, o então ministro apareceu publicamente ao lado de Bolsonaro e afirmou:

"Senhores, é simples assim: um manda e o outro obedece. Mas a gente tem um carinho, entendeu? Dá para desenrolar, dá para desenrolar."

O episódio ficou marcado como uma desautorização pública do chefe frente à condução do Ministério da Saúde e, em especial, aos procedimentos para compra de vacinas contra a covid-19.

A CoronaVac foi desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com uma fabricante chinesa, a Sinovac, responsável pela origem dos estudos e fornecedora dos insumos necessários. O Butantan faz parte da estrutura do governo de São Paulo, comandado por um dos rivais de Bolsonaro, o tucano João Doria.

Além disso, na gestão Bolsonaro, houve vários episódios de atritos com a China e demonstrações por parte de membros do governo de antipatia com o país asiático. O acúmulo de desgastes nesse sentido foi um dos elementos que colaboraram para a demissão do ex-chanceler, Ernesto Araújo.

Nunca o Presidente da República mandou eu desfazer qualquer contrato, qualquer acordo com o Butantan. Em nenhuma vez. E eu gostaria de colocar uma coisa aqui diretamente? eu queria lembrar que o presidente fala como chefe de estado, chefe de governo, como comandante-chefe das forças armadas, chefe da administração federal, mas fala também como agente politico
Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde

Em relação à frase "um manda, outro obedece", Pazuello tentou minimizar o impacto das interpretações sobre o assunto, e justificou suas declarações alegando que esse é "um jargão simplório, colocado para discussões de internet".

Bolsonaro, na altura, falou em ter sido "traído" por Pazuello diante das compras do imunizante contra a covid-19 desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. Em seguida, à época, o presidente e o então ministro da Saúde se encontraram para acabar com rumores sobre a demissão do general.

A visita ocorreu fora da agenda oficial dos dois e foi transmitida por uma rede social.

"Quem está aqui é um homem comum"

O ex-ministro declarou na abertura da CPI da Covid, na manhã de hoje, que quem está sentado diante do colegiado é "um homem comum". Hoje, o ex-gestor do ministério responsável por conter o avanço da pandemia do coronavírus no Brasil prestará esclarecimentos sobre como a sua gestão foi conduzida.

Senadores, inicio minhas considerações dizendo que quem está aqui sentado hoje é um homem comum; um filho que perdeu sua mãe muito cedo e que perdeu seu pai há pouco tempo
Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde

O general apareceu para prestar depoimento como testemunha sem farda oficial e usando máscara cirúrgica. Durante o texto que leu na abertura das atividades da Comissão Parlamentar de Inquérito, Eduardo Pazuello disse que, inicialmente, tinha o intuito de passar apenas 90 dias à frente do Ministério da Saúde e que pretendia voltar ao Exército em seguida.

Ao longo de toda a sessão, Pazuello terá o direito de não responder aos questionamentos que possam levá-lo a produzir provas contra si mesmo.

A gestão de Pazuello durou entre 16 de maio de 2020 e 23 de março de 2021. O ex-ministro deve ser questionado ao longo do dia principalmente em relação ao agravamento da crise sanitária no Amazonas e a falta de oxigênio para os pacientes internados.

* Colaborou Ana Carla Bermúdez

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.