Campanha nas redes contra vacina prejudicou imagem do Butantan, diz Dimas
O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse hoje que a campanha nas redes sociais contra a CoronaVac, vacina desenvolvida em parceria com o laboratório chinês Sinovac, foi extremamente prejudicial à credibilidade da instituição —pertencente à estrutura do governo de São Paulo.
O Executivo paulista é chefiado por João Doria (PSDB), adversário do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Desde o início da pandemia, entre fevereiro e março do ano passado, há uma cenário de polarização e troca de farpas entre os dois. Esse foi o pano de fundo de uma disputa política entre governos estadual e federal acerca das negociações para compra das doses de CoronaVac produzidas pelo Butantan.
Nas redes sociais, apoiadores do mandatário do Palácio do Planalto e políticos associados ao "bolsonarismo" contestaram a eficácia do imunizante e levantaram dúvidas a respeito da parceria com a China —o país chegou a ser expressamente atacado pelo filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que atribuiu culpa pela pandemia à nação asiática.
"Questionar o Butantan significa questionar a qualidade da saúde pública brasileira. Essa campanha que foi feita pelas mídias sociais desqualificando a vacina, o Butantan, sem duvida nenhuma trouxe prejuízos à imagem do instituto", afirmou o depoente à CPI da Covid.
Ele relatou dificuldade para o recrutamento de voluntários para os testes. "As pessoas não se voluntariavam à medida que faziam antes de todos esses ataques que foram desferidos, mas, depois, com a introdução da vacinação, essa percepção pública desapareceu", afirmou ele.
Ainda segundo Covas, "quando começou a vacinação, a imagem mudou muito" já que a Coronavac" foi a primeira vacina a ser usada e a que sustentou o PNI (Plano Nacional de Imunização) até muito recentemente".
"Se houve dificuldades foi por parte do Ministério nesse momento crítico aí, a partir de outubro do ano passado, que impediu a vacinação de milhões de pessoas num prazo anterior ao que começou", disse.
O dirigente do Butantan lamentou a marca de óbitos no Brasil em decorrência da covid-19, mais de 450 mil mortes, afirmando que essa situação "poderia ter sido amenizada" com a aprovação da vacina.
Oferta de 100 milhões de doses e atraso nas negociações
Covas relatou que o Butantan fez uma oferta de 100 milhões de doses da CoronaVac ao governo Jair Bolsonaro (sem partido) em outubro de 2020. Segundo ele, até então, não havia "resposta positiva" do Ministério da Saúde em relação às negociações para aquisição do imunizante desenvolvido em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
Nesse mesmo período, Bolsonaro contestava publicamente a eficácia da CoronaVac e, em um contexto de disputa política com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que não compraria o imunizante.
Durante a audiência de hoje na CPI, o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), exibiu um vídeo de uma live do presidente na qual ele dá um recado ao tucano: 'Arruma outro para pagar a sua vacina'.
De acordo com o depoimento de Covas, enquanto o chefe do Executivo federal manifestava publicamente sua resistência à CoronaVac, o Ministério da Saúde acabou por protelar as negociações com o Instituto Butantan (que pertence à estrutura do governo de SP) e recusou uma sugestão de apoio financeiro —os recursos seriam utilizados para reformar uma fábrica destinada a produção própria do imunizante.
A oferta de 100 milhões foi a segunda enviada ao governo federal pelo Instituto Butantan. Em julho de 2020, a entidade já havia se colocado à disposição para produzir 60 milhões de doses, com previsão de entrega no último trimestre do ano passado.
O dirigente do Butantan afirmou que, à época, iniciou as tratativas em conversas com o então ministro Eduardo Pazuello. No entanto, "as conversações não prosseguiram porque houve uma manifestação do presidente da República dizendo que a vacina não seria, de fato, incorporada".
Covas relatou que as conversas começaram a evoluir a partir de outubro, com uma "sinalização" por parte do Executivo federal de "existir uma medida provisória para atender esses pleitos".
"Tudo, aparentemente, estava indo muito bem, tanto é que, no dia 20 de outubro, eu fui convidado pelo então ministro da Saúde, general Pazuello, para uma cerimônia no Ministério da Saúde onde a vacina seria anunciada como sendo uma vacina do Brasil", rememorou.
"Até, na sua fala, [Pazuello] disse: 'Esta será a vacina do Brasil: a vacina do Butantan, a vacina do Brasil'. E [o ex-ministro] anunciou, naquele momento, publicamente, com a presença de governadores, de parlamentares, que iria ser feita uma incorporação de 46 milhões de doses."
O episódio narrado pelo dirigente do Butantan diz respeito ao recuo do Ministério da Saúde em relação ao processo de aquisição da CoronaVac. Na ocasião, o ex-ministro Eduardo Pazuello foi desautorizado publicamente por Bolsonaro, que ordenou que a pasta cancelasse a compra depois que as partes já haviam costurado o acordo.
"A partir desse ponto, é notório que houve uma inflexão, e eu digo isso porque, no final da reunião, no dia 20, com a presença de vários governadores, vários parlamentares, nós saímos de lá muito satisfeitos com a evolução dessas tratativas e achávamos que, de fato, iríamos ter resolvido parte desse problema."
*Colaborou Ana Carla Bermúdez
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