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'Eventual impeachment será consequência de relatório da CPI', diz Randolfe

Randolfe Rodrigues participa do programa "Roda Viva" - TV Cultura
Randolfe Rodrigues participa do programa "Roda Viva" Imagem: TV Cultura

Do UOL, em São Paulo

31/05/2021 22h44

O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse hoje que um eventual pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) será consequência do relatório final da comissão, que investiga ações e omissões do governo federal em meio à pandemia. A declaração ocorreu durante participação no programa "Roda Viva", da TV Cultura, na noite de hoje.

"Um eventual impeachment é uma consequência do relatório final. Temos que reunir elementos para isso. A CPI até aqui já produziu resultados sanitários. Veja que até a família do Zé Gotinha já voltou para a televisão, apresentado pelo Ministério da Saúde. O presidente da República, num rápido surto, em alguns momentos, chegou a utilizar máscara", disse Randolfe, em tom de ironia.

"O curso das investigações é que vai apontar as necessidades das medidas sanitárias de contenção da pandemia e também da resposta a esta pergunta: quem são os responsáveis pelo agravamento da pandemia no país?", completou, em seguida.

Instalada no dia 27 de abril, o que representou uma derrota política para o presidente Bolsonaro, a CPI da Covid completa um mês de funcionamento, com polêmicas, brigas e depoimentos considerados essenciais pelos senadores, como a participação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.

Agora, a cúpula da comissão no Senado quer iniciar uma segunda fase dos trabalhos com o objetivo de materializar provas, conforme apontou reportagem do jornal "Folha de S.Paulo". Há também uma tentativa de provar a existência de um gabinete paralelo ao Ministério da Saúde na área de ações de combate à pandemia que não são recomendadas pela ciência.

Questionado sobre investigação de estados e municípios —como deseja Bolsonaro e aliados com objetivo de tirar o foco da investigação sobre governo federal—, Randolfe disse não ter dúvidas de que houve roubalheira em vários estados, mas ressaltou que trata-se de uma "manobra dispersiva" do presidente.

"Não tenho dúvidas de que em vários estados teve roubalheira. Inclusive alguns processos estão em curso. Um governador de estado, o do Rio de Janeiro, foi afastado, outro está em processo de impeachment, de Santa Catarina. O do Amazonas também deve receber processo no STJ [Superior Tribunal de Justiça]. Aliás, essa celeridade do procurador-geral da República em relação aos governadores, gostaria também que tivesse em relação ao governo federal e ao presidente da República. Se tivesse tido, nem precisaria ter tido CPI", alfinetou o senador, referindo-se ao procurador-geral da República Augusto Aras. "Mas se for possível convocar governadores, será possível a convocação do presidente da República", concluiu.

"Bolsonaro conspira todos os dias"

Crítico à atuação do presidente em meio à crise sanitária, Randolfe Rodrigues afirmou ainda que o presidente "aprofunda o caos" e "conspira todos os dias" para que o brasileiro perca a esperança em relação à democracia.

"O presidente da República conspira todos os dias pra que cada um dos brasileiros perca a esperança no funcionamento da democracia, no funcionamento das instituições democráticas. Ele trabalha todo dia no aprofundamento do caos", afirmou o senador.

"A célebre obra 'Os Engenheiros do Caos' (ed. Vestígio, 192 páginas) encaixa como uma luva ao perfil de atuação do senhor Jair Bolsonaro. Ele quer para se perpetuar no poder e fazer sequência aos seus interesses, e ele só conseguirá se derrubar todo o establishment democrático, todas as conquistas democráticas que temos", completou, em seguida.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.