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CPI da Covid ouve amanhã médica pró-cloroquina; especialistas debatem na 4ª

Médica Nise Yamaguchi será ouvida pela CPI na próxima terça (1º) - Fernando Moraes/UOL
Médica Nise Yamaguchi será ouvida pela CPI na próxima terça (1º) Imagem: Fernando Moraes/UOL

Hanrrikson de Andrade e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

31/05/2021 04h00

A CPI da Covid, no Senado, entra hoje na quinta semana de depoimentos e tem pela frente entrevistas com perfil técnico, mas que podem contribuir para o aumento da tensão entre aliados do presidente Jair Bolsonaro e a oposição.

Amanhã (1º), os parlamentares ouvem a médica Nise Yamaguchi, que defende a hidroxicloroquina e o chamado "tratamento precoce" e chegou a ser cotada para assumir o Ministério da Saúde no ano passado. Na quarta-feira, a comissão terá um debate entre especialistas. Não há previsão de sessão na quinta.

A audiência com a imunologista é aguardada com expectativa por parte de senadores que formam o bloco que une a oposição e a ala independente, porém contrária ao governo. A médica, que integrou a chamada "estrutura de assessoramento paralelo" de Bolsonaro na pandemia, será confrontada com questões relacionadas ao incentivo do uso de cloroquina e hidroxicloroquina — embora não haja evidências científicas de sua eficácia contra a doença.

O assunto tem sido um dos focos dos congressistas pelo fato de Bolsonaro ser entusiasta desses medicamentos, na contramão do que diz a comunidade científica. Em 2020, o Planalto acionou o Exército para aumentar a produção da cloroquina, cuja prescrição foi chegou a ser recomendada pelo Ministério da Saúde.

O diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, afirmou à CPI da Covid que Nise parecia "mobilizada" com a possibilidade de mudar a bula da cloroquina para que o uso do remédio contra a covid-19 passasse a constar no papel. A médica diz que ele não falou verdade.

A sugestão foi discutida e rechaçada em reunião no Palácio do Planalto, segundo Torres.

Debate sobre medicamentos

A ideia da CPI é também aproveitar esta semana para promover debates com especialistas favoráveis e contrários ao uso de medicamentos sem eficácia científica comprovada na resposta ao coronavírus. Outros médicos, cujos nomes ainda não foram oficialmente confirmados, devem ser ouvidos na quarta.

A previsão é que falem à CPI:

  • Clovis Arns da Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia;
  • Zeliete Zambon, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade;
  • Francisco Eduardo Cardoso Alves, especialista em Infectologia pelo Hospital Emílio Ribas;
  • e Paulo Porto de Melo, neurocirurgião.

A Comissão Parlamentar de Inquérito foi instalada há um mês e busca apurar ações e eventuais omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus no Brasil, assim como apurar o uso de verbas da União repassadas a estados e municípios.

O prazo da comissão é de 90 dias, que pode ser prorrogado.

Na semana passada, a CPI aprovou a reconvocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga e de seu antecessor, o general Eduardo Pazuello, durante reunião marcada por brigas entre senadores e tentativa de acordo frustrada. A comissão também deliberou a convocação de nove governadores em exercício do mandato e do ex-governador do Rio Wilson Witzel.

Na última sexta, um grupo de governadores de 17 estados e do Distrito Federal entrou com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a convocação para depor na CPI.

Segundo o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), os governadores não se negam a colaborar com a CPI, mas na condição de convidados, e não convocados.

Veja a previsão dos demais depoimentos de junho (o cronograma pode sofrer alterações):

  • Terça (8): Nísia Trindade, presidente da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz);
  • Quarta (9): Elcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde sob comando de Pazuello;
  • Quinta (10): Markinhos Show, ex-assessor de Pazuello;
  • Sexta (11): Cláudio Maierovitch, sanitarista, e Nathália Pasternak, microbiologista e pesquisadora da USP;
  • Terça (15): Marcellus Campêlo, secretário de Saúde do Amazonas;
  • Quarta (16): Wilson Witzel, ex-governador do Rio de Janeiro;
  • Quinta (17): Carlos Wizard, empresário;
  • Terça (22): Filipe Martins, assessor para assuntos internacionais da Presidência da República;
  • Quarta (23): Presidente do Instituto Gamaleya (responsável pelo desenvolvimento da vacina russa Sputnik V);
  • Quinta (24): Jurema Werneck, representante do Movimento Alerta;
  • Terça (29): Wilson Lima, governador do Amazonas;
  • Quarta (30): Helder Barbalho, governador do Pará.

Para 1º de julho, está prevista a fala de Wellington Dias, do Piauí.

Dez depoimentos em um mês:

  • Antonio Barra Torrres, da Anvisa;
  • Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello, ex-ministros da Saúde;
  • Marcelo Queiroga, atual ministro da Saúde;
  • Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo;
  • Carlos Murillo, gerente-geral da Pfizer na América Latina;
  • Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores;
  • Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde;
  • Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan

Último a depor, Dimas contradisse Pazuello e culpou o presidente Jair Bolsonaro pelo atraso nas negociações da compra da vacina CoronaVac pelo governo federal.