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Queiroga 'lamentou e disse que meu nome não ia passar', diz ex-secretária

Andréia Martins e Hanrrikson de Andrade*

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

02/06/2021 11h36Atualizada em 02/06/2021 15h14

A médica infectologista Luana Araújo relatou que foi avisada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de que não seria nomeada como secretária de enfrentamento à covid-19, dez dias depois de ter sido indicada para o cargo pelo próprio ministro. Ela também afirmou desconhecer um gabinete paralelo de aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para medidas de enfrentamento à pandemia.

"Ele me disse que lamentava e que meu nome não ia passar pela Casa Civil", disse ela, em depoimento à CPI da Covid, reiterando depois que usou o termo "Casa Civil" por "entender que é onde o nome deve ser aprovado ou não".

Ela ainda declarou que não me comunicada sobre a razão pela qual sua nomeação não foi aprovada. "Simplesmente fui comunicada de que, infelizmente, essa nomeação não sairia. Eu agradeci profundamente a oportunidade de servir ao meu país, peguei minhas coisas e voltei para Belo Horizonte", completou.

Luana explicou que não estranhou a demora em sua nomeação oficial. Ela relatou que foi avisada que existia um período entre a criação da secretaria e um processo chamado "apostilhamento de cargos", que deveria ser feito para que a nomeação dela fosse publicada no Diário Oficial.

"Minha nomeação estava prevista para uma segunda-feira, não saiu. Na terça-feira, não saiu. Na quarta-feira eu trabalhei normal e já tinha entendido que aquilo não ia acontecer. Na quarta-feira a noite eu fui comunicada que a minha nomeação não sairia", contou ela no depoimento.

Sobre a relação com Queiroga, Luana elogiou o ministro. "Encontrei um ministro proativo, competente, orientado pelos critérios científicos. E o contato que eu tive dentro do ministério foi rápido e com poucas pessoas em um momento de crise. Vi um ministro comprometido e com uma equipe próxima a ele", declarou.

Questionada se seu posicionamento científico — a médica não apoia o uso da cloroquina no tratamento contra covid-19 — influenciou a decisão, ela disse não saber. "Minha posição pública não é uma opinião. Veja, na medicina, a gente tem opinião até o momento que a gente substitui a opinião por evidências", disse. Depois, ao responder a mesma pergunta feita por outro senador, disse que, se o veto teve essa motivação, ela se sentia "envergonhada".

"Essa hipótese me deixa, nem frustrada, mas extremamente envergonhada. Me coloquei à disposição do atual governo para que a gente junto chegasse a uma solução. Se o veto ao meu nome foi por conta da minha posição científica técnica, necessária, a mim só me resta lamentar. Eu não sei se foi, mas se foi, eu considero isso trágico".

Sobre a existência de um "gabinete paralelo" ao ministério da Saúde aconselhando o presidente Bolsonaro no enfrentamento à covid-19, Luana disse desconhecer tal grupo.

"Eu não tive informações sobre um aconselhamento paralelo, não encontrei ninguém que eu pudesse analisar que fizesse parte de um aconselhamento paralelo. Não encontrei o presidente da República, não o conheci. Eu até brincava dentro do ministério da Saúde que a área que tinha sido dedicada para a secretaria ficava no final de um anexo, distante do gabinete do ministro. Eu brincava com eles que eu ia lá para a minha sala em Ceilândia (cidade satélite de Brasília). Fiquei praticamente isolada nesse período", afirmou.

*Com colaboração de Ana Carla Bermúdez

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.