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Cloroquina foi defendida por ela, diz Mandetta sobre Nise

Luiz Henrique Mandetta durante depoimento na CPI da Covid - Jefferson Rudy/Agência Senado
Luiz Henrique Mandetta durante depoimento na CPI da Covid Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Do UOL, em São Paulo

03/06/2021 15h57

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta disse que a médica Nise Yamaguchi defendeu a mudança da bula da cloroquina por meio de decreto presidencial. "Foi defendido por ela e defendido como caminho [para tratamento da covid-19]", disse em entrevista para Globo News.

Essa semana, no entanto, Nise negou, em depoimento à CPI da Covid, que tenha feito a proposta e que de "forma alguma" escreveu o decreto. Apontada como uma das médicas próximas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ela negou ter feito reuniões a sós com ele.

"Eu não fiz nenhuma minuta. Inclusive, eu não conhecia esse papel. Essa é a reunião, a sala estava bastante cheia e eu não conheço as pessoas que estavam lá. E eu descobri, ao final da reunião, onde nós discutimos uma série de itens, eles me pediram para conversar sobre a questão da hidroxicloroquina", disse a médica.

O ex-ministro da Saúde, no entanto, disse que lembra da reunião, porque ela aconteceu no dia que teria sido exonerado do cargo. "Assim que acabou a reunião de ministros, imediatamente pediram para que eu subisse até o 4º andar, porque teria uma reunião com médicos. Não sabia, mas eles já estavam preparando essa coisa paralela. Tinha umas doze pessoas, essa médica [Nise], outros médicos", contou Mandetta.

Sobre a mesa, segundo o ex-ministro, estava um papel com o decreto presidencial para incluir a cloroquina. O ex-chefe da pasta já havia relatado a situação durante seu depoimento à CPI, mas contou também que o presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) havia negado o pedido.

Durante a entrevista para Globo News, Mandetta adotou um tom mais polido, mas já chegou a comparar a médica com um urubu na carniça. "Eu fui ao Palácio do Planalto, era o dia em que eu seria demitido [conforme anunciavam os jornais]. A Nise estava lá com outro médico, um cardiologista. Estavam como urubu na carniça", disse em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

Esses pontos de vista jamais poderiam ser tratados como política pública. A ciência não é feita por achismo. Pode um milhão de pessoas achar, você tem que submeter as regras para saber se aquilo tem validade,
Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde

Chefe da Saúde de janeiro de 2019 a abril de 2020, Mandetta foi demitido após divergências com o Bolsonaro.

'Na vacinação, Brasil é uma Ferrari cujo motorista decidiu não abastecer', diz Mandetta

O ex-ministro também comentou sobre o problema de vacina que o país vem enfrentando. Para ele, a falta de imunizantes é mais grave do que "essa coisa de cloroquina", que significa uma "guerra de narrativa".

"Nós temos uma Ferrari parada com pouca gasolina e além disso o motorista decidiu não abastecer depois de muita gente ter perdido a corrida da vida. O Brasil era o grande cartão de visita", disse ele.

Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, o governo de Bolsonaro teria rejeitado em 2020 uma proposta da farmacêutica Pfizer que previa 70 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 até junho deste ano.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.