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"Nem Pfizer confiava no que estava vendendo para gente", diz Elcio Franco

Lucas Mendonça e Gilvan Marques

Do UOL, em Brasília e São Paulo

09/06/2021 16h25

Em depoimento à CPI da Covid, na tarde de hoje, o coronel Elcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, afirmou que nem mesmo a farmacêutica americana Pfizer confiava na vacina que estava vendendo ao Brasil. A declaração foi feita em resposta à pergunta do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado.

"Senador, diferentemente de outros laboratórios com os quais tratávamos, nos pareceu que ela queria se isentar da responsabilidade civil sobre efeitos colaterais graves. Nem ela confiava no que estava vendendo para a gente. Então essa foi uma primeira impressão", disse Franco, durante sabatina a senadores.

Franco continuou citando reportagens —dentre elas, a do UOL Notícias— sobre o fato de a Pfizer ter feito exigências a países pobres que não foram feitas aos Estados Unidos, e afirmou que outros países também tiveram problemas com cláusulas do contrato, que ele definiu como "draconianas".

"Essas ações geram incertezas durante um processo de negociação. E também nós temos notícias como o presidente da Argentina. O UOL Notícias informando das cláusulas 'draconianas' da Pfizer. Além de outros países que também tiveram dificuldades devido às imposições da Pfizer que o senhor citou aí", concluiu.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), questionou o coronel sobre a negociação das vacinas da Pfizer, e leu todas as propostas de e-mail da Pfizer ao governo brasileiro: chegou ao número de 81 correspondências. "90% delas sem respostas" falou.

"Algumas eram respostas de demandas nossas. Outros eram emails que mandavam repetidamente ao ministério, com o mesmo conteúdo. Mandar quatro emails em um dia com o mesmo conteúdo?", indagou o ex-secretário, que disse que a farmacêutica apresentou em agosto o primeiro memorando de entendimento. "E ele tinha aquelas cláusulas que já falamos. Nesse memorando informaram que não garantiam sequer o sucesso do desenvolvimento da vacina", justificou.

*Colaborou Ana Carla Bermúdez

*Com informações da agência Estadão Conteúdo

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.