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Randolfe posta suposta nota da compra suspeita da Covaxin pelo governo

Segundo Randolfe, acordo só não foi adiante porque o servidor Luís Ricardo Miranda denunciou a suspeita - Jefferson Rudy/Agência Senado
Segundo Randolfe, acordo só não foi adiante porque o servidor Luís Ricardo Miranda denunciou a suspeita Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Do UOL, em São Paulo

23/06/2021 19h09Atualizada em 23/06/2021 20h36

O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), publicou no Twitter uma suposta nota que seria paga pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido) durante a negociação para a compra da vacina Covaxin. Segundo o parlamentar, o acordo só não foi adiante porque o servidor Luís Ricardo Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde, denunciou a compra suspeita.

"Aqui está a nota de empenho da Precisa Medicamentos, para pagamento das doses da vacina Covaxin. Só não houve pagamento porque o servidor denunciou. Já estava tudo pronto!", disse Randolfe.

Ontem, em entrevista a O Estado de S. Paulo, o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF), irmão de Luís Ricardo, disse ter alertado Bolsonaro e o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sobre um suposto esquema de corrupção envolvendo a compra da Covaxin. Ele explicou ter se encontrado com o presidente em 20 de março para levar a denúncia sobre o caso — um mês após o governo assinar o contrato para aquisição da vacina.

A empresa Bharat Biotech, que produz a vacina Covaxin contra a covid-19, afirmou que tem praticado um preço "transparente" em suas exportações de doses. A fabricante pontuou ainda que o valor estipulado no acordo com o Brasil está dentro do previsto na tabela de preços da companhia para o mercado internacional.

Ontem, o Estadão publicou uma matéria mostrando que o valor do acordo entre o Brasil e a Índia seria 1.000% superior ao que foi indicado em telegramas do Itamaraty, seis meses antes. Em 2020, a diplomacia estimava que o valor seria de US$ 1,34 por dose, cerca de 100 rúpias. Em dezembro, outro comunicado diplomático dizia que o produto fabricado na Índia "custaria menos do que uma garrafa de água".

Em fevereiro deste ano, porém, o Ministério da Saúde pagou US$ 15 por unidade (R$ 80,70, na cotação da época) — a mais cara das seis vacinas compradas até agora.

Resposta a Onyx

A publicação de Randolfe é uma reação às declarações do ministro Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência, que negou ter havido sobrepreço na compra da Covaxin e disse que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu à Polícia Federal que investigue o deputado Luís Miranda.

A fala de Onyx foi feita pouco antes, em pronunciamento no Palácio do Planalto, que não foi aberto a perguntas de jornalistas. Na ocasião, o ministro questionou por que Miranda só "apareceu" agora, três meses depois do encontro com Bolsonaro, e o acusou de má-fé e denunciação caluniosa.

Não vai ser um qualquer, que inventa mentiras, falsifica documentos, e assaca contra um presidente e um governo. Senhor Luís Miranda, Deus está vendo. Mas o senhor também vai pagar na Justiça tudo o que fez hoje. Que Deus tenha pena do senhor.
Onyx Lorenzoni, sobre Luís Miranda

Em entrevista à GloboNews, Randolfe criticou as declarações do ministro. Segundo ele, o pedido de investigação à PF indica uma perseguição por parte do governo contra Luís Miranda.

"Acho que o governo deveria se preocupar em responder a mensagem, e não atacar o mensageiro. (...) O governo, em vez de instaurar um procedimento em relação a isso, o que é que o governo faz? Anuncia uma investigação e uma perseguição contra o mensageiro, no caso, contra o denunciante [Miranda]", opinou.

(Com Estadão Conteúdo)

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.