Randolfe posta suposta nota da compra suspeita da Covaxin pelo governo
O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), publicou no Twitter uma suposta nota que seria paga pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido) durante a negociação para a compra da vacina Covaxin. Segundo o parlamentar, o acordo só não foi adiante porque o servidor Luís Ricardo Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde, denunciou a compra suspeita.
"Aqui está a nota de empenho da Precisa Medicamentos, para pagamento das doses da vacina Covaxin. Só não houve pagamento porque o servidor denunciou. Já estava tudo pronto!", disse Randolfe.
Ontem, em entrevista a O Estado de S. Paulo, o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF), irmão de Luís Ricardo, disse ter alertado Bolsonaro e o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sobre um suposto esquema de corrupção envolvendo a compra da Covaxin. Ele explicou ter se encontrado com o presidente em 20 de março para levar a denúncia sobre o caso — um mês após o governo assinar o contrato para aquisição da vacina.
A empresa Bharat Biotech, que produz a vacina Covaxin contra a covid-19, afirmou que tem praticado um preço "transparente" em suas exportações de doses. A fabricante pontuou ainda que o valor estipulado no acordo com o Brasil está dentro do previsto na tabela de preços da companhia para o mercado internacional.
Ontem, o Estadão publicou uma matéria mostrando que o valor do acordo entre o Brasil e a Índia seria 1.000% superior ao que foi indicado em telegramas do Itamaraty, seis meses antes. Em 2020, a diplomacia estimava que o valor seria de US$ 1,34 por dose, cerca de 100 rúpias. Em dezembro, outro comunicado diplomático dizia que o produto fabricado na Índia "custaria menos do que uma garrafa de água".
Em fevereiro deste ano, porém, o Ministério da Saúde pagou US$ 15 por unidade (R$ 80,70, na cotação da época) — a mais cara das seis vacinas compradas até agora.
Resposta a Onyx
A publicação de Randolfe é uma reação às declarações do ministro Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência, que negou ter havido sobrepreço na compra da Covaxin e disse que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu à Polícia Federal que investigue o deputado Luís Miranda.
A fala de Onyx foi feita pouco antes, em pronunciamento no Palácio do Planalto, que não foi aberto a perguntas de jornalistas. Na ocasião, o ministro questionou por que Miranda só "apareceu" agora, três meses depois do encontro com Bolsonaro, e o acusou de má-fé e denunciação caluniosa.
Não vai ser um qualquer, que inventa mentiras, falsifica documentos, e assaca contra um presidente e um governo. Senhor Luís Miranda, Deus está vendo. Mas o senhor também vai pagar na Justiça tudo o que fez hoje. Que Deus tenha pena do senhor.
Onyx Lorenzoni, sobre Luís Miranda
Em entrevista à GloboNews, Randolfe criticou as declarações do ministro. Segundo ele, o pedido de investigação à PF indica uma perseguição por parte do governo contra Luís Miranda.
"Acho que o governo deveria se preocupar em responder a mensagem, e não atacar o mensageiro. (...) O governo, em vez de instaurar um procedimento em relação a isso, o que é que o governo faz? Anuncia uma investigação e uma perseguição contra o mensageiro, no caso, contra o denunciante [Miranda]", opinou.
(Com Estadão Conteúdo)
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