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Quem buscou armar denúncia sobre Covaxin 'vai se dar mal', diz Bolsonaro

Anaís Motta

Do UOL, em São Paulo

24/06/2021 22h15Atualizada em 24/06/2021 23h30

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) confirmou hoje ter se encontrado em março com o deputado Luis Miranda (DEM-DF), que tem denunciado supostas irregularidades nas negociações para a compra da vacina Covaxin, desenvolvida pelo laboratório indiano Bharat Biotech. Bolsonaro, porém, negou as suspeitas levantadas por Miranda e disse que "quem buscou armar isso daí vai se dar mal".

"Está essa onda toda aí... 'Agora pegamos o governo Bolsonaro', 'corrupto', 'negociando vacina com 1.000% de sobrepreço'... Não vou entrar em muitos detalhes, não. Coisa tão ridícula", disse o presidente durante sua live semanal. "Isso [conversa com Miranda] aconteceu em março. Quatro meses depois, ele resolve falar para desgastar o governo? O que ele quer com isso?"

Não gastamos um centavo com a Covaxin, não recebemos uma dose de vacina Covaxin. Que corrupção é essa? Assim como o Luis Miranda esteve aqui, ele podia ligar para mim e perguntar o que está acontecendo, eu responderia para ele. (...) Passaram-se quatro, cinco meses depois que ele conversou comigo... Conversou, sim, não vou negar. Não aconteceu nada, não entrou no Brasil uma só dose de Covaxin.
Jair Bolsonaro, em live de 24/06/2021

De fato, o governo ainda não pagou pela compra da Covaxin, mas assinou um contrato de compra de 20 milhões de doses em fevereiro e o valor da aquisição — R$ 1,6 bilhão — já foi empenhado pelo Ministério da Saúde. Isso quer dizer que este valor já foi reservado para a compra. A nota do empenho está pública no Portal da Transparência do governo federal.

Suposto esquema de corrupção

Nesta semana, em entrevista a O Estado de S. Paulo, Luis Miranda disse ter alertado Bolsonaro e o então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, sobre um suposto esquema de corrupção envolvendo a compra da Covaxin. Ele explicou ter se encontrado com o presidente em 20 de março para levar a denúncia sobre o caso — um mês após o governo assinar o contrato para aquisição da vacina.

De acordo com o parlamentar, ele apresentou documentos que apontavam irregularidades.

Em resposta às declarações de Miranda, Bolsonaro pediu à Polícia Federal que investigue o deputado e seu irmão, Luis Ricardo Miranda, agora ex-chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, "por denunciação caluniosa, fraude processual e prevaricação", segundo anunciou ontem o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni.

"Por que, depois de três meses, esse cidadão vem a público e fala isso? Isso caracteriza má-fé, denunciação caluniosa, a interesse de quem e por quê? Não vai ser um qualquer, que inventa mentiras, falsifica documentos, e assaca contra um presidente e um governo. Senhor Luís Miranda, Deus está vendo. Mas o senhor também vai pagar na Justiça tudo o que fez hoje", disse Onyx.

Sobrepreço de 1.000%

O "sobrepreço" citado por Bolsonaro também foi revelado pelo Estadão. Segundo reportagem publicada na terça-feira (22), documentos do Ministério das Relações Exteriores mostram que o governo comprou a Covaxin por um preço 1.000% maior do que, seis meses antes, era anunciado pela própria fabricante.

Durante a live, porém, Bolsonaro negou irregularidades nos preços e disse que os valores estão de acordo com os contratos fechados entre a Bharat Biotech e outros países.

"[Quero] Deixar claro que, em março desse ano, os auditores do TCU [Tribunal de Contas da União] não viram indícios de sobrepreço na vacina Covaxin. Por que 1.000%? Porque tinha uma nota que estava escrito 300 mil vacinas e faltava um zero, na verdade são 3 milhões, então dá mais ou menos 1.000%. O preço está de acordo com 13 outros países que manifestaram intenção de comprar a vacina", afirmou.

Por conta das denúncias, os irmãos Miranda devem depor amanhã à CPI da Covid. Eles já avisaram que pretendem entregar aos senadores toda a documentação que aponta, de forma "clara", as irregularidades no processo.

O MPF (Ministério Público Federal) também apura o caso. Isso porque o contrato para a compra de 20 milhões de doses da Covaxin tem valor total de R$ 1,6 bilhão — como anunciou o Ministério da Saúde em fevereiro —, o que equivale a US$ 15 dólares por dose. O preço superior ao negociado por outras vacinas no mercado internacional, a exemplo da Pfizer (US$ 10).

(Com Estadão Conteúdo e Reuters)