Topo

Jungmann: Crise na Saúde é exemplo para militares não ocuparem cargos civis

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

07/07/2021 13h01

O ex-ministro da Defesa Raul Jungmann afirmou hoje, no UOL Entrevista, que a crise no Ministério da Saúde é um exemplo do porquê o Brasil não deveria ter militares ocupando cargos civis.

Na avaliação dele, apenas cargos específicos precisam ser ocupados por membros das Forças Armadas.

[A crise na Saúde] é um exemplo claríssimo de porquê não devemos ter, salvo exceções, como GSI [Gabinete de Segurança Institucional] e Defesa, militares exercendo cargos civis. Não faz sentido, o Brasil tem grandes sanitaristas. Não precisamos colocar militares para exercer funções em que há civis com altíssima qualificação para fazer."

Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa

O ex-ministro defendeu contudo as Forças Armadas e afirmou reiteradas vezes que os militares "não aceitam corrupção". Na sua avaliação, a crise na Saúde "não é boa" para a imagem dos militares, mas é indevido atribuir a pecha de corrupção às Forças Armadas.

"O que aconteceu é algo que tem que ser investigado, as responsabilidades atribuídas e tendo ocorrido desvio ou corrupção, tem que ser punido."

Uma maior presença de militares no Ministério da Saúde se deu a partir da chegada do general Eduardo Pazuello para comandar a pasta. Na gestão dele, mais de 20 militares passaram a ocupar cargos-chave no ministério.

Jungmann diz que o aumento de militares na gestão Jair Bolsonaro é inapropriado. Para ele, a atuação do Congresso Nacional para regulamentar os militares da ativa dentro do governo ainda é tímida.

"Tenho máximo respeito pelo Congresso, mas tem que ter regulamentação para defender a hierarquia e a disciplina e o papel de instituições de Estado das Forçar Armadas. Até aqui o Congresso Nacional não tem assumido essa responsabilidade", afirma.

O ex-ministro vê incômodo por parte dos militares ao serem associados ao governo Bolsonaro.

Eles não falarão sobre isso. Os militares devem cumprir seu papel constitucional, e não é seu papel se envolver com a política. Não posso dizer a dimensão, mas com os [militares] que eu converso e tenho proximidade, da reserva, sobretudo, mas também da ativa, há um sentimento de mostrar que deriva da pressão do presidente envolver os militares."

Bolsonaro constrói narrativa para 2022, diz Jungmann

Jungmann disse ver com preocupação o cenário eleitoral para a disputa pela Presidência da República em 2022. Ele relembra os constantes ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral eletrônico em que o presidente diz que uma eventual derrota nas urnas será "inaceitável". Junto a isso, o ex-ministro destaca o grande apoio que Bolsonaro tem de policiais.

Na avaliação de Jungmann, a repressão desproporcional da Polícia Militar de Pernambuco a uma manifestação antibolsonarista, aliada ao discurso do presidente, é preocupante porque pode ser uma sinalização para outros grupos e outros tipos de comportamento.

Eu espero que existam freios a essa atitude do presidente, porque seria uma grave crise institucional se o atual presidente porventura não conseguir se reeleger e contestar no cargo o resultado das eleições."

Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa

'Bolsonaro tem perdido capacidade de governança'

Favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016, Jungmann diz que sua primeira reação ao assunto, independentemente do ocupante do cargo, é uma imensa tristeza.

Apesar disso, afirmou não se arrepender de ter apoiado o impedimento de Dilma. Em relação a um eventual impeachment de Bolsonaro, avalia que os erros cometidos pela gestão são graves, mas "como brasileiro", espera que a situação de crise seja revertida.

Desse jeito não se constrói uma democracia. Não depende de mim, mas eu preferia que não tivéssemos impeachment. Eu sei que a situação [atual] é de gravidade enorme, não posso minimizar, mas como brasileiro eu tenho vergonha de que a gente tenha que apelar sempre pra isso. (...) O que posso dizer é que ele tem perdido a capacidade de governança, o que me faz lembrar de Collor e Dilma os resultados que sabemos quais foram."