Mourão vê Amazônia na mira da China e 'ignora' aquecimento global em evento
O vice-presidente Hamilton Mourão disse ver a Amazônia na mira da China e não mencionou o aquecimento global hoje à tarde. Ele falou na abertura do ciclo de palestras sobre os interesses nacionais na questão ambiental no webinar promovido pelo IGVB (Instituto General Villas Bôas), organização não-governamental criada pelo ex-comandante do Exército.
O evento, que se estenderá até sexta-feira (27), ocorre duas semanas após a divulgação de um novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, vinculado à ONU (Organização das Nações Unidas), que constatou uma aceleração do aquecimento global. O documento, produzido por cientistas de mais de 60 países, apontou o fim das emissões de gases de efeito estufa como forma de minimizar o problema.
Mourão, que preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal, se posicionou na abertura do seminário virtual "Brasil 2022 - 200 Anos de Independência: Uma moderna visão da plataforma geopolítica da Amazônia e as ações estratégicas para defesa dos interesses nacionais na questão ambiental".
Nós temos hoje a ascensão da China como a primeira economia do mundo. Quando a gente olha o surgimento dessa nova potência e vemos o avanço que fazem na busca por regiões mais ricas na crise global da água, a Amazônia passa a ser alvo da política externa do governo chinês."
Hamilton Mourão
Mourão ainda citou a importância no combate aos focos de incêndio, crises ambientais e o objetivo de acabar com o desmatamento ilegal na região. Mas manifestou preocupação com posicionamentos de outros países que possam representar eventuais intervenções ou uma ameaça à soberania nacional.
"Há uma apropriação do que grupos de ecologistas e ambientalistas chamam hoje de capital natural ou intangível. Será que vale a pena essa troca de provocações nas questões internacionais? Nossa maior estratégia é assegurar a soberania dentro de cada recanto da Amazônia", argumentou.
Há propaganda no exterior que acaba convencendo lideranças políticas de que vale entrar nesse caminho de que a Amazônia é do mundo. Como a gente contrapõe essa campanha?"
Hamilton Mourão
O vice-presidente fez um alerta sobre os posicionamentos de outros países que já manifestaram preocupação com a Amazônia. Mas também fez referência aos ambientalistas que abordam a questão ambiental.
"O discurso de líderes de outros países se referindo a problemas da Amazônia é uma forma de intervenção. O seguinte passo é a propaganda negativa em relação ao que é a realidade da Amazônia Brasileira", disse.
Os recursos da Amazônia são extremamente ricos. E esse grande estoque de recursos mostra a importância geopolítica e a necessidade de estratégia como política de Estado. Eles [outros países] estão de olho para o que ocorre na Amazônia."
Hamilton Mourão
Ele ainda citou a criação um mapa estratégico para o conselho para tratar da preservação, desenvolvimento sustentável e combate a ilegalidades como plano de recuperação verde da Amazônia. Mas não falou sobre o aquecimento global em um evento que conta com palestras de dois conhecidos negacionistas sobre o aquecimento global.
Quem são os palestrantes
O meteorologista Luiz Carlos Baldicero Molion, que falou sobre "aquecimento global antropogênico: verdades e mentiras", é apontado como o principal nome no país do negacionismo da emergência climática. Em 2018, deu palestras patrocinadas por produtores rurais na Bahia.
"O aquecimento global é um mito: a temperatura mundial não está aumentando. Nós vivemos ciclos de aquecimento e resfriamento que sempre existiram", disse, segundo reportagem da Folha de S.Paulo.
Já o geólogo Geraldo Luís Saraiva Lino, que fala sobre "carbono zero: desafios", também é autor de textos contrários ao consenso científico mundial sobre a emergência climática. Ele é autor de um livro intitulado "A fraude do aquecimento global". "O infundado alarmismo 'aquecimentista' é promovido por interesses políticos e econômicos, que transformaram um debate científico em uma obsessão mundial e uma verdadeira indústria", escreveu na sinopse da obra.
Entre os palestrantes do evento apresentado pelo jornalista Alexandre Garcia, também estão os ministros Tarcísio Freitas (Infraestrutura) e Tereza Cristina (Agricultura) e militares. O webinar discutirá infraestrutura, meio ambiente, agronegócio, clima global, desenvolvimento, proteção de fronteiras e Amazônia no jogo do poder mundial. Outras duas edições estão previstas para os meses de setembro e outubro. Ao final, todas as palestras serão reunidas num e-book do webinar.
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