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MPT pede afastamento de Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares

Do UOL, em São Paulo

29/08/2021 22h06Atualizada em 30/08/2021 20h30

O MPT-DF (Ministério Público do Trabalho no Distrito Federal) entrou com uma ação na Justiça Trabalhista e pediu o afastamento imediato de Sérgio Camargo da presidência da Fundação Palmares por denúncias de assédio moral, perseguição ideológica e discriminação contra funcionários.

A ação civil pública, revelada pelo "Fantástico", da TV Globo, e confirmada posteriormente pelo órgão, foi ajuizada na última sexta-feira (27), após um ano de investigação e de 16 depoimentos, entre ex-funcionários, servidores públicos concursados, comissionados e empregados terceirizados.

Segundo o MPT, o procurador Paulo Neto, autor da ação, concluiu que há perseguição político-ideológica, discriminação e tratamento desrespeitoso por parte de Camargo.

Conforme o procurador, "os depoimentos são uníssonos, comprovando, de forma cabal, as situações de medo, tensão e estresse vividas pelos funcionários da Fundação diante da conduta reprovável de perseguição por convicção política praticada por seu presidente e do tratamento hostil dispensado por ele aos seus subordinados".

Os fatos apurados na investigação comprovam, segundo o órgão, que Camargo persegue os trabalhadores que ele classifica como "esquerdistas", promovendo um "clima de terror psicológico" dentro da instituição.

Para definir quem são os "esquerdistas" da Fundação Palmares, ele monitora as redes sociais dos trabalhadores e até mesmo associa o tipo de cabelo com aparência típica de "esquerdista", informou o MPT.

"Os relatos colhidos pelo MPT também confirmam o uso recorrente de palavrões e tratamento grosseiro contra os subordinados. A situação resultou no desligamento até mesmo de servidores concursados, que pediram para sair da Fundação em virtude do clima instalado a partir da chegada de Sérgio Camargo à presidência", diz o órgão.

A ação também requer que a Fundação Palmares "não permita, submeta ou tolere a exposição de trabalhadores a atos de assédio moral praticado por qualquer de seus gestores, além de cobrar, no prazo de 180 dias, diagnóstico do meio ambiente psicossocial do trabalho, realizado por profissional da área de psicologia social".

O MPT também pede que a Fundação Palmares e Camargo sejam condenados, a título de reparação por danos morais coletivos, no valor de R$ 200 mil, a serem pagos de maneira solidária.

Camargo foi nomeado para o cargo pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e se define como um "negro de direita, antivitimista, inimigo do politicamente correto e livre".

Em diversos momentos, ele se posicionou nas redes sociais contra a promoção da cultura afro-brasileira — ainda que esse seja o foco da Fundação Palmares.

O UOL entrou em contato com a Fundação Cultural Palmares para saber se a instituição ou Sérgio Camargo gostariam de se manifestar sobre o caso e aguarda retorno.

Camargo fala em "vermes de esquerda"

Nas redes sociais, Camargo agradeceu aos apoiadores e afirmou que "lida com vermes de esquerda" desde muito antes da sua nomeação ao cargo na fundação de valorização afro-brasileira.

Diante da investigação do MPT, Sérgio disse estar "ouvindo sonatas de Franz Schubert, com o mestre alemão do piano Wilhelm Kempff, e dando blocks na esquerdalha imunda".

A publicação de Camargo foi feita minutos após a veiculação da matéria na TV Globo sobre a ação do MPT.

Direitistas, não precisam pedir que eu aguente. Lido com vermes da esquerda desde muito antes da minha nomeação! Estou ouvindo as sonatas de Franz Schubert, com o mestre alemão do piano Wilhelm Kempff, e dando blocks na esquerdalha imunda. Rotina...Mas obrigado pelo apoio
Sérgio Camargo

O pianista Wilhelm Kempff, citado por Sérgio Camargo, realizou concertos como forma de propagandear e fortalecer o regime nazista na Alemanha.

Nesta segunda-feira, Camargo voltou às redes sociais e disse que o MPT "não tem autoridade para investigar servidores ou pessoas em cargos comissionados" e que as acusações contra ele "partiram de militantes vitimistas e traíras".

Amigos e parentes se afastaram

Mais cedo, Camargo disse que amigos e familiares se afastaram e "deram as costas" porque ele "apoia e acredita" em Bolsonaro. Apesar do cenário, ele considerou como "livramento" a rejeição de pessoas próximas devido aos seus posicionamentos políticos.

Perdi muitos amigos, ex-colegas de redação e alguns familiares me deram as costas porque apoio e acredito em Jair Bolsonaro. Se estou chateado? Tudo livramento!
Sérgio Camargo

Tudo livramento!

-- Sérgio Camargo (@sergiodireita1) August 29, 2021

A declaração acontece em um momento de avanço das tensões entre os três Poderes gerada por ataques contra as instituições feitas por bolsonaristas e pelo próprio presidente.

Contra a postura dele, organizações do movimento negro brasileiro chegaram a acionar a ONU (Organização das Nações Unidas) para denunciar Camargo pela violação dos direitos humanos. A ação inédita ocorreu no final de julho deste ano.

O apelo enviado foi assinado pela Coalizão Negra por Direitos, entidade que reúne 200 grupos e coletivos negros para promover ações conjuntas de incidência política nacional e internacional.

Em uma de suas falas, Camargo chegou a dizer que o movimento negro é uma "escória maldita formada por vagabundos". Em outros momentos, abordou o legado de figuras da cultura afro-brasileira como Zumbi dos Palmares, a quem chamou de "falso herói".

Ações como essa, segundo o relatório enviado à ONU, configuram o esvaziamento do histórico de lutas e contribuições dos movimentos negros na construção da sociedade brasileira.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, o MPT não denunciou Sérgio Camargo, e sim ajuizou uma ação civil pública na Justiça pedindo seu afastamento imediato da presidência da Fundação Palmares. A informação foi corrigida.