Jornal: Motoboy que fazia saques para empresa alvo da CPI esteve na Saúde

Registros que estão com a CPI da Covid mostram que o motoboy Ivanildo Gonçalves, que sacou R$ 4,7 milhões em espécie da conta da VTCLog, esteve no Departamento de Logística do Ministério da Saúde em 12 de julho de 2020. As informações são do jornal O Globo.

Naquela época, a área era chefiada por Roberto Ferreira Dias. Ele foi demitido depois que seu nome foi citado como autor de suposta cobrança de propina para levar adiante negociação de eventuais 400 milhões de doses de vacina contra o novo coronavírus.

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A VTCLog é uma empresa de logística contratada pelo Ministério da Saúde para cuidar da armazenagem e distribuição de medicamentos e vacinas em território nacional.

Ontem, a CPI apresentou imagens de câmeras de segurança que mostram, segundo o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), a movimentação de Ivanildo dentro de uma agência do Bradesco em Brasília. Na mesma instituição bancária, dia e horário em que o vídeo foi captado, contas teriam sido pagas em favor de uma outra empresa, a VoeTur, que teria relação com Dias.

O material obtido pelo colegiado reforça uma série de suspeitas que surgiram no escopo das investigações, mas não representa uma prova cabal de que o ex-servidor, de fato, recebeu ou não vantagens ilícitas por parte de firmas privadas.

"São imagens reveladas pelo sistema de bancos que comprovam que no dia e na hora em que os boletos do Roberto Ferreira Dias estavam sendo pagos pela VTCLog através do Ivanildo o que comprova verdadeiramente o conluio existente no bastidor do Ministério da Saúde no exato enfrentamento da pandemia", destacou Renan durante a audiência de ontem da CPI.

Ivanildo era esperado ontem para, em depoimento à CPI, explicar a razão pela qual efetuou saques e pagou contas utilizando recursos da VTCLog.

Protegido por liminar do STF (Supremo Tribunal Federal), a testemunha optou por não comparecer. Em relação à decisão, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), adiantou que os senadores vão recorrer. A liminar foi concedida pelo ministro Kassio Nunes Marques.

A assinatura do contrato entre o Ministério da Saúde e a VTCLog, que ocorreu em 2018, e as circunstâncias que levaram o governo a fechar com a empresa estão sob investigação.

Segundo relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) enviado à CPI, a VTCLog movimentou de forma suspeita R$ 117 milhões desde 2019. O nome de Ivanildo é citado várias vezes no documento. Ele teria efetuado saques em diversos momentos, sendo a maioria em dinheiro vivo.

Membros da CPI pretendem verificar se os fatos apontam para os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro em relação aos contratos que a VTCLog possui junto ao Ministério da Saúde.

Os parlamentares destacam que, na profissão de motoboy, Ivanildo tem remuneração de cerca de R$ 2 mil mensais, valor muito abaixo do montante movimentado por ele em saques na conta da empresa.

Dias esteve à frente do setor de logística até junho desse ano. Ele foi exonerado depois de uma reportagem da Folha de S.Paulo com o policial Luiz Paulo Dominghetti, que negociou vacinas com o governo e disse ter ouvido de Dias sugestão de pagamento de propina.

Em julho, o Jornal Nacional, da TV Globo, mostrou que Dias autorizou a assinatura de um contrato com valor 1.800% mais caro do que o que havia sido recomendado em um parecer pelos técnicos da pasta. O contrato era para a contratação dos serviços de receber e organizar medicamentos da empresa VTCLOG.

Outro lado

O advogado de Roberto Dias, Marcelo Jorge, disse ao jornal que Ivanildo é um dos funcionários que entregavam faturas da VTCLog ao ministério, o que justificaria sua presença no local. Segundo ele, o sistema da pasta não permite o envio do documento por e-mail. O ministério ainda não se posicionou.

A VTCLog informou ao UOL que Ivanildo Gonçalves, como portador da empresa, esteve presente no Ministério da Saúde apenas para entregar documentos. "Alguns documentos são enviados por e-mail, mas há limite de tamanho para envio de alguns documentos eletrônicos. Por esse contexto, as faturas mensais, por exemplo, são enviadas em pendrive até a Coordenação Geral de Logística da Pasta."