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Motoboy diz não lembrar ter pago boleto em nome de ex-diretor da Saúde

Do UOL, em São Paulo

01/09/2021 12h54Atualizada em 01/09/2021 13h21

O motoboy Ivanildo Gonçalves, prestador de serviço da empresa VTCLog, disse hoje à CPI da Covid não se lembrar de ter pago boletos em nome de Roberto Dias, ex-diretor do departamento de logística do Ministério da Saúde e que não o conhece.

"Eu não tenho conhecimento desse boleto (...) Não cheguei a ver o nome de ninguém", disse ele, quando questionado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) sobre o assunto.

Ontem, a CPI apresentou imagens de câmeras de segurança que mostram, segundo o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), a movimentação de Ivanildo dentro de uma agência do Bradesco em Brasília. Na mesma instituição bancária, dia e horário em que o vídeo foi captado, contas teriam sido pagas em favor de uma outra empresa, a VoeTur, que teria relação com Dias.

À CPI, Ivanildo confirmou que ia com frequência à sede do Ministério da Saúde levar um pendrive e faturas "há muitos anos".

A VTCLog é a empresa de logística contratada pelo Ministério da Saúde para cuidar da armazenagem e distribuição de medicamentos e vacinas em território nacional. Os senadores da CPI querem saber as razões pelas quais o motoboy realizou saques de contas da empresa que chegam a R$ 4,7 milhões. As informações foram detectadas em relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) enviado à comissão.

De acordo com o documento, a VTCLog movimentou de forma suspeita R$ 117 milhões desde 2019. O nome de Ivanildo é citado várias vezes no documento. Ele teria efetuado saques em diversos momentos, sendo a maioria em dinheiro vivo e na boca do caixa.

Os parlamentares destacam que, na profissão de motoboy, Ivanildo tem remuneração de cerca de R$ 2 mil mensais, valor muito abaixo do montante movimentado por ele em saques na conta da empresa.

Segundo os dados do Coaf, a testemunha foi responsável por aproximadamente 5% de toda movimentação suspeita detectada nos últimos dois anos.

Ivanildo afirmou em depoimento que realizou saque de até "R$ 400 e poucos mil", sem especificar valores exatos, em contas bancárias da VTCLog. Na versão do depoente, sua função se limitava a pagar boletos e retirar dinheiro em espécie na boca do caixa, sob orientação do departamento financeiro da firma. Ele negou ter entregue recursos de forma indevida a terceiros.

A VTCLog presta serviço para o governo federal desde 2018. Segundo linhas de investigação em curso na CPI da Covid, a empresa de logística pode ter sido contratada de forma irregular.

Também há suspeitas de que a firma teria relações com Roberto Dias. Ele foi demitido depois que seu nome foi citado como autor de suposta cobrança de propina para levar adiante negociação de eventuais 400 milhões de doses de vacina contra o novo coronavírus.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.