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Apoio de PMs a pautas antidemocráticas aumenta às vésperas do 7 de Setembro

Jair Bolsonaro dá uma volta em cavalo da PM durante ato em Brasília de apoio ao governo em maio de 2020 - Pedro Ladeira/Folhapress
Jair Bolsonaro dá uma volta em cavalo da PM durante ato em Brasília de apoio ao governo em maio de 2020 Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Igor Mello

Do UOL, no Rio

02/09/2021 00h01

A uma semana dos atos em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) marcados para 7 de setembro, um estudo do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) mostra que a adesão de policiais a ambientes bolsonaristas radicais nas redes sociais disparou em relação a 2020, quando o primeiro levantamento desse tipo foi feito.

Segundo dados de agosto, essa adesão é puxada pelas polícias militares: 51% dos praças (agentes de baixa patente, incluindo soldados, cabos, sargentos e subtenentes) são bolsonaristas —um aumento de dez pontos percentuais em relação aos 41% em 2020. Desses praças, 30% interagem hoje com conteúdos radicais, como pautas antidemocráticas e de ataque a instituições, contra 25% no ano passado.

Já entre os oficiais (membros da alta patente, incluindo aspirantes a oficiais, tenentes, capitães, majores, tenentes-coronéis e coronéis), a adesão ao bolsonarismo chega a 44% da tropa —23% deles interagem com conteúdos radicais ante 17% no ano passado. Em 2020, o alinhamento com o bolsonarismo não passava de 34%. O aumento expressivo é encarado pelo FBSP com ainda mais preocupação.

Gráfico sobre apoio das forças policiais ao bolsonarismo - Editoria de Arte - Editoria de Arte
Imagem: Editoria de Arte

A adesão ao grupo político do presidente é bem menor nas outras corporações: chega a 17% na Polícia Federal e a apenas 13% nas polícias civis.

A pesquisa mostra que existem riscos reais [de ruptura democrática]. Esses riscos cresceram do ano passado para esse ano. Existe uma confusão entre a liberdade de expressão dos policiais e das contenções necessárias na democracia."
Renato Sérgio de Lima, presidente do FBSP

O sociólogo pontua que, mesmo que esses riscos não gerem uma ruptura em 7 de setembro, vê-se um processo muito intenso de degradação institucional nas polícias. "O problema não é uma ruptura abrupta, mas o esgarçamento dos controles civis. Não é algo que começou com Bolsonaro e nem vai acabar em 2022."

Na pesquisa de 2020, o FBSP mostrou que, além do apoio ao grupo político do presidente, esses policiais também reproduziam discursos de ódio, o que também foi verificado no novo levantamento. Há adesão significativa a pautas racistas e contra os direitos LGBTQI+, além de rejeição à defesa dos direitos humanos.

Os dados são fruto de um cruzamento feito pelo FBSP entre as listagens de policiais da ativa contidas nos Portais de Transparência dos governos estaduais e um levantamento para identificar os perfis desses agentes no Facebook e no Instagram.

A partir disso, foi feita uma amostra com fundamentos estatísticos para representar proporcionalmente o efetivo policial no país. Foram selecionados 651 perfis, cujas ações foram monitoradas de maneira anônima. O estudo utilizou apenas informações públicas disponibilizadas pelas redes sociais a pesquisadores.

A pesquisa tem índice de confiança de 95% e margem de erro de 3%.

7 de Setembro aumenta pressão

A pressão sobre os comandos e governadores por conta da politização dos quartéis aumentou com a aproximação do 7 de Setembro, com Bolsonaro convocando atos em seu apoio em capitais como São Paulo e Brasília.

Como o UOL revelou na última semana, apoiadores do presidente vêm tentando mobilizar policiais da ativa para engrossar os protestos e demonstrar um suposto apoio da categoria ao governo —a presença de PMs da ativa em manifestações políticas é ilegal.

A tensão se intensificou após o coronel Aleksander Lacerda, da PM de São Paulo, convocar colegas para o ato na avenida Paulista por meio de suas redes sociais. No dia seguinte, o governador João Doria (PSDB) determinou seu afastamento do comando de um batalhão no interior do estado, enquanto a Polícia Militar abriu um procedimento contra o oficial.

A defesa de Lacerda foi usada por apoiadores do presidente como uma forma de tentar inflamar a base bolsonarista a comparecer à manifestação.

Segundo Lima, o bolsonarismo tenta mobilizar suas bases —sobretudo nas polícias— em 7 de setembro não para dar um golpe de Estado, mas para gerar imagens que justifiquem um discurso de que a radicalização realizada pelo presidente nos últimos meses tem amparo popular.

"Vai ter gente provocando para causar comoção e ter uma imagem que seja usada para desestabilizar politicamente os governadores. Não é que o PM vai sair na rua para impor um golpe. Mas vai sair para defender o bolsonarismo. E, se tiver provocadores e com gente interessada em ampliar a fissura, pode haver problemas mais sérios", projeta.

"Talvez tenhamos a tradução para o mundo real da adesão dos policiais ao bolsonarismo."

Ele destaca o crescimento expressivo do apoio ao bolsonarismo radical entre os oficiais da PM. Na visão do presidente do FBSP, isso é uma ameaça adicional, já que são esses agentes os responsáveis por zelar pela hierarquia e pela disciplina nas corporações.

"O discurso de que as instituições estão funcionando é baseado na hierarquia e na disciplina, e quem tem que controlar isso são os oficiais. Só que tivemos um crescimento de 35% no engajamento com ambientes radicais", completa.