Organizador de atos com Zé Trovão é réu por emprestar dinheiro a traficante
Um dos organizadores das manifestações antidemocráticas de 7 de Setembro a favor do presidente Jair Bolsonaro e contra o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso Nacional, o empresário Turíbio Torres responde a processo na Justiça de Santa Catarina por emprestar dinheiro a um traficante acusado de integrar uma quadrilha que atuava em três estados.
Torres —que esteve ao lado do caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, o Zé Trovão, na preparação dos atos— foi denunciado pelo MP, em julho do ano passado, por suposta prática de agiotagem e lavagem de dinheiro. O processo no qual se tornou réu está em andamento no Tribunal de Justiça de Santa Catarina, ainda sem decisão.
O advogado Hamilton Lopes Ribeiro, que representa o empresário no caso, afirmou, por email, que "a defesa técnica tem plena certeza de sua inocência e que os fatos narrados pela denúncia não condizem com a realidade, conforme será amplamente demonstrado na instrução processual".
Empresário no ramo de revenda de veículos, Turíbio Torres também é investigado, assim como Zé Trovão e outras oito pessoas, no inquérito do STF que apura a articulação para os atos de 7 de Setembro. Em 20 de agosto, a Polícia Federal cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa do empresário em Joinville (SC).
Torres cumpre medidas restritivas, como não poder se aproximar a menos de 1 km do Senado ou do STF e não poder usar redes sociais.
O advogado do empresário neste processo, Levi de Andrade, tenta revogar as limitações desde o dia 11, mas ainda não houve análise do pedido no Supremo.
Investigação após prisão de traficante
Turíbio Torres começou a ser investigado pela Polícia Civil de Santa Catarina depois que Agemiro Agenor Galistzki foi preso em flagrante, em setembro de 2019, numa casa na cidade de Barra Velha (SC), com mais de 800 kg de maconha, além de armas e munição.
Os policiais constataram que a conta de luz da residência estava em nome de Joanita Rosa Xavier, mulher do empresário. A defesa afirma que o imóvel já havia sido vendido e apresentou um termo de transferência de março daquele ano para dois parentes de Galistzki.
As suspeitas sobre a relação de Turíbio Torres com o traficante aumentaram depois que, em um dos celulares apreendidos com Galistzki, foram localizadas conversas entre ele e o empresário tratando de um empréstimo de R$ 10 mil.
Em mensagens de agosto de 2019, Torres passa a Galistzki a conta da empresa Infinity Veículos, que pertence a ele e à sua mulher, para que fosse feita a devolução de um empréstimo.
"Agora dia 24, é dia 24 o chequezinho, vou olhar. Ali, posso pagar o 'jurinho' normal essa semana, né? E daí mês que vem nós acerta (sic), mês que vem eu consigo", diz Galistzki numa das conversas.
Torres responde: "Pode ficar 'susse', pode continuar pagando".
Com base em mensagens de Galistzki com outro acusado de integrar a quadrilha, os policiais suspeitaram que o empréstimo, que teria juros de 7% ao mês, teria sido realizado para a compra de drogas.
"Eu já peguei o dinheirinho com ele pra garantir, porque ainda falta um dinheirinho pra dar no verde", disse Galistzki ao outro acusado, na conversa em que estaria se referindo ao empréstimo contraído.
"Verde", segundo a polícia, seria uma referência à droga.
O inquérito policial foi encaminhado ao Ministério Público, que, em julho do ano passado, denunciou Torres, Galistzki, Lopes e outras 13 pessoas. O MP apontou uma articulação para a venda de drogas em três estados: Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul.
O empresário foi denunciado por agiotagem e lavagem de dinheiro, com base no empréstimo realizado para Galistzki. Ainda não houve sentença sobre as acusações.
A reportagem encaminhou emails nas últimas quarta (22) e sexta-feira (24) para a defesa de Galistzki para que ela se manifestasse sobre as acusações contra seu cliente. Ainda não houve resposta.
Fotos e vídeos com bolsonaristas
Vídeos e fotos registrados na página do Facebook de Turíbio Torres mostram intensa articulação entre ele e Zé Trovão para inflar os atos de 7 de Setembro.
O último vídeo é da manhã de 20 de agosto, quando a Polícia Federal cumpriu o mandado na casa do empresário.
"Queria dizer a Alexandre de Moraes [ministro do STF, relator do inquérito] que pode me calar, mas não vão calar todos os que estão ao nosso lado, porque supremo é o povo", disse Torres.
Nos meses de julho e agosto, ele aparece em várias ocasiões nas redes sociais com Zé Trovão e outros bolsonaristas. Há imagens com a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), os deputados Hélio Lopes (PSL-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, também aparece numa selfie com o empresário.
O advogado Levi de Andrade —que, além de Torres, representa Zé Trovão— considera que os dois não cometeram crime na promoção dos atos. Para ele, as restrições impostas são "censura".
"Eles só disseram que não estão de acordo com as decisões do STF, que está invadindo competências. Os meus clientes nunca incentivaram depredação ou qualquer violência contra o Senado e contra o STF."
Na decisão que determinou a busca e apreensão, Alexandre de Moraes afirmou que os dez investigados atuaram "na divulgação de mensagens, agressões e ameaças contra a democracia, o Estado de Direito e suas Instituições".
Zé Trovão está foragido no México. Na última terça (21), Moraes manteve a ordem de prisão preventiva contra o caminhoneiro.
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