Topo

Aziz critica reação de Bolsonaro à CPI: 'Deu gargalhada da falta de ar'

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

20/10/2021 15h06Atualizada em 20/10/2021 16h01

O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM) criticou hoje o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por este ter supostamente gargalhado ao ficar sabendo das conclusões e sugestões de indiciamentos do relatório final da comissão. Ele também lembrou que o presidente já havia dado "gargalhada da falta de ar" ao imitar pessoas doentes com a covid-19.

O relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito, elaborado por Renan Calheiros (MDB-AL), após discussões com colegas, foi apresentado hoje. A previsão é que o texto seja votado na terça-feira que vem (26).

Ao chegar para a sessão, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente, disse que Renan "prestou um grande desserviço ao país", e imitou a gargalhada do pai ao ser questionado sobre como o mandatário reagiria ao saber que o documento imputa a ele o suposto cometimento de ao menos nove crimes ao longo da pandemia.

"Olha, eu acho que ele receberia da seguinte forma...Você conhece aquela gargalhada dele?", disse Flávio, imitando, na sequência, a risada do pai. "Não tem o que fazer de diferente disso. É uma piada de muito mau gosto o que o senador Renan Calheiros faz."

Pouco antes de encerrar a sessão de hoje, Omar Aziz disse ficar entristecido com o suposto riso de Bolsonaro imitado por Flávio e criticou o presidente por gargalhadas anteriores em situações de gravidade ao longo da pandemia.

"Eu me entristeço muito por uma razão. Eu me entristeço porque agora eu estava vendo uma matéria - me mandaram um negócio aqui em que eu não quero crer - segundo a qual o presidente, quando leu o relatório, ou foi avisado do relatório, deu gargalhada", afirmou Aziz.

"O presidente deu gargalhada da falta de ar, o presidente deu gargalhada quando mandou a mãe comprar vacina. Presidente, a gente tem respeito pelo cargo de vossa excelência, é a maior autoridade deste país. Vossa excelência tenha certeza de que nós não vamos permitir que nenhum cidadão, seja a autoridade que for, ache que pode engavetar esse relatório", acrescentou.

Segundo Aziz, o relatório passa a ser não somente da CPI, mas também das vítimas da covid-19 e dos mais de 600 mil brasileiros que morreram em decorrência da doença.

"Presidente, o país precisa de afeto, e as imputações que estão sendo feitas contra a sua administração e contra a sua pessoa são imputações muito sérias. Rir neste momento... Não creio que seja uma risada de alívio; pelo contrário, a sua risada é de temor, porque a justiça vem, vem pelos homens e vem pela justiça divina."

O texto do relator sugeriu que o presidente seja responsabilizado e investigado por nove crimes — entre eles, os previstos no Código Penal, com pena de prisão e/ou multa, crimes contra a humanidade e crimes de responsabilidade, que podem resultar em impeachment.

A CPI não tem prerrogativa de promover punições, mas pode sugerir indiciamentos para análise e eventual oferecimento de denúncia pelo Ministério Público Federal e pelas demais instâncias competentes. O relatório ainda será votado pelos membros da comissão na semana que vem. É preciso ter maioria simples (seis votos) para que seja aprovado.

Veja os crimes apontados a Bolsonaro pelo relatório final da CPI:

  • epidemia com resultado morte;
  • infração de medida sanitária preventiva;
  • charlatanismo;
  • incitação ao crime;
  • falsificação de documento particular;
  • emprego irregular de verbas públicas;
  • prevaricação;
  • crimes contra a humanidade, nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos;
  • crimes de responsabilidade (violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo).

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.