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Relatório da CPI pede indiciamento de Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro

Jair Bolsonaro acompanhado dos filhos Flávio, Eduardo e Carlos, todos indiciados no relatório da CPI da Covid - Arquivo - Roberto Jayme/Ascom/TSE
Jair Bolsonaro acompanhado dos filhos Flávio, Eduardo e Carlos, todos indiciados no relatório da CPI da Covid Imagem: Arquivo - Roberto Jayme/Ascom/TSE

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

20/10/2021 10h57

O relatório final da CPI da Covid, do senador senador Renan Calheiros (MDB-AL), pede o indiciamento de três filhos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com cargos no Poder Legislativo.

De acordo com o texto, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos) praticaram incitação ao crime, indicado no artigo 286 do Código Penal. A pena prevista pode ser detenção, de três a seis meses, ou multa.

Se o relatório for aprovado na semana que vem, os casos envolvendo o deputado federal Eduardo e Flávio serão encaminhadas à PGR (Procuradoria Geral da República) e à PF (Polícia Federal). Por serem membros do Congresso, o foro dos dois irmãos é o STF (Supremo Tribunal Federal).

Já o caso de Carlos será encaminhado ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e à Secretaria de Estado de Polícia Civil fluminense.

O relatório diz que os filhos do presidente atuavam no "núcleo de comando" de disseminação de notícias falsas sobre a pandemia, com a "função de dirigir a organização e orientar estrategicamente as ações realizadas nos níveis inferiores da hierarquia, dando-lhes diretrizes e informando-lhes prioridades de ação".

"De forma mal-intencionada e visando interesses próprios e escusos, provocaram grande confusão na população, levando as pessoas a adotarem comportamentos inadequados para o combate à pandemia de covid-19", traz o relatório.

O que dizem os filhos do presidente

Flávio classificou o relatório como "fraco" e disse que o documento não possui "nenhuma base jurídica" para pedir o indiciamento de ninguém.

"Um relatório como esse do senador Renan Calheiros não colaborou em nada para amenizar a dor de quase 600 mil famílias de vítimas da Covid-19 no Brasil, não colocou uma vacina nos braços dos brasileiros e não ajudou nenhum desempregado", declarou o filho do presidente.

Eduardo e Carlos ainda não se manifestaram. Os posicionamentos serão incluídos quando forem divulgados.

O que acontece agora?

O texto do relator da CPI Renan Calheiros precisa receber o apoio da maioria dos membros (ou seis votos). O colegiado é composto por 11 senadores titulares (com direito a voto), entre os quais o relator, sendo sete de oposição ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido) ou independentes (o chamado G-7, que deve votar a favor do parecer e contra os interesses do presidente). Quatro fazem parte da base governista.

Após a deliberação do plenário da comissão, as sugestões do relator serão encaminhadas aos órgãos de fiscalização e controle, sobretudo o MPF (Ministério Público Federal), por meio da PGR; e o Ministério Público dos estados (com foco no Distrito Federal e em São Paulo, onde já existem investigações em andamento).

O relatório de Calheiros traz as principais conclusões da CPI, sugestões de aprofundamento de investigações e recomendações de indiciamento. A ideia de parte dos senadores é criar um observatório para acompanhar as consequências dos achados da comissão.

A CPI não tem prerrogativa constitucional para punir ninguém. Segundo o artigo 58 da Constituição Federal, a comissão tem "poderes de investigações próprios das autoridades judiciais" para "apuração de fato determinado e por prazo certo".

Cabe ao Ministério Público promover a "responsabilidade civil ou criminal dos infratores". Posteriormente, caso haja oferecimento de uma denúncia, os fatos serão analisados pela instância da Justiça de acordo com as pessoas que supostamente praticaram crimes.

Compartilhamento de provas

Para fins de responsabilização na Justiça, o relatório feito pela CPI pode servir como ponto de partida para uma investigação do Ministério Público, autoridade competente para a função.

Nesse caso, as informações, evidências, provas, depoimentos e materiais obtidos durante as diligências ajudariam a embasar uma eventual denúncia oferecida pelo MP —o que daria início ao devido processo legal.

Há ainda jurisprudência no STF que permite que as informações contidas no relatório de uma CPI possam ser utilizadas por outros órgãos de apuração e/ou execução, tanto na esfera criminal quanto na cível. É o caso, por exemplo, de um eventual inquérito da Polícia Federal que proponha o aprofundamento de um ponto específico da investigação conduzida pela CPI.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.