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Flávio Bolsonaro gargalha ao imitar reação do pai sobre acusações da CPI

Lucas Valença

Do UOL, em Brasília

20/10/2021 11h04Atualizada em 20/10/2021 15h12

Ao chegar para a sessão da CPI da Covid que apresentou oficialmente o relatório final dos trabalhos da comissão, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), afirmou que o relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), "prestou um grande desserviço ao país", e imitou a gargalhada do pai, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ao ser questionado sobre como o mandatário reagiria ao saber que o documento imputa a ele o suposto cometimento de ao menos nove crimes ao longo da pandemia.

"Olha, eu acho que ele receberia da seguinte forma...Você conhece aquela gargalhada dele?", disse Flávio, imitando, na sequência, a risada do pai. "Não tem o que fazer de diferente disso. É uma piada de muito mau gosto o que o senador Renan Calheiros faz."

O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), criticou a suposta risada de Bolsonaro antes de encerrar a sessão.

"Eu me entristeço muito por uma razão. Eu me entristeço porque agora eu estava vendo uma matéria - me mandaram um negócio aqui em que eu não quero crer - segundo a qual o presidente, quando leu o relatório, ou foi avisado do relatório, deu gargalhada", afirmou Aziz.

"O presidente deu gargalhada da falta de ar, o presidente deu gargalhada quando mandou a mãe comprar vacina. Presidente, a gente tem respeito pelo cargo de vossa excelência, é a maior autoridade deste país. Vossa excelência tenha certeza de que nós não vamos permitir que nenhum cidadão, seja a autoridade que for, ache que pode engavetar esse relatório", acrescentou.

Segundo Aziz, o relatório passa a ser não somente da CPI, mas também das vítimas da covid-19 e dos mais de 600 mil brasileiros que morreram em decorrência da doença.

"Presidente, o país precisa de afeto, e as imputações que estão sendo feitas contra a sua administração e contra a sua pessoa são imputações muito sérias. Rir neste momento... Não creio que seja uma risada de alívio; pelo contrário, a sua risada é de temor, porque a justiça vem, vem pelos homens e vem pela justiça divina."

Bolsonaro volta a atacar a CPI

Em evento no Ceará, o presidente voltou a atacar a CPI e disse que o seu governo "não tem culpa de absolutamente nada" em relação à pandemia.

"Um relatório como esse do senador Renan Calheiros não colaborou em nada para amenizar a dor de quase 600 mil famílias de vítimas da Covid-19 no Brasil, não colocou uma vacina nos braços dos brasileiros e não ajudou nenhum desempregado", declarou o filho do chefe do Executivo.

Flávio Bolsonaro classificou o relatório como "fraco" e disse que o documento não possui "nenhuma base jurídica" para pedir o indiciamento de 66 pessoas e de duas empresas.

O parlamentar também disse confiar que o documento será rechaçado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras. Ontem, senadores da CPI definiram que após a aprovação do relatório, que deverá ocorrer na próxima terça-feira (26), a comissão pedirá uma agenda com o representante do Ministério Público para entregar o texto oficial.

Já outro senador governista, Marcos Rogério disse que o relator "extrapolou os limites no âmbito do relatório" final da CPI.

"O relatório é uma peça de ficção. Ele indicia o presidente da república, mas o presidente não pode ser investigado no âmbito da CPI por vedação constitucional", afirmou.

Encontro do G7

Na noite de ontem, integrantes do chamado G7, grupo majoritário da CPI da Covid que reúne opositores e os considerados independentes, se reuniram na casa do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e decidiram trocar o termo "genocídio" por "crime contra a humanidade" no rol de indiciamentos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"A questão do genocídio está pacificada e deverá ser retirada do relatório. Estamos discutindo agora as tipificações em relação ao presidente Bolsonaro", declarou o presidente da CPI, senador Omar Aziz, ao deixar a reunião ontem.

Os parlamentares também decidiram retirar o crime de "homicídio" do rol de indiciamentos do mandatário, mas, no lugar, decidiram classificar os atos negacionistas do governo como sendo de "epidemia com resultado de morte".

Também foi pacificado a retirada do crime de advocacia administrativa que havia sido atribuída ao filho "01" do presidente, Flávio Bolsonaro.

Por outro lado, os senadores do G7 mantiveram no documento final a afirmação de que o presidente Jair Bolsonaro e os filhos - Flávio Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos) — comandaram uma possível rede de fake news durante a pandemia do novo coronavírus.

O encontro ocorreu ontem após alguns integrantes do G7 se irritarem com o vazamento de parte do relatório final da CPI no último fim de semana.

O texto apresentado oficialmente hoje também confirma a informação antecipada pelo UOL de que quem se opôs ao chamado "gabinete paralelo da Saúde" teve de deixar o Ministério da Saúde. O texto usa como exemplo os ex-ministros da pasta Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

Segundo o vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), os integrantes do G7 tentarão entregar o relatório final ao procurador-geral, Augusto Aras, na manhã da próxima quarta-feira (27).

Questionado sobre a atuação esperada de Aras, o senador Renan Calheiros afirmou que o procurador-geral "tem o dever de dar prosseguimento a tudo que foi investigado pela CPI".

Ricardo Barros

Sobre a permanência do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) na liderança do governo na Câmara, Randolfe Rodrigues afirmou que, "em condições normais", o parlamentar já teria sido retirado da função pelo governo.

"Eu, se fosse presidente da República, tinha afastado ele (Ricardo Barros) da liderança, no dia do depoimento dos irmão Miranda. Acho que qualquer outro que tivesse as melhoras intenções na presidência assim o faria", disse.

O parlamentar ressaltou que a soma dos crimes imputados no relatório ao presidente Jair Bolsonaro poderá superar mais de 100 anos de prisão. Ele também enfatizou que, "toda essa qualificação", conta com "forte embasamento técnico".

"O relatório está substanciado, está com bases técnicas. Olha, quem for arquivar esse relatório vai ter muito trabalho para justificar do ponto de vista do direito, dos brasileiros e da história", afirmou ao se referir a um possível arquivamento do documento da CPI pelo procurador-geral.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.