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Com covid, avó morreu após alta de hospital da Prevent, diz neto à CPI

Roseli Rossi Monje e Tomás Monje prestaram depoimento sobre atendimento da Prevent Senior - Leonardo Martins/UOL
Roseli Rossi Monje e Tomás Monje prestaram depoimento sobre atendimento da Prevent Senior Imagem: Leonardo Martins/UOL

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

28/10/2021 14h29

Em depoimento à CPI que investiga a atuação da Prevent Senior, na Câmara Municipal de São Paulo, o analista de marketing Tomas Monje, 29, disse que sua avó de 94 anos estava com covid, foi atendida em uma unidade da rede, na capital paulista, mas acabou tendo alta e seu quadro piorou. De acordo com ele, a família voltou ao pronto-socorro menos de 36 horas depois, mas Joana Marinha Navarro foi diagnosticada com quadro irreversível e morreu.

Durante o depoimento, Monje estava ao lado de sua mãe, Roseli Rossi Monje, 61, que chorou durante todo o tempo. A avó dele faleceu no dia do aniversário dela de 95 anos, em 18 de junho deste ano.

Ao UOL, a Prevent Senior lamentou "a dor sofrida pelas perdas" dos familiares que compareceram à Câmara hoje e negou que tenha tido objetivo de liberar leitos de covid ou reduzir custos durante os tratamentos (leia mais abaixo).

Aos vereadores, Monje disse que sua avó começou a apresentar sintomas após outros parentes que moravam junto com ela terem tido diagnóstico positivo para a doença. Em um dos prontuários médicos, segundo o neto, consta que Joana estava infectada pelo novo coronavírus.

Ela foi levada ao hospital, não foi internada imediatamente. Recebeu remédios como azitromicina e corticoide para tomar por cinco dias em casa.

Seis dias depois, conta Monje, a avó piorou "no nível de sufocar" por dificuldade de respirar. Eles voltaram ao hospital da Prevent Senior, na unidade da avenida Brigadeiro Luis Antônio, e tiveram que pressionar pela internação da idosa.

"Houve uma certa resistência [do hospital] na internação. A família que estava com ela no momento precisou, inclusive, falar que não tinha condição de tratar ela [em casa]", afirmou.

A idosa ficou internada em uma ala de covid por cerca de uma semana, segundo o Tomas Monje, até receber alta. De acordo com o neto, o diagnóstico médico apontou "melhora clínica e laboratorialmente significativa". Ele diz que entregará à CPI o prontuário médico e a declaração de óbito da avó.

Na volta da paciente para casa, os médicos prometeram à família que enviariam um enfermeiro para aspirar, diariamente, secreção do pulmão de Joana Navarro. Mas não houve tempo.

Menos de 36 horas após a alta, diz o analista, a avó voltou a passar mal "no nível de quase perder a consciência". Foi levada às pressas ao hospital, onde foi diagnosticada com um quadro irreversível de infecção.

Havia sido agendado um atendimento de enfermeiro e eles pediram para remarcar. Como um dia você recebe uma alta documentada que apresenta uma melhora significativa e, em menos de 36 horas, ela apresenta um quadro irreversível?"
Tomas Monje, analista de marketing

"Infelizmente nossa família, no momento, acreditou nas palavras do hospital e dos médicos que lá estavam e ela foi encaminhada para tratamento paliativo. Nada que possa ser feito vai trazê-la de volta", afirmou. Oficialmente, a causa da morte consta como "síndrome respiratória aguda".

Depoimentos de outros familiares

Além de Mone, os vereadores da CPI ouviram hoje mais três familiares de pacientes da Prevent que morreram após tratamento em unidades de saúde da rede.

Um paciente que sobreviveu à covid após ficar internado em um hospital da Prevent Senior, Tadeu Frederico de Andrade, 65, também compartilhou sua história. Ele já havia prestado depoimento à CPI da Covid, no Senado Federal, em Brasília, no começo deste mês.

Em nota enviada ao UOL no início da tarde, a Prevent Senior disse que "reafirma que jamais tratou seus pacientes adotando procedimentos com o objetivo de reduzir custos ou liberar leitos". "Trata-se de uma narrativa equivocada", diz o texto. A empresa ainda afirma que "buscará na Justiça a retratação de todos os que buscam desacreditá-la".

O advogado Tércio Felippe Mucedola relatou a história de seu pai, Tércio Felippe Bamonte, 71, que se contaminou em maio de 2020. Durante internação por covid-19, conta o filho, Bamonte foi medicado com hidroxicloroquina e azitromicina.

Quatro dias depois, o pai recebeu alta e ligou para o filho buscá-lo no hospital. Mucedola disse que estranhou e questionou um dos médicos do hospital se havia sido feito novo teste de covid-19.

De acordo com ele, foi informado que seu pai estava "sem infecção", com teste negativo. Ambos saíram do hospital com um kit de medicamentos.

"Ele começou a não conseguir mais digitar, falava mole e a gente levava ele para o pronto-atendimento", disse o advogado. "Na Prevent Senior da [rua] Tamarataca [na Mooca, zona leste da capital], faziam hemograma, diziam 'seu pai não tem nada' e mandavam de volta para casa. Foi assim quatro vezes."

Mucedola diz que exigiu novos exames e uma tomografia 50% de comprometimento no pulmão de seu pai. "Naquele momento, sem PCR nem nada, [o médico] prescreveu como protocolo interno da Prevent Senior a hidroxicloroquina", conta.

Seu pai foi transferido de hospital em 1º de junho e, no dia 25, faleceu. "A Prevent tirou de nós a possibilidade do tratamento. Tirou a possibilidade de cura quando, ciente de que ele tinha covid, mandou para casa e se recusou a recebê-lo de volta em outras oportunidades."

Ele diz que, meses depois, a Prefeitura de São Paulo o procurou para dizer que o pai havia tudo alta mesmo após um teste positivo para covid. Mas ele disse que não sabia deste teste.

A reportagem do UOL entrou em contato com a administração municipal e aguarda posicionamento.