Bolsonaro diz 'ter muito a conversar' e que filiação ao PL pode ser adiada
O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), afirmou hoje ainda ter "muita coisa a conversar" com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e que a data de filiação dele ao partido pode ser adiada, de acordo com o g1. O PL havia divulgado que a cerimônia de filiação de Bolsonaro aconteceria no dia 22 deste mês. O número 22 é o mesmo utilizado pela sigla nas urnas.
A declaração de Bolsonaro foi dada durante visita a uma feira de aviação em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. O presidente, comitiva de ministros e a primeira-dama Michelle Bolsonaro, entre outros, estão em viagem de uma semana pelo Oriente Médio. O grupo chegou ontem a Dubai e deve passar também por Abu Dhabi, Manama (Bahrein) e Doha (Catar).
"Quer saber a data da criança se eu nem casei ainda? Que data vai nascer a criança. Tem muita coisa a conversar com o Valdemar", disse, ao ser questionado sobre a filiação ao PL, segundo o g1.
"Eu acho difícil essa data de 22. Tenho conversado com ele, e estamos em comum acordo que podemos atrasar um pouco esse casamento para que ele não comece sendo muito igual os outros. Não queremos isso", completou o presidente.
Bolsonaro disse que algumas das questões pendentes com Valdemar Costa Neto para concretizar a filiação são sobre a pauta conservadora —uma das principais bandeiras do presidente— e relações exteriores, de acordo com o g1.
"Temos muitas coisas a acertar ainda. Por exemplo, o discurso meu e do Valdemar nas questões das pautas conservadoras, nas questões de interesse nacional, na política de relações exteriores. A questão de defesa, os ministros, o padrão de ministros a continuar. Casamento tem que ser perfeito."
Bolsonaro ainda disse que não aceitará que o PL de São Paulo apoie alguém do PSDB —que conta com um dos maiores rivais políticos do presidente: o governador de São Paulo, João Doria, que busca se viabilizar como candidato ao Planalto.
Sem partido após brigas
Bolsonaro está sem partido desde o final de 2019, quando deixou o PSL, partido pelo qual se elegeu à Presidência da República em 2018, após brigas pelo comando da sigla com o grupo do deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE).
Desde então, o presidente tentava negociar com partidos de centro-direita, como Republicanos, Patriota e PP (Progressistas). Ele também tentou criar uma nova legenda, a Aliança pelo Brasil, que está longe de deslanchar por falta de apoio formal.
Antes crítico ao centrão
O PL é um dos principais símbolos do centrão, grupo informal de partidos sem linhas ideológicas bem definidas e que costumam apoiar o governo que estiver no poder em troca de espaços e recursos na administração pública federal.
Bolsonaro e seus principais aliados —incluindo o ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno— costumavam criticar o centrão na campanha eleitoral e no início do governo.
Contudo, o presidente intensificou a aproximação com o centrão em abril do ano passado para formar uma base aliada mais consistente no Congresso — com o objetivo de segurar pedidos de impeachment e aprovar matérias de interesse do governo — em troca de emendas e cargos a indicados por esses partidos.
Se por um lado a chegada de Bolsonaro ao PL é festejada pela cúpula do partido, do outro, um grupo de deputados federais eleitos pela sigla demonstra insatisfação. Um deles é o primeiro vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (AM), que já manifestou publicamente o seu descontentamento.
Na visão de Ramos, dividir espaço na legenda com o atual chefe do Executivo federal é um fato "absolutamente incômodo", segundo declarações dadas à imprensa antes do anúncio de filiação.
Bolsonaro deve chegar ao PL com privilégios prometidos a ele por Valdemar Costa Neto, em especial no que diz respeito a indicações para candidaturas nas eleições do ano que vem —o que incomoda parlamentares federais das bancadas do Norte e do Nordeste.
A previsão é que ao menos um dos filhos de Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (SP), se filie ao PL. Atualmente, os três filhos políticos do presidente estão em partidos distintos: Carlos é vereador no Rio de Janeiro pelo Republicanos; Flávio é senador pelo Patriota; e Eduardo é deputado pelo PSL.
Opositores atribuíram a aliança de Bolsonaro com o PL a uma suposta dificuldade do presidente em encontrar uma sigla para participar do pleito presidencial no ano que vem.
Valdemar Costa Neto
Ex-deputado condenado no escândalo do mensalão, o líder do PL foi criticado mais de uma vez pelo próprio Bolsonaro e por seus filhos no passado. Em 2018, quando negociava quem seria seu vice, criticou o liberal. "O Valdemar Costa Neto já foi condenado no Mensalão, está citado, citado não, está bastante avançada a citação dele no tocante à Lava Jato."
Além da condenação a 7 anos e 10 meses no escândalo do Mensalão (por corrupção passiva e lavagem de dinheiro), Costa Neto foi citado na Operação Porto Seguro, em 2013, que investigou esquema de fraudes em pareceres técnicos, e na Lava Jato, por suspeita de receber R$ 500 mil para manter esquema da construtora UTC com o Ministério dos Transportes.
Na segunda-feira, Carlos Bolsonaro apagou um post em seu perfil no Twitter de 2016. Na publicação, o vereador compartilhava reportagem sobre pagamentos de propinas a Costa Neto e ao Partido da República (antigo nome do PL).
Partido Liberal
O atual PL é fruto da fusão do antigo PL com o Prona (Partido de Reedificação da Ordem Nacional).
Com a junção dos partidos, sua direção alterou o nome da legenda para PR (Partido da República), em 2006. A volta para PL foi possível em 2019, quando o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) permitiu a mudança.
Atualmente, o PL é o partido com a terceira maior bancada na Câmara dos Deputados (atrás do PSL e do PT), com 43 deputados federais. A expectativa de líderes do partido é que ele forme, após as eleições do ano que vem, a maior bancada na Casa.
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