Após perder 4 senadores, 2022 vira 'combate de vida ou morte' para a Rede
Firmar-se como partido político ou ser um movimento é a resposta que a Rede Sustentabilidade terá quando for encerrada a eleição do ano que vem. E, para que se chegue à resposta para encerrar esse dilema, o desempenho na disputa por vagas na Câmara dos Deputados será fundamental.
"Quando eu digo que é o combate de vida ou morte da Rede, não é frase feita para a militância. É porque existe uma necessidade objetiva", diz a ex-senadora Heloisa Helena, porta-voz nacional da Rede, cargo que seria equivalente ao de presidente de partido. "A gente vai vendo, as pessoas vão saindo, vão desanimando."
Agremiação que surgiu na esteira da força do desempenho de Marina Silva nas eleições presidenciais do início da década passada, a Rede sofreu mais um baque nesta semana, quando perdeu mais um senador em sua bancada no Congresso.
Dos cinco senadores eleitos na eleição de 2018, resta agora apenas um: Randolfe Rodrigues (AP). A perda é explicada pelo fato de que, os que saíram, faziam parte da cota de "candidaturas cívicas", que o partido permite para que "pessoas da sociedade civil" possam participar dos pleitos, explica Wesley Diógenes, também porta-voz nacional do partido.
Segundo ele, se não fosse a Rede, "dificilmente" Alessandro Vieira (hoje no Cidadania), Flávio Arns (hoje no Podemos), Styvenson Valentim (também no Podemos) e Fabiano Contarato (agora no PT) teriam conseguido espaço para disputar a última eleição geral. "Eram nomes que vinham surfando na onde de renovação política, que nunca foram políticos."
Sem reclamação
Para Heloisa, a Rede "não pode reclamar" da saída deles. "Eram lideranças que representavam setores sociais importantes e que foram chamadas pela Rede na condição de candidaturas cívicas."
Na opinião dela, seria "hipocrisia" que o partido determinasse um prazo mínimo para que eles ficassem no partido. "Até porque seria muita presunção nossa a gente sair por aí dizendo que essas pessoas não existiam e que nós elegemos eles."
Ficamos constrangidos [com as saídas]. Mas, repito, não cabem lamentações ou resmungos
Heloisa Helena, porta-voz da Rede
Câmara: a prioridade
Foco da Rede, a Câmara hoje tem apenas uma representante do partido: a deputada Joenia Wapichana (RR), que disputará a reeleição. A quantidade de deputados é fundamental para que o partido consiga ultrapassar a cláusula de barreira. Por isso, ela será "prioridade absoluta" do partido, segundo Diógenes.
Assim, a Rede conseguirá ter direto a participação no fundo partidário e a espaço de propaganda no rádio e na televisão.
"O tempo [de propaganda] tem um impacto muito grande", diz Heloisa. "Em um país de dimensões continentais, não ter um segundo do horário eleitoral, para nós é uma situação de clandestinidade muito grande. Para nós, nem é o fundo. O pior é não ter acesso ao horário eleitoral."
É uma questão de sobrevivência superar a cláusula de barreira
Wesley Diógenes, porta-voz da Rede
A meta é alcançar ao menos 11 parlamentares na Câmara. Por isso, o partido deixará de lado outras disputas.
A próxima eleição será a primeira desde 2010 em que Marina não tentará ser presidente da República. Nas disputas majoritárias nos estados, apenas duas participações, com as candidaturas ao governo de Randolfe, no Amapá, e de Audifax Barcelos, no Espírito Santo.
"Se a gente fica o tempo todo convencendo as pessoas de que elas devem disponibilizar os seus nomes para a chapa de deputado federal, isso significa que devemos dizer para nós também", fala Heloisa, que será candidata a deputada. "Eu vou ter que ser. E digo isso para Marina, para todo mundo." Ainda não há certeza se Marina será um dos nomes do partido na disputa por uma vaga na Câmara.
Vai ter federação?
Mas, antes de chegar a definições como essa, a Rede quer resolver as questões sobre federação partidária, uma novidade que ainda tem deixado alguns partidos em dúvida.
Segundo Heloisa, nas negociações, não se pode "ceder ao oportunismo vulgar para fazer qualquer federação". A dificuldade, de acordo com ela, será reunir condições que sejam favoráveis para cada um dos estados. "Não pode ser algo que seja bom para um e aniquile politicamente outros."
Por isso, hoje, algumas das direções estaduais da Rede não estão favoráveis à federação, de acordo com a porta-voz, para que não se atrapalhe a chapa que está sendo formada para as disputas por vagas na Câmara. "Muitos dos estados não querem." Com a federação, os partidos deverão dividir o total de candidaturas permitidas por estado, diminuindo os espaços para seus filiados.
A Rede estabeleceu que, até janeiro, precisará ter uma definição sobre esse tema. Se passar desse período, o processo de formação das chapas para a Câmara pelo país ficaria prejudicado.
"Pequeno, mas de grandes feitos"
A expectativa no partido é que o "resultado de 2022 será melhor que o de 2018", como avalia Diógenes, apostando também na migração de deputados de outros partidos para a Rede. "E eu posso dizer que não é só um nem dois."
Mesmo tendo encolhido no Senado, as lideranças da Rede dizem que o partido conseguiu se mostrar como "necessário". Para sustentar esse argumento, além da atuação de seus parlamentares, são citadas as ações movidas pelo partido no STF (Supremo Tribunal Federal) contra o governo de Jair Bolsonaro (PL), como o do "passaporte da vacina".
Outro ponto é o do número de filiados. "Apesar de tudo, a Rede cresceu nesse período", diz Mariana Lacerda, porta-voz do partido em São Paulo. Em 2018, eram cerca de 23,8 mil filiados. Hoje, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) aponta que eles já passam de 33,6 mil. "Mesmo parecendo para algumas pessoas que é o 'fim do sonho programático', eu acho que não", diz Mariana.
"A gente que esquece que a Rede tem seis anos. Faça uma retrospectiva e veja qual partido que, na sua segunda eleição geral, elegeu cinco senadores, com pessoas vindo de fora da política", completa a líder estadual. "Acho que a Rede sofre uma expectativa das pessoas de que somos um partido consolidado, e não somos. Somos um partido pequeno, de grandes feitos."
Quando completar 10 anos, a Rede deve fazer uma avaliação sobre o partido. Heloisa diz que, quando o momento chegar, caso os filiados entendam "que seja melhor ficar como movimento e não como estrutura partidária, a gente toma essa decisão também". "Se não der, não deu. Todo mundo continua lutando." Mas há esperança em vencer a batalha "dificílima" contra a cláusula de barreira.
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