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Joel: Proibir Bolsonaro de usar 'lepra' é erro; mudança vem da educação

Do UOL, em São Paulo

18/01/2022 12h40Atualizada em 18/01/2022 15h25

Para o comentarista do Canal UOL Joel Pinheiro a decisão do juiz Fabio Tenenblat, da 3ª Vara Federal do Rio de Janeiro, de proibir o presidente Jair Bolsonaro (PL) de usar o termo "lepra" e seus derivados, é um erro. Joel considera que o termo "lepra" é mais conhecido pela população e o uso da palavra hanseníase deveria ser aprendido nas escolas, através da educação, em vez de ser imposto na determinação do magistrado.

A decisão é do último sábado (15) e vale não só para o chefe do Executivo federal, mas para todos os representantes da União.

A ordem do magistrado ocorre após ação movida pelo Morhan (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase). A entidade foi à Justiça depois que Bolsonaro fez um discurso usando o termo "lepra".

"Vocês lembram lá, quem lê a bíblia, já assistiu o filme daquela época, da época de Cristo, quando ele nasceu. O grande mal daquele momento era a lepra. O leproso era isolado, distância dele. Hoje em dia temos lepra também. Continua, mas o mundo não acabou naquele momento", disse o presidente em discurso realizado em Santa Catarina.

A gente tem que pensar como a mudança social deve ser efetuada. O termo 'lepra' carrega uma dose de preconceitos, ideias de muito tempo atrás, porque não é à toa que a lepra aparece tão forte na Bíblia. Era uma doença que uma vez que a pessoa pegou, ela estava condenada, tinha que ser separada para não passar para os outros. É por isso que cada vez mais as pessoas optam pelo termo hanseníase, que é um termo mais técnico e não traz essa carga.
Joel Pinheiro no UOL News

E continuou: "Proibir o presidente de falar isso em documento oficial da saúde, é óbvio, você tem que usar os termos técnicos da doença. Agora, em um discurso, em que o presidente busca usar uma palavra que as pessoas entendam... Quanto da população brasileira já sabe que a hanseníase é a tal da lepra?".

O comentarista declarou ainda achar um "erro" a decisão do juiz Fabio Tenenblat e comentou que Bolsonaro fez o uso de uma palavra que o público ao qual ele se referia iria entender.

"Proibir, mesmo na manifestação popular, eu acho um erro. Acho que a mudança tem que vir pela educação, pela mudança gradual, pelo exemplo e não buscando proibir uma fala que só seria compreendida se ele usasse esse termo mesmo."

Apesar de considerar a decisão do magistrado errada, Joel ressaltou que a comparação feita por Bolsonaro ao usar o termo "lepra" foi uma "idiotice".

"O ponto dele era uma completa idiotice. Mas para ele fazer esse ponto que ele está querendo, de que ele acha errado o isolamento [social contra a covid]. Se ele quiser usar essa imagem é lepra, concorda? Se ele falasse hanseníase, para a maior parte dos ouvintes dele, nada ia ser compreendido. Eu acho importante a gente se mover como sociedade para deixar de lado uma palavra que traz uma carga tão pesada porque estigmatiza pessoas que tem uma doença como tantas outras. Agora, a mudança não vem de você aplicando multa em quem fala 'lepra'", concluiu.

O que é a hanseníase

A hanseníase é uma doença crônica e que tem como agente etiológico o bacilo Micobacterium leprae. A infecção por hanseníase pode acometer pessoas de ambos os sexos e de qualquer idade, mas é de difícil transmissão, já que é necessário um longo período de exposição à bactéria, motivo pelo qual apenas uma pequena parcela da população infectada chega a adoecer.

A doença é transmitida pelas vias áreas superiores (tosse ou espirro), por meio do convívio próximo e prolongado com uma pessoa doente sem tratamento. A doença apresenta ainda um longo período de incubação, ou seja, há um intervalo, em média, de dois a sete anos, até que os sintomas se manifestem.

A hanseníase provoca alterações na pele e nos nervos periféricos, podendo ocasionar, em alguns casos, lesões neurais, o que gera níveis de incapacidade física.

*Com informações da Agência Brasil