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Partido de Bolsonaro tem de Tiririca e pastor a líder da bala no Congresso

O cacique do PL, Valdemar da Costa Neto, e Jair Bolsonaro (ambos no centro) durante filiação do presidente ao PL - Divulgação/PL
O cacique do PL, Valdemar da Costa Neto, e Jair Bolsonaro (ambos no centro) durante filiação do presidente ao PL Imagem: Divulgação/PL

Luciana Amaral e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

21/01/2022 04h00

O PL chegará às eleições de outubro deste ano não só como a nova "casa" do bolsonarismo, mas também como um partido que tem em suas fileiras candidatos com perfis distintos entre si.

Destacam-se, por exemplo, o comediante Tiririca, o pastor Marco Feliciano e o policial militar e líder da bancada da bala na Câmara, Capitão Augusto —todos eleitos deputados por São Paulo em 2018.

Fortalecida pela filiação do presidente, e provável candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, a agremiação do "centrão" disputará o pleito em condições de se tornar a maior bancada na Câmara dos Deputados.

Chefiado por Valdemar Costa Neto, condenado e preso no mensalão, o PL atualmente tem 43 parlamentares na Câmara (perdendo em número de deputados apenas para o PT, com 53, e para o PSL, com 55). Na próxima eleição, quer obter de 50 a 70 das 513 cadeiras da Câmara federal, segundo projeções da cúpula partidária.

Composição eclética

Além de um numeroso grupo de candidatos leais a Bolsonaro e alinhados ao ideário do atual presidente, o PL deve chamar a atenção durante as eleições pela composição, no mínimo, eclética.

Essa é uma característica que pode, de acordo com avaliações internas, ajudar a obter votos fora do espectro político conservador e de extrema-direita —onde o atual presidente da República já possui prevalência.

Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca —ex-palhaço que ganhou fama como cantor e com participações em programas humorísticos na TV—, tende a atrair o chamado "voto popular". Em 2010, ano em que foi eleito pela primeira vez, o então candidato teve 1,3 milhão de votos em São Paulo e foi, na ocasião, o deputado mais votado do país.

Tiririca na Câmara dos Deputados - Nilson Bastian/Câmara dos Deputados - Nilson Bastian/Câmara dos Deputados
Tiririca na Câmara dos Deputados
Imagem: Nilson Bastian/Câmara dos Deputados

Quatro anos depois, Tiririca se firmou como um "puxador de votos" ao ser reeleito com mais de 1 milhão de votos e, de acordo com as regras de quociente eleitoral, conseguiu incluir outros dois candidatos para a lista de eleitos —à época, a agremiação se chamava PR, Partido da República. Em 2018, ele triunfou pela terceira vez, porém com menos votos: 445.521.

Frente evangélica

Feliciano - Evaristo Sá/AFP - Evaristo Sá/AFP
10.jul.2019 - Jair Bolsonaro ao lado do deputado pastor Marco Feliciano
Imagem: Evaristo Sá/AFP

Marco Feliciano, que é aliado a Bolsonaro, mas possui carreira política consolidada antes da ascensão do atual presidente, tem diálogo ativo com o eleitorado evangélico. O político é pastor e considerado uma liderança para parte dessa parcela da sociedade. No total, o PL tem mais de dez nomes que formam a Frente Parlamentar Evangélica, e a maioria deve concorrer à reeleição.

Uma das integrantes do grupo em prol dos evangélicos no Congresso é a ministra da Secretaria de Governo e deputada licenciada, Flávia Arruda (PL-DF). Apoiada pelo marido, o ex-governador cassado do DF José Roberto Arruda, Flávia deve tentar uma vaga no Senado no pleito de outubro.

Além de Marco Feliciano, outros dois deputados do PL que são lideranças evangélicas ante as bases eleitorais são Pastor Gil (MA) e Lincoln Portela (MG).

"Bancada da bala"

O deputado federal e coordenador da Frente Parlamentar da Segurança Pública, Capitão Augusto (PL-SP) - Luis Macedo/Câmara dos Deputados - Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Coordenador da Frente Parlamentar da Segurança Pública, Capitão Augusto (PL-SP)
Imagem: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Outro segmento que possui forte incidência no Partido Liberal é o da segurança pública. A Frente Parlamentar da Segurança Pública, conhecida como a "bancada da bala", é liderada pelo deputado federal Capitão Augusto e tem ao menos outros 30 correligionários em sua formação.

Policial militar assim como Capitão Augusto, a deputada Kátia Sastre (PL-SP) foi eleita após se tornar conhecida por reagir a um assalto em frente à escola onde a filha, então com sete anos, estudava e matar o assaltante em Suzano, em 2018.

Outro deputado do PL que se elegeu com a bandeira da segurança pública até no nome foi Capitão Fábio Abreu (PI), policial e ex-secretário estadual de Segurança Pública do Piauí.

"Bancada do boi"

A Frente Parlamentar da Agropecuária, conhecida como a "bancada do boi", também tem representantes do PL em seu alto escalão.

Embora a frente seja uma das maiores da Câmara dos Deputados, englobando parlamentares de quase todas as siglas existentes, os integrantes do PL Zé Vitor (MG), Vicentinho Júnior (TO) e Luiz Nishimori (PR) são nomes de relativo maior destaque.

Partido de filho de Bolsonaro e do Romário

O PL é também um tanto eclético na sua composição no Senado. Ao mesmo tempo em que abriga o filho 01 do presidente Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro (RJ), o partido é a "casa" do ex-jogador de futebol Romário (RJ).

Romário - GettyImages - GettyImages
Senador Romário
Imagem: GettyImages

Os outros senadores do PL são Jorginho Mello (SC), que se destacou como integrante da tropa de choque de Jair Bolsonaro na CPI da Covid, Wellington Fagundes (MT) e Carlos Portinho (RJ).

Os dois primeiros são voltados mais ao eleitorado do setor agropecuário. Advogado atuante na vida política do Rio, Portinho era o primeiro suplente do senador Arolde de Oliveira (PSD-RJ), falecido devido a complicações da covid-19 em outubro de 2020.

Dissidente

Sem espaço no PL após a filiação de Bolsonaro, o vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos (AM), acertou a sua saída da legenda. Segundo ele, o divórcio foi "amigável".

A ruptura ocorreu porque o deputado se apresenta como um opositor ao presidente da República. Após conversas com Valdemar Costa Neto, cacique da sigla, as partes concordaram que sua permanência no partido seria "incompatível".

Atual PL é fruto de fusão com Prona

O atual PL é fruto da fusão do antigo PL com o Prona (Partido de Reedificação da Ordem Nacional).

Com a junção dos partidos, sua direção alterou o nome da legenda para PR (Partido da República), em 2006. A volta para PL foi possível em 2019, quando o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) permitiu a mudança.