Topo

PSD ameaça barrar escolhido por Bolsonaro à liderança do governo no Senado

Suplente de Antonio Anastasia, Alexandre Silveira foi convidado para assumir a liderança do governo no Senado - PSD-MG/Divulgação
Suplente de Antonio Anastasia, Alexandre Silveira foi convidado para assumir a liderança do governo no Senado Imagem: PSD-MG/Divulgação

Luciana Amaral e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

27/01/2022 04h00Atualizada em 27/01/2022 11h38

O PSD ameaça barrar o escolhido do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao cargo de líder do governo no Senado, Alexandre Silveira (PSD-MG), devido a divergências internas no partido.

Já há quem fale no PSD que, se Silveira quiser tanto a liderança do governo, deve se desfiliar do partido, do qual compõe a Executiva Nacional.

Silveira foi convidado para assumir a liderança do governo neste mês e, oficialmente, diz ainda não avaliar a proposta por nem ter tomado posse como senador. Ele é suplente de Antonio Anastasia (PSD-MG), que está de saída do Senado para ser ministro do TCU (Tribunal de Contas da União). A expectativa é que isso aconteça nos primeiros dias da volta do recesso parlamentar, a partir de 2 de fevereiro.

O convite repercutiu negativamente em parte da bancada de senadores do PSD, apurou o UOL. Em especial, entre quem está ao lado da oposição ao governo Bolsonaro, com o mandato na Casa terminando e com pretensão de sair candidato nas eleições de outubro.

Por exemplo, Otto Alencar (BA) e Omar Aziz (AM): o primeiro deve seguir aliado ao PT na Bahia, já o segundo foi presidente da CPI da Covid, maior percalço para o governo federal no Senado ao longo de 2021.

Candidatura de Pacheco

Rodrigo Pacheco - Pedro Gontijo/Ag. Senado - Pedro Gontijo/Ag. Senado
Rodrigo Pacheco é pré-candidato à Presidência da República pelo PSD
Imagem: Pedro Gontijo/Ag. Senado

Outro ponto que joga contra Silveira assumir a liderança do governo é a pré-candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), à Presidência da República. Silveira é muito próximo de Pacheco, mas assumir o cargo significaria enterrar qualquer pretensão do PSD ao Executivo federal.

O presidente do Senado aparece nos últimos lugares de pesquisas de intenção de voto e não se vê um esforço público dele em articular a pré-candidatura, ao contrário de eventuais adversários, como Lula (PT), Sergio Moro (Podemos), Simone Tebet (MDB) e o próprio Jair Bolsonaro.

A expectativa é que ele desista de concorrer ao Planalto, mas, enquanto ele não oficializa o recuo, a pré-candidatura segue sendo um fator que atrapalha os planos de Silveira.

Um senador do PSD, sob reserva, disse avaliar que, se o partido ceder um parlamentar para ser líder do governo, a sigla passará a ser "taxada de 100% governista", e isso não é algo desejável hoje, ainda mais no último ano de mandato de Bolsonaro.

Qualquer decisão também precisa passar pelo referendo do presidente do PSD, Gilberto Kassab, que busca uma maneira de manter o partido como peça importante nas articulações para o pleito de outubro.

Gilberto Kassab - Divulgação - Divulgação
Gilberto Kassab, presidente do PSD
Imagem: Divulgação

A reportagem apurou que Alexandre Silveira ainda não se reuniu pessoalmente com o líder do PSD no Senado, Nelsinho Trad (MS), para discutir o assunto. A previsão é que a bancada na Casa tenha reuniões se aprofundar no tema a partir de 1º de fevereiro.

Saída do PSD cogitada

Segundo senadores do PSD afirmaram à reportagem, Silveira tem pretensão de se candidatar ao Senado em outubro —o mandato a ser herdado de Anastasia termina neste ano— e, para tanto, a depender da conveniência, pode topar se desfiliar do PSD para ser líder e, assim, tentar ganhar tração para a campanha eleitoral.

Alexandre Kalil - Divulgação/Coligação Coragem e Trabalho - Divulgação/Coligação Coragem e Trabalho
Alexandre Kalil, prefeito de Belo Horizonte
Imagem: Divulgação/Coligação Coragem e Trabalho

Silveira é intimamente ligado ao PSD e próximo ao pré-candidato ao governo de Minas Gerais pelo partido, o atual prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), segundo relatos.

Ainda assim, senadores do PSD não descartam que ele concorra como candidato de perfil mais bolsonarista com apoio do adversário de Kalil e atual governador do estado, Romeu Zema (Novo), caso deixe o partido.

Planalto já vê Silveira envolvido com governo

Auxiliares do presidente Jair Bolsonaro admitem que o PSD pode ser um entrave para a liderança nas mãos de Silveira, mas destacam que o futuro senador está pessoalmente envolvido na PEC dos Combustíveis justamente por avaliar que poderá ter ganhos políticos com a medida.

Além disso, no Planalto, Silveira é apontado como alguém que conseguiu conquistar a confiança de diversos ministros do governo e que, pessoalmente, já estaria envolvido com a gestão de Bolsonaro no último ano.

O nome de Silveira para o posto da liderança no Senado teve aval de pelo menos seis ministros: Paulo Guedes (Economia), João Roma (Cidadania), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), Bento Albuquerque (Minas e Energia), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo).

Além disso, a indicação contou com o apoio do senador Flávio Bolsonaro (PL), filho do presidente da República.

A função de líder do governo no Senado está vaga desde a saída de Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) em meados de dezembro passado. Ele deixou a liderança do governo ao perder a votação interna ao cargo de ministro do TCU para Anastasia.

Silveira foi deputado federal por dois mandatos e já dirigiu o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Advogado de formação e delegado, o político também tem a simpatia de Bolsonaro por ser policial.

Fernando Bezerra - Twitter/Fernando Bezerra - Twitter/Fernando Bezerra
Fernando Bezerra fala ao microfone; ao fundo, Antonio Anastasia
Imagem: Twitter/Fernando Bezerra