Topo

Flávio Bolsonaro defende investigar compra de fuzis e nega ter feito lobby

Igor Mello

Do UOL, no Rio

31/01/2022 13h53

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou hoje que não tinha conhecimento dos indícios de irregularidades na compra de 500 fuzis pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, viabilizada por ele junto ao Ministério da Justiça. O filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu que as revelações publicadas hoje pelo UOL sejam investigadas.

A multinacional Sig Sauer venceu a licitação para a compra do armamento. Um dos policiais responsáveis por toda a parte técnica da concorrência tem íntima relação com a empresa: o inspetor Manoel Hermida Lage é instrutor do campo de tiro da fabricante e acompanha o representante da Sig Sauer no Brasil, Marcelo Costa, em apresentações de produtos para forças policiais de outros estados, auxiliando nas vendas.

Três outras fabricantes —a brasileira Taurus e as turcas Kalekalip e MKEK— tentaram impugnar o edital de licitação apontando que diversas cláusulas limitavam a concorrência. Apesar disso, a Polícia Civil decidiu mantê-las. Especialistas avaliaram que a licitação é "viciada" e deve ser anulada.

Por meio de nota, Flávio Bolsonaro disse que não tinha informações sobre as possíveis irregularidades.

"O senador Flávio Bolsonaro afirma ainda que não tinha qualquer informação sobre indícios de irregularidades quando intercedeu pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, sabia apenas que a corporação precisava se equipar para fazer frente ao arsenal crescente do crime organizado", disse ele.

A Sig Sauer foi escolhida vencedora da licitação em julho, mas a compra só foi concretizada em dezembro, após Flávio Bolsonaro conseguir a liberação de R$ 3 milhões do Ministério da Justiça, com quem a Polícia Civil havia firmado convênio em 2019.

Flávio ainda nega que atue fazendo lobby em prol da Sig Sauer —ele e seu irmão Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) são frequentemente citados no mercado de armas como defensores dos interesses da empresa. Eduardo promove publicamente produtos e atuou para viabilizar a parceria entre a multinacional e a estatal Imbel, vinculada ao Exército, para a produção de armas no território brasileiro.

"O senador Flávio Bolsonaro não atua a favor de empresas de nenhum segmento. Seu mandato é voltado para o povo e para a agenda aprovada pelos eleitores em 2018, que pediam por mais segurança, pela defesa da vida, da moral e da pátria", afirma Flávio, em nota.

O senador defendeu que as suspeitas de irregularidades na compra sejam investigadas.

O Ministério da Justiça afirmou, em nota, que a verba foi destinada para a compra dos fuzis por meio de uma lei de 2019. Ainda segundo a pasta, a liberação deste recurso ocorreu após processo licitatório feito pelo Rio de Janeiro e analisado pelo ministério, "conforme normas que estabelecem transferências de recursos da União mediante convênios e contratos de repasse de forma pública".

Procurada pela reportagem, a Polícia Civil do Rio negou que tenha havido qualquer irregularidade na aquisição dos fuzis. A corporação defendeu a atuação de Lage na Sig Sauer, classificada por ela como "atividade de docência" e disse que as especificações do edital não direcionaram a licitação para a Sig Sauer.

Por uma semana, a reportagem tentou contato com Marcelo Costa, representante da Sig Sauer, por ligações e mensagens de WhatsApp, mas ele não respondeu.

O UOL também fez contato com Manoel Lage por meio de seu perfil no Instagram. O policial visualizou as mensagens, mas não respondeu. A reportagem pediu à assessoria de imprensa da Polícia Civil do Rio uma entrevista com ele, mas não houve retorno.