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Bolsonaristas querem incluir Olavo de Carvalho em livro de heróis da pátria

Olavo de Carvalho em sua casa, na Virginia (EUA), em 2017 - Vivi Zanatta/Folhapress
Olavo de Carvalho em sua casa, na Virginia (EUA), em 2017 Imagem: Vivi Zanatta/Folhapress

Luciana Amaral e Anna Satie

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

03/02/2022 15h08Atualizada em 03/02/2022 15h50

Deputados federais bolsonaristas apresentaram projetos de lei para incluir o escritor Olavo de Carvalho no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

O documento busca homenagear pessoas que se destacaram na história do Brasil, especialmente em relação à democracia e liberdade, e é considerado como uma peça importante para a preservação da memória nacional.

O autointitulado filósofo e "guru" da família do presidente Jair Bolsonaro (PL), ao menos até meados do atual governo, morreu aos 74 anos, nos Estados Unidos, em 24 de janeiro deste ano. A causa da morte não foi informada. Ele vinha enfrentando problemas de saúde e havia contraído covid-19 cerca de 10 dias antes de morrer.

Foram protocolados dois projetos ontem com o mesmo objetivo. Um deles é de autoria de Bia Kicis (PSL-DF). O outro é assinado por nove parlamentares, todos do PSL: Carla Zambelli (SP), Luiz Philippe de Orleans e Bragança (SP), Carlos Jordy (RJ), Junio Amaral (MG), Filipe Barros (PR), Coronel Tadeu (SP), Major Fabiana (RJ), Sanderson (RS) e Daniel Silveira (RJ).

Este último chegou a ser afastado do mandato e a ficar preso após dar declarações que foram consideradas como ameaças ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Ambos os documentos dizem que o guru bolsonarista merece a homenagem por ter sido "um dos mais originais e audaciosos pensadores brasileiros". A repetição não é coincidência: os dois projetos contém trechos copiados na íntegra da biografia no site de Olavo.

O livro de Heróis e Heroínas da Pátria, ou Livro de Aço, fica no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na praça dos Três Poderes em Brasília. Nele, estão escritos nomes da história brasileira, como Tiradentes, Zumbi dos Palmares, Chico Mendes, Machado de Assis e Heitor Villa-Lobos. São, ao menos, 52 homenageados — outras personalidades tiveram a inclusão sancionada, mas a gravação de seus nomes no livro ainda não foi noticiada.

Para fazer parte da coletânea, é preciso que o projeto de lei com o pedido de inclusão seja aprovado pelo Senado e a Câmara dos Deputados. Na lista de espera, há candidatos como o piloto Ayrton Senna e o político Enéas Carneiro, que foram sugeridos pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), inclusive. A inclusão de Enéas também conta com o apoio de Jair Bolsonaro (PL), da época em que era deputado federal.

A inclusão do nome também só pode ocorrer ao menos 10 anos depois do falecimento do homenageado.

Olavismo sobrevive no 2º escalão do governo

No primeiro ano de mandato de Bolsonaro, os olavistas tinham força para indicar ministros, endossar ou contestar alianças e interferir diretamente no jogo político. No entanto, desde o começo de 2020 está em curso um processo de esvaziamento impulsionado —e consolidado— pela aproximação entre o presidente e o centrão, hoje base do Executivo federal no Parlamento.

Dentro do Palácio do Planalto, por exemplo, onde o núcleo ideológico já ditou cartas, são poucos os que ainda dizem ter inspiração nos escritos do autoproclamado filósofo.

Um deles é Filipe Martins, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais. Ele quase foi demitido mais de uma vez, se envolveu em episódio no qual foi acusado de de fazer um gesto visto como referência a supremacistas brancos dentro do Senado (o processo terminou com a sua absolvição), e é visto com desconfiança por ministros militares. Porém, mantém-se vivo no entorno da cúpula presidencial, embora sem a força de antes.

A maioria dos remanescentes ocupa cargos de segundo e terceiro escalões, como secretarias. É o caso de Felipe Pedri, chefe da Secretaria Nacional de Audiovisual, pasta que faz parte da polêmica gestão do ex-ator Mario Frias (também "olavista") à frente da Secretaria de Cultura.

A destinação de cargos de segundo e terceiro escalão para olavistas é uma herança do período em que ministérios do governo Bolsonaro eram chefiados por quadros com esse perfil, tais como Abraham Weintraub (Educação), Ernesto Araújo (Itamaraty) e Ricardo Salles (Meio Ambiente).

Quem também ajudou a inserir quadros "olavistas" na estrutura de poder público federal foi Onyx Lorenzoni, hoje ministro do Trabalho.

Desde os meses pré-pandemia, aos poucos, Bolsonaro passou a substituir os ministros olavistas por quadros com um perfil mais "tradicional", ligados ao centrão e acostumados às articulações inerentes ao jogo político.